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Há desejo, há tesão, há paixão

- 04/05/2016

Conheça a história e opinião de ‘maiores de 60’ sobre penetração, orgasmo e ereção 

Jade Giallorenzo e Vilma Martins | Foto do destaque: Reprodução/Arquivo Pessoal

Falar sobre sexo na velhice pode ser um tanto quanto delicado. Vivemos uma revolução no conceito da sexualidade e essas mudanças repercutiram na vida de todos (inclusive, dos vovôs e vovós). Mesmo assim, ainda é difícil encontrar pessoas dessa determinada faixa etária dispostas a falar abertamente sobre o assunto. Quando perguntamos porquê  não conversam sobre sexo, mesmo com netos e filhos, as respostas são variadas.

“É muito diferente a cabeça deles”, “no meu tempo não podia fazer isso” ou “se eu falo sou chamada de vó maluca” são algumas das respostas dadas por um grupo de mulheres da Faculdade da Felicidade, grupo que se reúne semanalmente com aulas e cursos artísticos-culturais.

Na aula intitulada ‘Sexualidade ao Longo da História’, a psicóloga Ana Emília, que há dois anos trabalha com um grupo oscilante de 15 alunos – predominantemente feminino -, aborda o tema da sexualidade através do humor e curiosidade, contando com participação e interação ativas.

Aula ministrada pela psicóloga Ana Emília, sobre sexualidade para terceira idade | Foto: Jade Giallorenzo

“Abordamos a sexualidade sempre com leveza e naturalidade. Essa é uma forma de deixar todos mais à vontade, de tirar qualquer peso ou inibição que o assunto possa trazer”, explica a psicóloga que destaca que a sexualidade nessa faixa etária não está ligada à função reprodutiva, mas ao sexo como fonte de prazer, de novas descobertas e da manifestação do amor.

“Sexo para elas é muito mais que penetração, é carinho, erotismo, é dormir junto. O desejo não é perdido na velhice: vem muito mais da ‘psiquê’ que do organismo, é mais que o orgasmo, principalmente para as mulheres”, acrescenta.

Além de assistir e conversar com as alunas, o ID conversou com alguns personagens que contaram sua relação com sexo, casamento e o contexto no qual envolvem a sexualidade.

O casal Jorge Rian, 88, e Tieta Viana, 84. | Foto: Jade Giallorenzo

O casal de namorados

Uma história de amor aos 80 anos. Os viúvos Jorge Rian, 88, e Tieta Viana, 84, se conheceram no grupo da maior idade há dois anos. A atração foi tão intensa, que resolveram namorar. “Ela é linda”, fala Jorge sobre a amada. O senhor apaixonado usa cadeira de rodas e tem dificuldade para ouvir e falar.

Entretanto, nada impediu o casal de se apaixonar.

“Ele me chamou primeiramente para jantar em sua casa. Depois, eu o chamei para almoçar na minha e, quando percebi, já estávamos namorando”, conta Tieta. Apesar de ambas as famílias estarem cientes do casal, eles ainda não dormiram juntos. “Não houve oportunidade, é complicado”, diz. Mas o carinho, os beijos, e as carícias são intensas.

A psicóloga Ana Emília acredita que a sexualidade e o envolvimento amoroso possuem também um lado motivador, de desejo, troca, e cuidado com o outro. “Percebemos que seu Jorge reage melhor quando está ao lado de Tieta, melhorando sua fala, por exemplo”, observa.

À esquerda, Diná Menezes, 76, conversa com colega durante aula sobre sexualidade na Faculdade da Felicidade | Foto: Jade Giallorenzo

A aluna tagarela

Toda turma tem aquelas pessoas que participam mais, que não possuem vergonha de falar na frente de todos. Na aula de Sexualidade ao Longo da Historia, um nome foi citado desde o começo como a mais “espevitada”. Diná Gomes Menezes, 76, se apresenta e fala com prontidão da sua relação com o marido, com quem é casada há 53 anos.

