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Paixão por quadrinhos é coisa séria
- 20/02/2014Colecionadores de quadrinhos e action figures contam como é ter uma paixão cara por “coisas de criança”
Texto: Fábio Arcanjo e Luiz Fernando Teixeira
Fotos: Ananda Ikishima
Historicamente vistos como produtos voltados para o público infantil, quadrinhos e action figures – figuras ou estátuas colecionáveis de personagens de diversos produtos de entretenimento – têm ganhado cada vez mais espaço entre os adultos. Dos fãs extremos e colecionadores implacáveis aos que dão seus primeiros passos e compram seus primeiros exemplares, todos têm uma coisa em comum: buscam deixar sua coleção ainda maior.
A paixão por esses colecionáveis pode surgir por diversos motivos. Para Guilherme Ortega, estudante de engenharia elétrica, ela começou na infância, com produtos dos principais programas que assistia na época: Power Rangers e Cavaleiros do Zodíaco. Mas a paixão só veio a se tornar um hobby mais sério anos depois, quando ele começou a se apaixonar por obras do cinema e ampliar sua coleção de action figures com itens dos filmes.
Hoje, Ortega tem cerca de 150 peças – ele nunca chegou a contabilizar todos os itens, mas destaca que sua coleção ainda é bem modesta. Ele não está sozinho: na Bahia, há o Bahia Actions, grupo que tem mais de 120 membros e que organiza encontros para esses colecionadores exporem orgulhosamente suas peças para interessados e admiradores, e também para agregar novos membros. Ortega comenta que o grupo “é uma excelente forma dos colecionadores se conhecerem, descobrirem novas informações e aumentarem suas coleções”.
Tanta participação atraiu a atenção não só dos colecionadores, mas também de empresários. Eduardo Gomes, proprietário da Red Sheep Comic Shop, loja especializada em quadrinhos e action figures, afirma que há uma procura forte desse tipo de produto pelo público soteropolitano. “Percebi que muita gente ama esses produtos e não tinha onde encontrá-los. Em outros lugares, como São Paulo, há essas lojas e eu decidi investir aqui, trazer esse material para um público que eu sei que existe em Salvador”.
Públicos variados, desejos variados – Eduardo diz que o público que frequenta sua loja é bem variado, indo dos 10 aos 60 anos, assim como os preços de produtos, que podem variar do bottom de R$ 2,00 às action figures de até R$ 5.000,00. Após um início difícil, com um certo preconceito por parte dos fornecedores, que acreditavam não haver público na capital baiana para esses produtos, hoje a loja já vem consolidando uma clientela, que segundo Eduardo, é tratada como em “todas as lojas grandes do Brasil, com a mesma oferta de produtos”.
O público, além de variar na faixa etária e no poder aquisitivo, também apresenta desejos distintos. No caso de Ortega, por exemplo, ele diz gostar de quadrinhos, mas sua paixão está mesmo nas action figures.
Já Lucas Pimenta é quadrinista e colecionador assíduo de quadrinhos, com mais de cinco mil exemplares somente das “bandas desenhadas” – como são chamadas as histórias em quadrinhos de origem franco-belga. Pimenta comenta que, no Brasil, devem existir cerca de 500 mil apaixonados por quadrinhos. “O Festival Internacional de Quadrinhos, realizado em 2011, teve um público de 148 mil pessoas, o maior evento de quadrinhos das Américas na ocasião. Se considerarmos que nem todo mundo que curte quadrinhos esteve presente, esse número pode ser muito maior”.
Ainda em relação ao público, Eduardo comenta que hoje há uma saída muito grande de quadrinhos entre os produtos de sua loja, mas quem “entra e compra um quadrinho, provavelmente volta e compra uma action figure”.
Entre os quadrinhos mais vendidos, diz que há uma disputa: para os fãs da DC Comics – responsável pela criação de licenciamentos de personagens como Batman, Super-Homem, Mulher Maravilha – a procura maior é pelos quadrinhos do homem morcego. Já entre os marvections, fãs da Marvel – do Homem-Aranha, Vingadores e X-Men, por exemplo – as histórias do Homem-Aranha, do Capitão América e do Homem de Ferro tem tido melhores resultados nas vendas.
Loucuras e sacrifícios – Apesar do crescimento, infelizmente os colecionadores ainda sofrem algum tipo de preconceito. Guilherme comenta que, numa gincana de ensino médio, já chegou a ser chamado de criança por conta de sua paixão, mas que procura não ligar para esse tipo de comentário.
Lucas Pimenta, por sua vez, tem suas manias, como por exemplo, escolher gibis pelo cheiro. Uma vez, numa banca de jornal chegou a cheirar quatro gibis do mesmo exemplar até escolher qual iria levar. Segundo ele, o dono da banca comentou na ocasião que já havia visto, como cliente pagar e não levar, mas nunca ninguém havia escolhido um produto pelo cheiro.
Além do dinheiro, é necessário tempo para investir nesse tipo de hobbie, para poder conservar e buscar novas coleções. Mas quem é fã mesmo, não mede sacrifícios: entre as loucuras que Ortega já fez por sua coleção, está investir cerca de 40% do seu salário como estagiário na compra de novos itens, tudo para tornar a coleção ainda mais especial.
Para os que pretendem iniciar a sua própria coleção, Lucas deixa uma dica: “evite variedade, pois é muito difícil acompanhar tudo que sai. Escolha alguns títulos, alguns personagens e acompanhe-os com afinco”. Quem sabe, no futuro, esse caminho não resulte em um trabalho, como aconteceu com Eduardo: “eu sou colecionador e amo o que vendo e só das pessoas entrarem na minha loja e se apaixonarem, pra mim, já é uma grande satisfação”.