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Cresce consumo de fitoterápicos
- 11/09/2013Conheça os remédios à base de plantas distribuídos gratuitamente e as perspectivas para o segmento no país
Adriele Sousa e Yasmin do Vale
Com o aumento do poder aquisitivo das classes C, D e E no Brasil, cresce a preocupação com a qualidade de vida e saúde. Assim, o setor farmacêutico vive seu bom momento e, em particular, o segmento de fitoterápicos que ganha fôlego, uma vez que são medicamentos mais baratos, conhecidos há tempos pela população.
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa), o setor de medicamentos fitoterápicos teve crescimento de 12% em 2012, com um faturamento de R$ 2,37 bilhões. O segmento representa 3% do mercado farmacêutico total no país cujo faturamento estimado para este ano é de R$ 117,55 bilhões. Hoje, o Brasil é o nono mercado de fármacos e medicamentos do mundo. Apesar dos bons números em âmbito nacional, o estado da Bahia enfrenta desafios.
Em território baiano, a falta de uma produção de larga escala, necessária à homogeneidade no material coletado, merece atenção. Como lembra Eudes Velozo, o SUS não pode contar com extrativismo para fins de uso em larga escala e, no estado, nem as grandes fazendas, nem as de agricultura familiar se voltam para esse nicho. Também, a pouca utilização da flora local para a produção de extratos vegetais explica a origem estrangeira dos principais ativos mais comercializados como o ginkgo, biloba, valeriana, castanha-da-índia, dentre outros. “Nós ainda vivemos muito submetidos à utilização de plantas não nativas”, reconhece a farmacêutica Estela Correia, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Farmácia da UFBA. Para a legislação sanitária brasileira, fitoterápico é o “medicamento obtido com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais”.
Desta categoria não fazem parte os chás que, diferentemente do que algumas pessoas pensam, são classificados como alimentos pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). Hoje, é possível encontrar 12 medicamentos fitoterápicos fornecidos gratuitamente pelo SUS nas prateleiras das farmácias das Unidades Básicas de Saúde. Em 2007, eram apenas Maytenus ilicifolia, popularmente conhecida por espinheira santa, indicada para úlceras e gastrites; e Mikania glomerata, o guaco, usado no tratamento de gripes.
Não é difícil encontrar os usuários desses medicamentos, a exemplo de D. Ieda Machado, 59, que sempre recorre às plantas quando está doente e diz preferir os fitoterápicos aos alopáticos sintéticos. Mesmo com toda tradição de uso, o desconhecimento da população ou uso indevido de algumas espécies permanece. “Boa parte das pessoas usa o suco de maracujá acreditando ser sedativo, mas a propriedade calmante está nas folhas, e não no fruto”, alerta Eudes Velozo, vice-coordenador do Programa Farmácia da Terra, sediado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na Bahia, existem 30 espécies de maracujá e nem todas servem para acalmar, acrescenta o pesquisador.
Visando dar celeridade ao registro de fitoterápicos, a Anvisa está realizando uma consulta pública para definir uma lista desses medicamentos de modo simplificado. Contribuições podem ser feitas até 14 de outubro neste site. O projeto divide as espécies entre as que têm estudos clínicos comprovados sobre sua eficácia e segurança, os medicamentos fitoterápicos, daquelas que podem ser comprovadas pelo histórico de uso da população, chamados produtos fitoterápicos tradicionais. A criação desta categoria reforçaria a opinião de Stael Fernandes, terapeuta holística que atua em Salvador, para quem “a população desenvolve conhecimentos próprios, verdadeiros, desenvolvendo ciência para seu próprio processo de cura”.
É oportuno lembrar que, conforme as normas vigentes, médicos e odontólogos podem prescrever qualquer fitoterápico, nutricionistas e farmacêuticos indicam fitoterápicos que não necessitam da prescrição médica. Já os enfermeiros devem observar os protocolos de procedimentos para recomendar um remédio dessa natureza. Teste seus conhecimentos sobre fitoterápicos no quiz O que você sabe sobre plantas medicinais?
Incentivos – Neste ano, o Ministério da Saúde dobrou o orçamento para incentivo a projetos com plantas medicinais e fitoterápicos. Assim, são R$ 12 milhões destinados ao Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, criado em 2008. Na UFBA, Campus Anísio Teixeira, localizado em Vitória da Conquista, o estímulo governamental possibilitou a plantação e doação de mudas à população da cidade. Buscando atender os postos de saúde de Salvador, a mesma universidade vai implantar, até o final de 2013, um projeto similar na capital baiana. Para esclarecer e melhor informar a comunidade acadêmica e o público em geral, a UFBA também prevê a realização do curso gratuito “Aprendendo sobre Plantas Medicinais”, que será realizado em outubro, sob a coordenação do Instituto de Biologia.