Tags:, , , , , ,

200 anos em pauta

- 12/06/2011

A História do jornalismo impresso baiano: da criação do Idade D’Ouro à veiculação do Massa

Por Gisele Santana e Naiana Madureira

Em dois séculos de existência, completados em 14 de maio de 2011, a imprensa baiana, passou por transformações; lutou contra a censura; inovou em aspectos gráficos e editoriais; viveu momentos de ascensão, quando a cada dez anos eram lançados novos periódicos. Hoje, o número de jornais impressos em circulação no estado é pequeno e ainda há o desafio de sobreviver e lidar com o avanço de uma nova plataforma para o jornalismo: o meio online.

Para homenagear o bicentenário da imprensa na Bahia, construímos a trajetória dos principais jornais que marcaram a história da imprensa baiana. Descubra quais foram as principais transformações que ocorreram nestes 200 anos de jornalismo e como eram constituídos os jornais de acordo com os cenários e realidades de cada época.

Século XIX: Nasce a imprensa baiana

1ª edição da Gazeta Idade D’Ouro do Brazil/ Foto: Arquivo Público da Bahia

Pode-se dizer que a imprensa não oficial brasileira nasceu na Bahia, com a criação da primeira tipografia e do primeiro periódico não oficial impresso no Brasil, o Idade d’Ouro do Brazil, ambos fundados em 1811, por Manuel Antônio da Silva Serva. Antes disso, havia o Correio Braziliense (julho, 1808-1822), de ideais libertários, editado por Hipólito José da Costa em Londres e enviado clandestinamente para o Brasil; e a Gazeta do Rio (setembro, 1808-1822) representada como um órgão oficial do governo português.

A gazeta Idade d’Ouro do Brazil (1811-1823), trazia a nota explicativa em seus exemplares: “com permissão do governo”, tinha quatro páginas e circulava às terças e sextas-feiras, sob o lema: “Falae em tudo verdades, a quem em tudo as deveis”. As matérias eram assinadas por dois portugueses, o padre Ignacio Macedo e o bacharel Diogo Bivar, que eram fiéis à Corte e contra a independência política brasileira.

Dez anos depois, surge o Diário Contitucional, com linha editorial contrária ao Idade d’Ouro. Durante lançamento da terceira edição do livro Primeira Gazeta da Bahia: Idade d’Ouro do Brazil, a  historiadora portuguesa, Maria Beatriz Nizza da Silva, disse que o Diário Constitucional surgiu na época em que começava a vigorar a lei de liberdade de imprensa. “O periódico defendia o conceito de Reino unido, sem a sujeição do Brasil a Portugal. Não fosse o controle da censura, este Diário nunca poderia ter circulado pelo país”.

Em 1875, Manuel Lopes Cardoso cria a chamada “imprensa barata”, com a fundação do jornal Diário de Notícias da Bahia. Segundo o jornalista e professor Luís Guilherme Pontes Tavares, especialista em história de impressos na Bahia, o Diário de Notícias visava alcançar um público maior e por isso teve um ajuste de linguagem e de preço para incorporar novos leitores. Além disso, a invenção do telégrafo ajudou a divulgar notícias do exterior com muito mais rapidez.

Século XX: A força política nos jornais baianos

A trajetória da imprensa na Bahia foi marcada por sua ligação com a política durante muitos anos, desde os tempos de serviço à Coroa Portuguesa com o surgimento da primeira gazeta, Idade d’Ouro do Brazil, até os tempos carlistas de controle e censura do Correio da Bahia, que circulou com este nome até 2008, quando ocorreu uma reforma editorial no veículo. Em artigo publicado pela Associação Baiana de Imprensa, em 1980, o ex-governador e jornalista, Luiz Viana Filho, dizia que os jornais do século XIX eram um segundo degrau para a vida pública.

Quando o A Tarde surgiu em 1912, fundado pelo advogado e político Ernesto Simões Filho, a partir de capital individual, essa ligação direta entre jornalismo e política começou a se romper. É a partir do surgimento do A Tarde que o jornal na Bahia passa a se instituir como empresa e vender informação. Na atualidade, é o jornal mais antigo em circulação no estado.

Livro conta a história da Tribuna da Bahia/ Foto: Gisele Santana

Em 1958, nasce um dos capítulos mais controversos da história da imprensa baiana, quando João Falcão, após afastar-se do Partido Comunista, funda o Jornal da Bahia, também conhecido como JBa. O propósito de seu trabalho era criar um jornal livre de influências partidárias que dominavam a imprensa na época. Entre o fim de 1968 e março de 1975, o JBa passa a ser perseguido pelo então prefeito e governador da Bahia, Antonio Carlos Magalhães (ACM). Em 1990, a direção do jornal passa para as mãos do ex-prefeito de Salvador, Mário Kertész, em aliança com ACM, até então seu desafeto. A partir daí, o JBa fica conhecido por seu conteúdo sensacionalista, com foco em notícias que envolviam violência e sexualidade, até 1994, quando para de circular.

Em plena época da ditadura militar, no ano de 1969, surge a Tribuna da Bahia, criado pelo empresário Elmano Silveira Castro e pelo jornalista José Quintino de Carvalho. A Tribuna revolucionou a imprensa baiana por inovar em recursos gráficos e na linguagem, com textos leves e diretos. Nove anos depois, nasce o Correio da Bahia , jornal que faz parte do grupo Rede Bahia, pertencente à família de Antonio Carlos Magalhães. O jornal foi criticado durante muito tempo pela abrangência de conteúdo político focado na defesa partidária e no carlismo. O último jornal implementado na década de 90, foi o Bahia Hoje, que por falta de recursos durou apenas quatro anos (1993-1997).

