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Transporte para o outro mundo
- 13/12/2013ID126 foi a campo conhecer de perto a rotina profissional de pessoas que trabalham em atividades geralmente pouco conhecidas que lidam diariamente com a morte.
Renata Pizane e Virgínia Vieira
A relação entre morte e infância é também o que mais sensibiliza o motorista Manoel Silva, 48, que há 18 anos dirige o veículo do Nina Rodrigues recolhendo os corpos de vítimas que falecem em hospitais, residências, vias públicas, entre outros.
“Uma vez eu chorei de madrugada após recolher o corpo de um jovem de 17 anos que foi assassinado. O irmão, que devia ter 12 anos, abraçava o corpo, chorava, gritava e dizia ‘meu irmão, meu irmão, a coisa que eu mais amo’. Eu fiquei olhando e pensando como é duro a perda. Quando eu notei, tinha uma lágrima descendo dos meus olhos”, conta.
Em um plantão de 24 horas, Manoel chega a recolher 25 cadáveres. Já houve dias em que, em menos de uma hora, recolheu seis corpos. “Tem dias que não conseguimos nem almoçar, porque nosso trabalho, às vezes, já começa com as pendências do plantão anterior e daí em diante vem outras comunicações da Centel”, explica.
A Centel (Central de Telecomunicações das Polícias Civil e Militar da Bahia) é o órgão responsável por todos os registros de ocorrências policiais no Estado. É deste órgão que parte a chamada que dá início ao trabalho de Manoel e dos peritos criminais do IML. “A partir desse momento, sabemos que em determinado local tem um óbito e que será feito o deslocamento de dois veículos, um com a equipe de peritos e o fotógrafo e o outro comigo e os auxiliares”, explica. O recolhimento de corpos pode ser dentro de Salvador, na área metropolitana e, em alguns casos, em outros municípios.
Cabe a Manoel, antes da remoção, verificar se no corpo estão todos os pertences sinalizados na guia emitida pelo delegado local. “Eu tenho que verificar o histórico da guia que eu recebi. Tendo ou não perícia, tem que ser feito esse tipo de registro em relação aos pertences da vítima”. Isso porque, segundo ele, a família procura pelos pertences, principalmente se forem de valor. Após a remoção, o corpo deve ser levado para o IML. O trabalho exige cuidado e respeito aos familiares do falecido. Não são poucas as vezes que a emoção toma conta do seu dia a dia. “Eu olho não a morte, mas a história envolvendo aquele morto.”
Enquanto para muitas pessoas esse seria o último lugar para trabalhar, Manoel defende que é um trabalho como outro qualquer – e que suportá-lo é apenas uma “questão de adaptação”. “Não é preciso ser um sujeito duro, frio, para executar esse serviço.”
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