A aposentada afirma que não há diminuição no desejo sexual com o tempo. No seu caso, ela e o marido têm uma relação de cumplicidade e uma vida sexual ativa. Diná gosta de pequenos gestos, como dormir junto e mostrar a camisola nova para o marido. Nunca quis ou sentiu vontade de usar apetrechos já que, segundo ela, sempre sentiu “segurança”.

“Eu particularmente não gosto dessas coisas de sex shop. A relação que tenho com meu marido já dura mais de 50 anos, mas, quando eu casei, não existia isso de sexo antes do casamento, como puro prazer. Hoje, as preliminares, as fantasias, já me são suficientes: o ato não me faz falta. De vez em quando, ele gosta de assistir algo estimulante antes, mas é para incentivar, já que ele tem 87 anos”, diz.

A aposentada se sente tão à vontade para falar sobre o sexo que fala sobre belos rapazes – “os deuses gregos”-, faz piadas sobre pênis e brinca com o fato de que há dois anos fez uma cirurgia para levantar a bexiga e retornou a virgindade. “Eu fiquei contando os dias para acontecer e o pessoal toda hora me perguntava se eu já tinha perdido o cabaço. Foi uma situação muito engraçada”, conta aos risos.

O homem do campo

Francisco Ferreira, 79, era fazendeiro do sul da Bahia e atualmente se divide entre Salvador, onde a mulher Amelia mora, e Alagoinhas. Foi casado oficialmente uma vez, por 35 anos, mas ficou “agregado”, como diz, outras quatro vezes – todas eram mais novas -. Com Amelia, são mais de 20 anos, 8 filhos, 17 netos e 7 bisnetos. Como muitos homens do interior, perdeu a virgindade aos 14 anos com uma prostituta.

“Senti o impacto da idade depois dos 70. Quando era casado, nem sei a conta de quantas vezes fazia sexo. Se a mulher estivesse ‘boa’, era todo dia. Faço pouco hoje em dia, umas duas vezes por mês, mas é por causa dela, que tem problema de saúde”, explica.

Ele não considera a dificuldade em sentir tesão uma falha. “Está diminuindo a quantidade de vezes que fico excitado e sei que vou parar daqui a pouco. Mas é bom, não esperava nem chegar aos 80 anos. Às vezes, eu preciso de um estímulo. Dá trabalho para voltar, mas consigo reagir”, diz, vitorioso.

As “silenciosas” do Pilates

Z.V, 74, sempre se considerou uma pessoa tímida e reservada, pedindo para não ter seu nome divulgado nessa matéria. Casou-se aos 17 anos com o primeiro namorado, que a ensinou tudo que sabe “sobre amor e sexo”. Teve 2 filhos e morou com o companheiro por mais de 50 anos, até ficar viúva, há um ano e meio.

Para ela, a relação difícil com o sexo depois dos 60 anos é resultado da sexualidade pouco explorada quando mais nova. “Uma vez, perguntei ao meu marido como se fazia… como chama, ‘1969’? Ele me disse que isso era uma aberração. Foi uma surpresa para mim ouvir falar sobre sexo oral, sexo anal etc. Não fazia ideia que existiam todos esses tipos”, relata Z.V.

As aposentadas Zumira Cabral de Jesus e Juter Soares de Oliveria, ambas com 73 anos, contam, entre um exercício e outro no Pilates, que falar sobre sexo na 3 ª idade é normal. Elas concordam que o envelhecimento do corpo e a alteração hormonal, principalmente para as mulheres, afeta a disposição do casal, mas que a vida sexual não deixa de existir, embora tenha suas particularidades. “Contanto que haja carinho e compreensão, também é prazeroso”, afirma Zumira.

Prazer sem distinção de idade

Sexo na terceira idade pode ser libertador e fonte de gozo, mas depende de como se encara a velhice e as modificações que ela causa. “É importante o debate pois o ato é um benefício à saúde mental e física. A criatividade, bom humor e disposição são alguns dos fatores que incitam esses idosos a buscarem formas de obter prazer”, explica a psicóloga Ana Emília.

Mesmo não estando em total concordância com com as novas liberdades – poliamor – e as naturalidades – maior aceitação das relações homoafetivas – do amor e do sexo, os idosos mostram que o tesão, desejo e fantasias podem sim acontecer depois dos 60 anos.

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