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Sarau da Onça: A voz da periferia
Thailine Montalvão, Rebeca Almeida e Gabriel Ferre - 07/11/2018Ressignificação é a palavra chave. Ela define a proposta do Sarau da Onça, grupo que se originou no bairro de Sussuarana, em 2011, com o objetivo de fortalecer uma nova imagem para os bairros periféricos de Salvador, unindo jovens de comunidades marginalizadas em torno da poesia, da música e da vontade de lançar novos olhares sobre as localidades.
“Nossa proposta é fazer com que a periferia desenvolva e consuma sua própria arte”,
Resume Maiara Silva, membro do coletivo há cerca de um ano.
O Sarau se tornou ponto de encontro de muitas atividades. Além das leituras poéticas e apresentações musicais, há também a produção de rodas de conversas com temáticas relevantes para as minorias, especialmente para a comunidade negra, e parcerias com outras ações e realizadores culturais da região e de outras localidades da cidade, ocupando um lugar especial na vida da juventude.
Os encontros do Sarau acontecem de forma quinzenal aos sábados. São realizados no Anfiteatro Abdias do Nascimento, localizado na Rua Albino Fernandes, nas dependências do Centro de Pastoral Afro (CENPAH), no bairro de Novo Horizonte.
“Somos jovens moradores daqui, sabemos como tudo funciona. Um dos objetivos do Sarau é fazer com que a comunidade entenda que a Sussuarana é um local positivo, trazendo a boa visibilidade para o bairro, promovendo nelas o orgulho, a partir daí elas divulgam, participam”.
Explica Sandro Sussuarana, um dos idealizadores do Sarau.
Concurso Literário Sarau da Onça
Na sua terceira edição, o Concurso Literário Sarau da Onça selecionou poemas e contos de cinquenta autores Soteropolitanos. Os vencedores terão seus textos publicados em um livro, com lançamento previsto para dezembro de 2018, sem custo para os participantes, que vão receber cinco exemplares cada um, a título de direitos autorais.
O III Concurso Literário Sarau da Onça integra o III Festival de Arte e Cultura, realizado durante todo o mês de Novembro, com oficinas de teatro, dança, Hip Hop e criação literária, e é contemplado pelo edital Arte Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório De Mattos, Prefeitura de Salvador.
Os exemplares da primeira antologia se esgotaram em poucos mais de 3 meses de lançado, passando por locais como 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, I FLICH (Festa Literária da Chapada Diamantina – Lençóis-Ba), Centro Cultural da Penha (SP), Sarau da Cooperifa (SP), Encontro Nacional dos APN’s (MG), entre outros locais, além de ser exportado para países como Gana, Luanda, Moçambique, Espanha e Estados Unidos” .
Conta Sandro Sussuarana
Slam da Onça
Nas periferias de Salvador, as batalhas de poesia são momentos de criação e resistência cultural e política. A potencialidade desses espaços está no diálogo entre as diferenças, na troca de conhecimentos, na irreverência e na livre expressão de cada participante.
“A intenção principal é de dar voz para pessoas que têm o fôlego sufocado pela sociedade”
Diz Joyce Mello, participante do Slam da Onça
O Slam da Onça é o grande destaque dentre as produções do grupo. Na competição de poesias, cada poeta deve recitar poesias autorais em três fases da competição. O vencedor leva para casa um prêmio que varia a cada edição do evento. Maiara Silva, integrante do coletivo, explica que o principal objetivo do projeto é reforçar o senso crítico.
“O principal objetivo do projeto é despertar o senso crítico das pessoas e fortalecer essa forma de arte que chamamos de Literatura Marginal”
Ela explica que o uso do termo marginal remete à produção literária da parcela da sociedade que sempre foi marginalizada socialmente. Sobretudo negros e pobres. O conceito remete ao processo de marginalização do indivíduo não à palavra comumente usada como sinônimo de “ladrão”.
A poesia marginal nas escolas
Ao transformar a realidade das periferias em poesia, e apresentá-lá na sala de aula, o Sarau desperta nos alunos o interesse pela leitura. Seja pela inovação – muitos não possuem acesso a literatura e a poesia de forma viva, oral e performática -, seja pelos temas abordados – o cotidiano das periferias, racismo e violência -, a proposta provoca um grande impacto, instigando a vontade e a curiosidade dos estudantes em participar e conhecer o mundo da poesia.
Todo ano, em outubro, o Colégio Estadual Filadélfia, Vila Canária, desenvolve a Semana de Arte Literária do Filadélfia, um trabalho interdisciplinar onde os estudantes elaboram atividades voltadas para a Literatura e Artes Plásticas. Na edição deste ano, o Sarau da Onça participou mais uma vez das atividades da instituição, elaborando recitais de poesia nas salas de aula. A segunda participação do grupo aconteceu por conta de uma demanda dos estudantes da instituição.
Para Maiara, o convite “foi uma oportunidade do coletivo expandir áreas de atuação”, uma vez que a Vila Canária ainda não tem grupos fortes de poesia marginal.
Para o estudante Daniel Fabrice Oliceira, 11 anos, a poesia ajuda a pensar as diferentes realidades sociais e traçar paralelos com o cotidiano. “Eu ouvi uma poesia que citava a cor da tia Anastácia, do Sítio do Pica-pau Amarelo e logo lembrei do desenho que eu assisto”, conta. Foi a partir dessa associação que o garoto percebeu a carência de personagens negros nos desenhos animados.
É fundamental o papel da escola na disseminação dos slams e saraus, por meio deles os alunos expressam seus modos de existir e suas reivindicações por uma cultura jovem, popular, negra e pobre, de moradores da periferia. Ao recriarem a cultura oficialmente escolar, esses alunos se tornam agentes de letramentos de reexistência, e a poesia, dessa maneira, se torna porta-voz, pelas quais demonstram sua revolta, sua identidade e resistência.
Mais informações:
Sarau da Onça
Onde: Espaço CENPAH – Centro de Pastoral Afro – Rua Albino Fernandes, 59–C – Novo Horizonte – Sussuarana, Salvador-BA.
Quanto: Entrada Gratuita
Contatos: (71) 993315781 / 987464521 / saraudaonca@gmail.com