Século XXI: Bahia carece de novos impressos

Jornal Metrópole/Foto: Divulgação

Após a criação do Bahia Hoje demorou quinze anos até que ocorresse alguma novidade no cenário do jornalismo impresso baiano. A primeira década do século XXI é marcada, em 2008, pela reformulação gráfica e editorial do Correio da Bahia, que passa a se chamar apenas Correio*; e a criação do Jornal da Metrópole, semanário gratuito, criado por Mário Kertész, que circula às sextas-feiras nos principais pontos comerciais de Salvador. Para concorrer com a nova linha editorial popular do Correio*, o Grupo A Tarde de Comunicação, lança em outubro de 2010 o Massa! , jornal voltado para as classes C e D.

Hoje, os principais jornais em circulação no estado são o Correio*, A Tarde e Tribuna da Bahia, respectivamente. A disputa pela liderança está entre os dois primeiros. A Tribuna não entra na briga porque tem uma tiragem menor, de 29.500 exemplares, contra 47.500 do A Tarde e 56.500 do Correio*. Depois de décadas de liderança do  A Tarde, o Correio conseguiu ultrapassá-lo após sua reformulação. Segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC), o Correio* teve um crescimento de 117,43% na sua tiragem ao longo do último ano, contra 15,52% do A Tarde.

A escassez de jornais impressos na Bahia preocupa profissionais e especialistas em história da imprensa baiana. Entre eles, está o pesquisador Luís Guilherme Pontes Tavares. Ele explica que até a década de 50 o estado recebia um jornal novo a cada dez anos, enquanto hoje quase não se tem renovação nos impressos. O vice-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Ernesto Marques, lamenta a situação: “Hoje temos menos de 20 jornais diários na Bahia, o que é um absurdo! Nesse ponto nossa imprensa é medíocre”.

O pesquisador Luís Guilherme Pontes Tavares vai além: “Sob as perspectivas de ampliação do mercado de trabalho, ampliação no espaço de opinião e de novos olhares sobre a realidade da Bahia, nós estamos precisando de um novo jornal. Que venha um novo jornal!”.

Continue lendo:

Marcos e modos de produção dos jornais na Bahia

Jornais e jornalistas baianos em tempos de convergência midiática

Publicações investigam a história do jornalismo baiano

Seminário comemora bicentenário da imprensa baiana

EDIÇÃO 2022.2

A invisibilidade que nos cerca

De que perspectiva você enxerga o que está ao seu redor? A segunda edição de 2022 do Impressão Digital 126, produto laboratorial da disciplina Oficina de Jornalismo Digital (COM 126) da FACOM | UFBA, traz diferentes ângulos jornalísticos sobre o que nos marca enquanto sociedade, especialmente àquilo que fazemos questão de fingir que não existe. […]

Turma 2022.2 - 07/12/2022

De R$ 4,90 para R$ 5,20

Aumento da tarifa de ônibus em Salvador afeta rotina de estudantes universitários

Estudantes relatam dificuldades criadas pelo aumento do valor da passagem de ônibus em Salvador O aumento de trinta centavos no valor da passagem de ônibus em Salvador (R$4,90 para R$5,20), anunciado de maneira repentina pela Prefeitura, entrou em vigor no dia 13 de novembro. Tal medida vem prejudicando o cotidiano dos estudantes, especialmente aqueles que […]

Jessica Santana, Laura Rosa, Lucas Dias, Lucas Mat - 07/12/2023

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Bahia é terceiro estado com maior número de partos em menores de idade

Estado registrou 6.625 partos em mulheres de até 17 anos; especialistas apontam falta de acesso à educação sexual como um dos principais motivadores Defendida por parte da sociedade e rechaçada por outra parcela, a educação sexual nas escolas é um tema que costuma causar polêmica quando debatido. Ainda assim, seu caráter contraditório não anula o […]

Larissa A, Lila S., Luísa X., Patrick S - 07/12/2023

catadores da cooperativa Canore reunidos

Desenvolvimento sustentável

Racismo Ambiental em Salvador e Economia Circular

Entenda como esse modelo de produção une sustentabilidade, cooperativas de reciclagem e a luta contra as desigualdades sociais Em meio à crise das mudanças climáticas, a cidade de Salvador tem registrado temperaturas maiores do que a média histórica, chegando a sensações térmicas acima dos 34ºC. Para combater os efeitos do aquecimento global, organizações e iniciativas […]

Anna Luiza S., Jackson S., Luiza G. e Pedro B. - 06/12/2023

Na imagem, uma mulher de blusa verde segura uma cesta com plantas medicinais em frente a uma barraca laranja que tem outras plantas e bananas

Desenvolvimento Sustentável

Feira une produção e consumo sustentáveis na UFBA

Realizada às sextas-feiras, Feira Agroecológica da UFBA se torna elo de ligação entre pequenos produtores e consumidores em busca de alimentação saudável A Feira Agroecológica da Universidade Federal da Bahia – apelidada carinhosamente de “Feirinha” – é um projeto de extensão do componente curricular “BIOD08 – Comercializando a Produção Agroecológica”, ministrado no Instituto de Biologia […]

Celso Lopez;Daniel Farias;Jade Araújo;Melanye Leal - 06/12/2023