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Fora das galerias
- 13/12/2011Designer e programador visual, Fernando Lopes trabalhou de 2000 a 2008 com ações urbanas de protesto e irreverência
Por José Marques e Vitor Villar
Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e trabalhando, atualmente, como designer e programador visual, Fernando Lopes fez a maioria de suas ações de arte urbana até o ano de 2008. “Quase sempre eu tive que trabalhar com intervenção urbana, porque eu tenho alergia a quase todos os pigmentos e tive que abandonar por um bom tempo a carreira de pintor. Só que eu tinha que expressar o trabalho de alguma maneira”, afirma. De lá para cá, deixou as ruas para trabalhar com arte digital. Foi assistente de arte do Jornal da Metrópole, por um breve período, trabalhou como freelancer para diversas empresas e abriu uma camiseteria virtual, a Duca. “Como eu trabalhava muito com programação visual, como designer, quase todas as intervenções eram gráficas. Trabalhava quase tudo no computador, mandava para uma gráfica, imprimia, e colava na rua”, explica.
Abaixo, Fernando lista e fala um pouco de alguns de suas ações. “São trabalhos em que o objetivo não é ganhar grana e nem ganhar publicidade. É mais para tentar expressar uma coisa que não dava para ser feito por palavras. Por isso, faço essa coisa de trocadilhos, ironias, e mando ver, que aí chega mais perto do público, mesmo”, argumenta.
“A Irmã Dulce”
“Fiz esse trabalho porque as Obras Sociais Irmã Dulce que transformaram um teatro da Cidade Baixa, onde Raul Seixas tinha tocado, numa capela. E, como eu morei muito tempo por lá, sei que os mais antigos não gostavam da Irmã Dulce, porque diziam que ela roubava roupa do varal dos outros etc. Aí eu fiquei, ‘pô, vai transformar uma casa de show, com uma história, em uma igreja, impondo aquela coisa toda da Santa Irmã Dulce’. Então, eu fiz uma brincadeirinha que deturpa um pouco o que seria a imagem de ‘uma mulher boa”.
“Nem pintado de ouro”
“O ‘Nem Pintado de Ouro’ foi um trabalho feito na Praça da Sé que usava rosto de ACM, com um ‘X’ vermelho em cima, em um papel dourado. Eu fiz uma panfletagem com esse trabalho, distribuindo em um comício – acho que era de César Borges se candidatando – e resultou nisso aqui ó, nessa cicatriz [mostra uma cicatriz na boca]. Um segurança pensou que eu estava sendo pago para panfletar e ficou me perguntando quem foi que mandou. Só que aí o próprio pessoal do partido viu e mandou o segurança me largar. Mas eu já tinha tomado um pau que me rendeu uma cicatriz”.
“Macumba”
“O macumba foi um trabalho com assinatura, feito quando eu venci um edital para a bienal da UNE [União Nacional dos Estudantes] em Salvador. Foram selecionados alguns trabalhos e o meu foi um deles.
“Tem uns sete ou oito anos que surgiu o acarajé de Jesus. E a igreja que patrocinava isso fazia panfletagem dizendo que acarajé era coisa do demônio, que as baianas pegavam dedo de criança e ralavam para poder vender. Depois viram que o produto podia ser fonte de renda. E alguns fiéis dessa igreja começaram a fazer um tipo de acarajé que era ‘abençoado por Jesus’, e chamaram isso de ‘bolinho de Jesus’. Mas o acarajé não é só uma comida, é um patrimônio imaterial. Como a temática do trabalho tinha que ser relacionado à cultura, fui à associação das baianas pesquisar sobre ele. Vi que havia a comida de Xangô e a de Iansã, que eram o acarajé e o abará. Então pensei: ‘vou colocar isso para afirmar que o acarajé faz parte da cultura e, mais especificamente, da cultura do candomblé’.
“Fiz uma relação com quando você pasteuriza alguma coisa para vender, que é uma programação que em qualquer lugar do mundo pode ser feita. Por exemplo, para comer comida mexicana aqui na Bahia, você pasteuriza ela, faz toda uma programação para que em qualquer lugar do mundo possa ser consumida. Como quando você come alguma coisa na McDonalds. Então, eu quis fazer um fastfood de comida ioruba. Contratei uma baiana para fazer o acarajé e distribuí como se estivesse vendendo nos tabuleiros. Foi feito de forma que dava a entender que era um ‘combo’: o acarajé com Coca-Cola e, no lugar da batata frita, cana-de-açúcar. Como se fosse um McLanche Feliz (risos). Um ‘combo baiano’. Eu fiz oferendas também com isso. Foram distribuídos dois mil acarajés e dois mil abarás com Coca-Cola”.
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