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É tudo feito à mão (inclusive esta matéria!)
- 11/12/2011Os trabalhos manuais começam a invadir a internet e o universo feminino atual
Por Carol Gomes
Se o universo feminino atual é bem diferente daquele que foi para a maioria das avós, hoje a prática dos trabalhos manuais parece ser o ponto de interseção entre essas gerações. Jovens mulheres de 18 a 30 e poucos anos estão, aos poucos, olhando para o passado com uma atenção especial. A costura – o tricô, o crochê, os trabalhos manuais, no geral – hoje tem outro sentido. Se relaciona com as tradições e o resgate do passado, mas principalmente está ligada à modernidade, aos conflitos e às ansiedades, sobretudo à pressão que recai sobre o universo feminino atual. O charme do passado está sendo compartilhado através de ferramentas on-line. São blogs, sites, páginas no Facebook e sites e-commerce, tudo pela exclusividade, consciência e satisfação pessoal.
A costura, para algumas, é a possibilidade de ter roupas e acessórios mais personalizados e exclusivos. Para outras, os trabalhos manuais trazem o espírito do famoso movimento “Do it Yourself” (DIY) – do inglês, faça você mesmo – disseminado nas décadas de 70 e 80 pela cultura punk, que vai de encontro ao consumo desenfreado da atualidade. Já para outras, é uma necessidade íntima, importante para a concentração e a reflexão. “A costura deixa a pessoa muito introspectiva. É como uma terapia. Ao mesmo tempo em que embaralha tudo na cabeça, também desembaralha. Tem gente que não está preparada para enfrentar os próprios dilemas. É uma viagem que você precisa mergulhar” diz Cândida Specht, 24, costureira e dona da marca de acessórios homônima.
“Eu que fiz” – Isadora Alves, 22, estudante de letras, tem um histórico familiar ligado à costura e foi pela vontade de produzir as próprias roupas que se matriculou em um curso de costura básica. Depois de algum tempo costurando peças de moldes básicos que nunca usaria, ela continuou o curso além do módulo inicial para aprender a fazer uma saia que viu em uma revista. A saia é motivo de orgulho e a prova de que vale a pena tanta dedicação. Esse sentimento é a grande motivação para as meninas que começam a costurar por puro prazer, sem a intenção de seguir um negócio. Para Cândida Specht, a costura tem um significado especial. “Eu sou encantada até hoje pelo fato de poder pegar uma matéria-prima, que é o tecido, e dar forma, dar utilidade para as coisas”, diz Cândida.
O processo de produzir as próprias peças é o que mais estimula as jovens estudantes dos cursos de costura, como conta a professora de costura em malha, Andréia Vasconcelos, 32. Geralmente a maioria das pessoas que procuram o curso está voltada para a própria produção. “Eu imagino que quando a pessoa vai fazer a própria roupa em casa, [a inspiração] é um modelo que viu e gostou. Eu quero ter e usar essa roupa e é por isso que eu vou fazer com todo o carinho, com toda atenção e com todos os detalhes”, diz Hana Almeida, 18, que prestou vestibular para Medicina, mas pretende começar o curso de costura em breve não só para fazer as próprias roupas, mas também como uma forma de acalmar as ansiedades.
Para a cantora nana (escreve assim mesmo com letra minúscula), 21, da nova geração de músicos independentes de Salvador, a intenção de costurar também é poder fazer as próprias roupas. “Sei que dá bastante trabalho. Pra mim, costurar é terapêutico de certo modo, mas também pode ser muito estressante se você não estiver concentrada. Às vezes as coisas dão muito errado e você fica se perguntando onde errou. Mas é muito gratificante vestir uma roupa feita por você mesma”, conta e completa dizendo que já fez estojos e cases para os aparelhos eletrônicos.
Leia:
É tudo feito à mão (inclusive esta matéria!) – versão manuscrita
Subversão e ironia em São Paulo