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Aumento da tarifa de ônibus em Salvador afeta rotina de estudantes universitários
Jessica Santana, Laura Rosa, Lucas Dias, Lucas Mat - 07/12/2023Estudantes relatam dificuldades criadas pelo aumento do valor da passagem de ônibus em Salvador
O aumento de trinta centavos no valor da passagem de ônibus em Salvador (R$4,90 para R$5,20), anunciado de maneira repentina pela Prefeitura, entrou em vigor no dia 13 de novembro. Tal medida vem prejudicando o cotidiano dos estudantes, especialmente aqueles que vivem em locais distantes do centro da cidade.
A iniciativa, inclusive, já foi alvo de protestos. No mesmo dia em que a medida passou a valer, militantes do movimento estudantil protestaram na Estação da Lapa contra o aumento da passagem. As principais problemáticas apresentadas foram sobre a má qualidade dos serviços prestados e das dificuldades no cumprimento de horários, além da superlotação e das condições físicas dos veículos.
A prefeitura argumenta que está subsidiando parte dos custos do transporte público em R$205 milhões. O aumento da passagem estaria ligado à renovação da frota. Sobre isso, o secretário de mobilidade Fabrizzio Muller destacou: “É uma obrigação contratual reajustar a tarifa repassando aumento da inflação, aumento dos insumos. Isso já justifica o reajuste. O que a Prefeitura está fazendo é absorvendo uma parte desse aumento depois de 1 ano e 8 meses sem reajuste. A prefeitura está assumindo parte do custo tarifário e já informou que no próximo ano não haverá aumento.”
Já o doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenador do Observatório da Mobilidade de Salvador, professor Daniel Caribé, defende um modelo de mobilidade integrado e voltado para o povo: “É preciso refazer todo o planejamento da mobilidade soteropolitana, com participação social, consultas e um novo modelo de contratação, remunerando os operadores pelos custos do sistema, não deixando à cargo da prefeitura a definição das linhas e da frequência delas”.
Em um levantamento feito pelo portal G1 Bahia em 2022, Salvador já liderava o ranking de capital nordestina com a tarifa de ônibus mais cara, com R$ 4,90. Com o último reajuste agora em Novembro de 2023, a capital soteropolitana continua tendo o transporte público mais caro da região Nordeste, com R$ 5,20.
O aumento de 6,12% é inacessível para a maioria dos usuários de transporte público, principalmente os estudantes universitários que cinco vezes por semana se deslocam entre suas residências, faculdade e, na maioria dos casos, estágios. Em entrevista, a estudante de Jornalismo da Ufba Rosana Vieira, de 26 anos que mora na Cidade Baixa, no bairro da Ribeira, conta a sua rotina de usar ônibus e como recebeu a notícia do aumento da tarifa: “Eu estava acompanhando as notícias sobre o estado de greve dos rodoviários e, no fundo, no fundo, eu acredito que a maioria das pessoas que estavam acompanhando as notícias já sabia que a consequência seria o aumento da tarifa dos ônibus. É um impacto significativo em relação à questão financeira, principalmente para quem é estudante, eu como estudante e também estagiária.”
Assim como Rosana, a maioria dos soteropolitanos depende do ônibus, porém o debate sobre a gestão do transporte público é sempre decidido por uma minoria de empresários e gestores que nunca dependeu de ônibus para se locomover. Não há sequer respostas contundentes sobre o porquê aumentar a tarifa em uma porcentagem maior do que a da própria inflação.
Com a tarifa de R$ 5,20 a estudante universitária Rosana critica a qualidade do serviço de transporte público, com problemas de superlotação, precariedade, frotas reduzidas e entre outros.
E a gente como usuário não entende esse valor absurdo de transporte de R$5,20, porque o serviço é precário, é de má qualidade. Os ônibus demoram 30/40 minutos, 1 hora e os usuários ficam nos pontos de ônibus vulneráveis, sem segurança, sem um ponto de ônibus adequado por conta de sol e de chuva. E o transporte demora muito. Ônibus quebrados também, quando a gente passa no meio do caminho superlotado. Super lotados e acaba que os usuários tem que descer do ônibus superlotado porque não vem um atrás para suprir aquela demanda e são colocados em outro transporte que também já está superlotado.
Já Bianca Souza, de 25 anos, também estudante de Jornalismo da Ufba que mora na região metropolitana de Salvador, Lauro de Freitas, conta como algumas transformações do transporte público reduziram o tempo de percurso de casa até a universidade: “Quando eu comecei a utilizar o metrô, uma viagem que eu fazia em duas horas, reduziu para cinquenta minutos ou no máximo uma hora.”
Reconhecendo algumas melhorias no transporte público, Bianca acrescenta: “Teve a implantação do ar-condicionado, que foi uma melhora. Mas a espera em alguns trechos aqui de Salvador é meio problemática, porque ainda tem uma demora. E a qualidade, a gente vê que não é em trechos específicos, porque se você for para outros lugares de Salvador, você vê que tem ônibus péssimos ainda, péssima qualidade, ônibus que, assim, você vê que já devia ter uma manutenção, não devia nem estar circulando, sujos, às vezes são muito sujos. Então, não tem vantagem.”
Uma das soluções encontradas pelos estudantes universitários da Ufba, foi incluir rotas alternativas para diminuir os gastos após o reajuste de R$ 0,30:
“Eu tive que incluir, por conta desse aumento da tarifa, pegar o Busufba nesse período de fim de semestre. Esses R$ 0,30 na hora que você vai calcular em larga escala de gastos que você tem mensalmente, anualmente, é muita coisa, pesa muito, mesmo eu pagando meia passagem. Então, eu tive que incluir o Busufba, que ainda bem que não paga taxa nenhuma. Assim, ele me deixa no lugar onde eu preciso, e eu não pago a mais por essa rota”
Já a estudante de Enfermagem na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Sabrina Dourado de 20 anos, fala sobre a nova tarifa não ser condizente com a qualidade dos veículos que circulam por Salvador e reclama da superlotação dos coletivos: “O ônibus demora para chegar na estação Acesso Norte. Então, pra mim não vale a pena. Para chegar na Uneb, eu vou cedo, só que o ônibus que eu pego é Saboeiro ou Cabula. E até chegar na universidade, é muita luta porque não tem ar-condicionado e os ônibus ainda vão lotados. No período da manhã, principalmente no horário das 7 horas, é muito cheio.”
Em contrapartida, o Prefeito de Salvador Bruno Reis afirmou em coletivas de imprensa: “Esse é o menor reajuste de todos os tempos. Serei o único prefeito que teve apenas três reajustes em um único mandato. Existem contrapartidas, como a aquisição de mais ônibus mais ar condicionados, e nesse cenário estamos assumindo parte do aumento. É mais um efeito colateral da pandemia, que deixou diversos outros efeitos, e mais uma responsabilidade que nós prefeitos estamos assumindo”, explicou Bruno
Conforme as estudantes entrevistas, quem utiliza o transporte público tem dificuldades diárias, e o aumento do valor do coletivo não traz resoluções efetivas para a população. Cabe aos órgãos públicos cobrar que o reajuste seja aplicado na qualidade dos ônibus em Salvador, por liderar com R$ 5,20, o ranking de tarifas da Nordeste.