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Distribuição é o maior desafio do cinema brasileiro
- 25/11/2011Um breve panorama do sistema de distribuição de filmes no Brasil
Por Agnes Cajaiba e Tais Bichara
A distribuição é a última etapa do processo pelo qual passa qualquer filme. É isso que permite que ele seja consumido e conhecido de diferentes formas e em diferentes contextos. Apesar disso, a maioria dos espectadores não sabe como funcionam as salas de exibição, as locadoras ou a compra e venda de cópias dos filmes.
Pelo histórico de altos e baixos no que tange incentivos estatais e privados tanto para a produção quanto para a distribuição de filmes nacionais, o cinema brasileiro ainda sofre com a imaturidade dos realizadores e das estratégias de viabilizar isso. Segundo Paulo Alcântara, cineasta com experiência em produções em outros países como Espanha, Suíça, Marrocos e França, no Brasil sempre nos preocupamos em filmar, em como viabilizar as nossas idéias. Isso costumava ser o mais difícil, mas agora produzir obras audiovisuais não é o problema, já que existem diversos editais tanto do governo quanto de empresas privadas, incentivo a co-produção com investidores estrangeiros, etc. O que acontece, segundo ele, é que temos que pensar o que fazer com esse filme, para quem ele foi feito e como fazer com que as pessoas queiram vê-lo. “Estamos aprendendo a distribuir”, resume.
Para Cláudio Marques, cineasta e exibidor pelo Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha, o problema não está tanto no sistema de distribuição, e sim no público que ainda é muito conservador. “O público tem ido ao cinema atrás dos filmes midiáticos, tanto nacionais quanto estrangeiros. O cinema independente do mundo inteiro está em crise.” Partindo disso, pode-se dizer que o grande caso de sucesso do cinema nacional é a Globo Filmes. Trata-se de um tipo de produção que se assemelha em muitos aspectos à dinâmica hollywoodiana, no que diz respeito ao tipo de narrativa mais explorado, ao star system, ao forte apelo comercial, além de estar aliado à Rede Globo. Os atores já conhecidos e o espaço aberto para ações de marketing e publicidade na programação diária do canal fazem com que os grandes sucessos de bilheteria de filmes nacionais sejam filmes relacionados de alguma forma à distribuidora.
Solange Lima, produtora dos longas baianos ‘Capitães da Areia’ e ‘Estranhos’, acredita que falta no Brasil uma difusão mais agressiva, como acontece com os filmes americanos ou até mesmo com os produtos da Globo Filmes, que têm o apoio do maior veículo de comunicação do país. “Os filmes por ela lançados estão até na boca dos atores das novelas, o que faz com que o público vá ver o filme porque a TV está em todos os lugares e lares”, constata Solange. Isso é um dos indicadores do quanto excluir a televisão das políticas do audiovisual pode ser um caminho equivocado. No Brasil, cinema e TV ainda caminham separados enquanto, contraditoriamente, o maior exemplo de indústria e mercado audiovisual no país está atrelado a uma emissora de TV.
João Carlos Sampaio, crítico e curador, reconhece ainda outros caminhos para a distribuição, como é o caso de materiais didáticos produzidos a partir dos filmes, o espaço dos cineclubes, dos pontos de cultura e também dos festivais. “Eu acho que a gente tem que parar de pensar que a sala de cinema é o lugar em que o filme se completa”. Atualmente, existem editais e iniciativas de empresas interessadas em investir especificamente na etapa de distribuição do cinema nacional. Saber explorar essas oportunidades, e as oportunidades criadas pelas novas mídias, por projetos como a Programadora Brasil, o Sessão Vitrine, a Terra TV Video Store, amplia e diversifica o horizonte de espaços e públicos que o filme pode alcançar. Isso faz parte do pensar a distribuição para além das salas de exibição e, no caso dos filmes independentes, para além do circuito de festivais.
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