Tags:catalisadores, ciência, mulher, nanotecnologia, tecnologia
Visibilidade feminina na área de Ciência e Tecnologia
- 13/07/2011Vencendo as barreiras étnicas e sociais, a engenheira química, Viviane Barbosa desenvolve pesquisas na área de nanotecnologia em universidade européia
Por Avana Cavalcante e Edna Matos
Viviane Barbosa tem 36 anos, nasceu no bairro da Liberdade, em Salvador, e sempre estudou em escolas públicas. Cursou Química na antiga Escola Técnica Federal da Bahia (hoje IFBA) e, já na Universidade Federal da Bahia, iniciou o curso de Engenharia Química Industrial, que não concluiu, migrando para a Universidade Técnica de Delft, na Holanda. Lá, graduou-se em Engenharia Química e Bioquímica. Mestre em Engenharia Química por esta mesma universidade, ela desenvolve projetos nos departamentos de Nanotecnologia e de Engenharia de Catalisadores. Juntamente com seus professores orientadores – Andreas Schmidt-Ott e Freek Kapteijn, Viviane Barbosa apresentou em setembro de 2009, o projeto “Preparo de camadas metálicas catalíticas com alta porosidade e alta atividade através dos métodos de Spark Mixing e Impaction Sintering” (Preparation of Highly Active Porous Catalytic Alloy Layers by Spark Mixing and Impaction Sintering), na Conferência Internacional de Aerossóis, na cidade de Helsinki, Finlândia, onde recebeu o prêmio concedido pela International Aerosol Research Assembly, Fissan-Pui-TSI Award, que tem como finalidade homenagear cientistas que liderem trabalhos internacionais do gênero.
O evento que reúne cientistas do mundo inteiro é realizado a cada quatro anos tendo como sede uma cidade da América do Norte, Europa ou Ásia. A conferência é multidisciplinar com participação de cientistas das diversas áreas como Física, Química e Engenharia Ambiental com a principal intenção de discutir questões sobre o meio ambiente. O trabalho de Viviane Barbosa competiu com cerca de 800 outros trabalhos científicos de pesquisadores de todo o mundo. Os critérios de escolha envolviam, entre outras coisas, a relevância científica e a apresentação.
Viviane Barbosa está em Salvador em visita aos familiares e falou ao Impressão Digital 126 com exclusividade.
Impressão Digital 126 – Qual a sua visão a respeito da inserção da mulher na área da ciência e da tecnologia?
Viviane Barbosa – O meu começo foi aqui. Com o jeitinho brasileiro eu aprendi a fazer ciência. Acredito que exista o espaço para a mulher, porém, por uma “mentalidade tradicional” das gerações anteriores, que sempre direcionou o estímulo científico aos garotos, não proporcionou que a menina tivesse contato com a ciência, interferindo na escolha da garota na área que irá atuar profissionalmente. Essa mentalidade descarta a possibilidade da mulher atuar mais firmemente nas áreas de ciência e tecnologia. É uma questão puramente cultural.
Impressão Digital 126 – Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher e por trabalhar nessa área?
VB – Não me recordo de ter sofrido algum preconceito. Acredito que quando você tem potencial e mostra a sua capacidade de ir além, essas barreiras são quebradas. O interessante é que você mesmo cria esses paradigmas, a partir da formação que teve na infância.
Impressão Digital 126 – Fale um pouco sobre seu projeto de “Preparo de camadas metálicas catalíticas com alta porosidade e alta atividade através dos métodos de Spark Mixing e ´Impaction Sintering”.
VB – Os catalisadores são substâncias que são utilizadas para acelerar uma reação que normalmente ocorre muito lentamente, ou que depende de determinada temperatura. Os catalisadores de automóveis, através dos gases que são liberados (monóxido de carbono, óxido de hidrogênio e hidrocarbono) são nocivos ao meio ambiente. Atualmente, as empresas utilizam catalisadores metálicos, convertendo esses gases para serem menos nocivos ao meio ambiente. Sobre os catalisadores que eu estudei, foi direcionado ao gás monóxido de carbono, porém, em minha pesquisa, percebi que a conversão ainda é quase inexistente. Assim, quando o carro está frio e não está em temperatura ambiente, ou seja, está desligado e é ligado, a emissão de gases poluentes ocorre em maior quantidade. Percebi que, misturando monóxido de carbono com os catalisadores, eles se transformariam em dióxido de carbono, não precisando utilizar grandes quantidades de catalisadores. Descobri também que esta forma de catalisador é totalmente reagente à temperatura ambiente.
Impressão Digital 126 – Após a premiação, você recebeu algum incentivo dos governos brasileiro ou holandês, ou de alguma agência financiadora para prosseguir com a pesquisa?
VB – A pesquisa foi parte da tese de mestrado, porém não ocorreram investimentos por parte dos governos brasileiro, nem holandês. Talvez porque o mercado esteja voltado ainda para outras pesquisas na área energética, como petróleo e gás. Porém, acredito que o processo de financiamento nas áreas de ciência e tecnologia virá um pouco lentamente, talvez. Afinal, quem manda não é quem tem a maior pistola (arma), mas quem tem poderes sobre a tecnologia.
Impressão Digital 126 – Qual a importância da área de ciência e tecnologia ser acessível a todos?
VB – O governo brasileiro ainda não percebeu a importância da disseminação dessa área na vida das pessoas. O que se percebe é que existe um véu sobre o assunto, tornando-se limitado. A partir do momento em que você populariza a ciência e as tecnologias, as relações com os outros continentes ficarão mais democráticas.
Continue lendo:
Pesquisadoras da Bahia lutam por visibilidade
A mulher avança na pesquisa científica
Produção de mulher cientista na Bahia carece de reconhecimento
Entrevista/Djane Santiago: “A mulher faz ciência mesmo sem saber”