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De Bahia a Galícia: a história do tetracampeão
- 21/11/2011Entre mudanças de nome, local de treino e formação, o Galícia Rugby Clube mantém o status de campeão nordestino da modalidade
Por José Marques

O hoje chamado Galícia Rugby Clube começou antes de o time incorporar o nome da região espanhola em seus uniformes. Em 2005, quando admiradores baianos do esporte inglês se reuniram para praticá-lo, o clube se chamava Bahia Rugby e a seleção dos melhores do estado se intitulava Orixás Rugby. Até que um incidente mudou a alcunha e o formato de treino da equipe. “No final de 2008, a gente tinha o Torneio Nordestino de Rugby Seven para fazer aqui em Salvador e precisávamos de um campo. Como houve o acidente na Fonte Nova em que morreram sete pessoas, interditaram Pituaçu. Então, a gente, que estava acostumado a fazer nossos jogos em Pituaçu, ficou sem campo para fazer o jogo”, explicou Vitor “Trator” .
O jogador de centro procurou alguns conhecidos no Galícia para que o clube cedesse seu espaço para o campeonato. O torneio interestadual foi feito no Parque Santiago e o Bahia Rugby Clube sagrou-se campeão. Interessado pela modalidade diferente, o tradicional clube baiano deixou o time treinar regularmente no seu espaço, mas impôs uma condição. “Na época, a gente pintou as arquibancadas e fez alguns benefícios dentro do Galícia. Eles viram que éramos sérios, que procurávamos fazer as coisas de forma direitinha, que tínhamos deixado tudo arrumado, limpinho, e que tudo tinha sido bem organizado. Eles falaram para a gente que, como tínhamos um bom retorno de mídia por ser uma coisa teoricamente nova, podíamos mandar nos nossos jogos aqui, treinar e jogar aqui em troca de exposição na mídia”, explicou. A “exposição na mídia” seria a troca do nome do time. E assim surgiu o Galícia
Rugby Clube.
Vai-e-vem do time feminino – Pouco tempo depois, começou a ser montada uma equipe feminina. Ao contrário dos homens, só em 2011, as jogadoras só conseguiram manter a estabilidade no time. “Logo quando eles começaram a treinar o masculino, surgiu o feminino, mas não tinha um ‘time’ mesmo. Daí eu vim assistir à final do Nordestão e comecei a gostar. Algum tempo depois, vi alguns vídeos na internet das meninas de São Paulo, vi que era uma coisa bem família do tipo ‘um por todos’ e comecei a me apaixonar”, conta Jamile Achy. A atual capitã conseguiu juntar um time com técnico e treinos regulares. No entanto, a formação se dispersou pouco tempo depois. “Todo mundo foi saindo, ficou eu e a Marcelle. Daí eu comecei a entrar em contato com várias outras meninas que já tinham jogado sempre levando bolo”, relembra.
Mais uma vez, agora com o ingresso de estudantes da Faculdade de Medicina Veterinária da UFBA, curso de graduação de Jamile, o time foi renovado. “Sempre com muita dificuldade, um sábado vinha todo mundo, outro sábado não vinha ninguém”, explica. No momento, a conquista das meninas foi manter, com estabilidade, um grupo de seven apto a competir.

Treino internacional – Do outro lado, o time masculino mostrava ter mais comprometimento com a prática. Em 2009 e 2010, o Galícia Rugby Clube viajou para a Argentina, local que consideram “o celeiro do rugby na América”, para fortalecer os jogadores. “A Argentina tem alguns dos melhores times do mundo, as equipes deles são sensacionais e, se a gente quisesse ter um crescimento técnico, a gente teria que ir para lá, para jogar contra os caras, para aprender e crescer”, explana Vitor Trator.
Da primeira vez, o clube foi para Puerto Iguazu, perto de Foz do Iguaçu, na
tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina. “Jogamos contra um time do Paraguai em Ciudad Del Leste e contra um time argentino em Puerto Iguazú”, diz o half scrum (jogador de centro). Embora o time tenha perdido as duas partidas, Trator garante que “deu trabalho” aos hermanos. “A gente fez um excelente jogo contra o time do Paraguai, estávamos ganhando até menos de dois minutos para acabar o jogo, mas eles viraram no último lance”, lamentou. Segundo ele, o competidor seguinte, um time argentino, havia dispensado a equipe principal ao saber que jogaria contra brasileiros, mas chamou de volta os titulares ao descobrir que o Galícia havia jogado de forma competitiva com os paraguaios. “A nossa expectativa era de fazer bons jogos, a gente foi até um pouco acima das nossas expectativas, pois o Brasil não tem experiência nenhuma em rugby. Eles crescem jogando rugby, enquanto nós aprendemos já adultos”, afirmou.
A segunda viagem, de 2010, foi em busca de adversários mais acirrados. O Galícia jogou uma partida contra o terceiro time da maior equipe de rugby da Argentina, o Hindú Club. “Eles têm cinco times, a gente jogou contra o terceiro time deles, e era esperado de qualquer pessoa que conhecesse de rugby que a gente tomasse cem pontos de diferença. Mas o primeiro tempo acabou em dez a três”, o Trator sorri ao relembrar. No entanto, com jogadores exaustos e lesionados, o Galícia terminou por perder de 46 a três no segundo tempo. A derrota, assegura, não desanimou o time. “É como pegar alguém que joga uma pelada aqui, levar para jogar contra o time B do Barcelona e tomar quatro a um”. Depois do Hindú, o Galícia jogou ainda contra dois outros times argentinos. Perdeu para o primeiro por 18 a 19 e, para o segundo, um time mais fraco, venceu por 33 a 30.

De volta à Bahia – Todas as vezes em que o Galícia viajou, voltou para vencer o Campeonato do Nordeste. Em 2011, embora não tenham viajado e o time esteja desfalcado, ainda assim venceu o Nordestão em Maceió, Alagoas. O treinador Martin Ortega sabe que apostar em maiores ambições, na atual condição, será difícil. “Este é um esporte amador, onde cada um tem seu trabalho, seu estudo, vem quando pode e como pode. Até o ano passado, tínhamos um nível de comprometimento alto, de todo mundo, e juntamos um timaço, para jogar na primeira divisão do Brasil. Mas, esse ano, essas mesmas obrigações de estudo e trabalho fazem com que as pessoas não possam mais treinar, faz com que eles tenham outros interesses. E já não são meninos de 25, 26 e 27 anos. O rugby já não é mais o caminho principal de cada um”, pondera.
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