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Pesquisadores criticam estilos musicais ‘universitários’
- 08/05/2012Alexandro Mota e Danielle Lopes
Na comparação entre os ritmos universitários ou os de raiz, mais vale a aparência e a posição de quem toca e ouve do que os instrumentos usados ou as variações rítmicas que os diferem. A essência dessa afirmação está presente no pensamento dos professores universitários e pesquisadores da área de cultura Milton Moura e Mauricio Tavares e do jornalista e crítico musical Chico Castro Júnior, procurados pela reportagem do Impressão Digital 126 para comentar sobre o aumento do consumo do arrocha, do sertanejo e da música brega no geral por jovens estudantes.
Nessas entrevistas (que você pode ouvir na íntegra abaixo), os críticos expõem suas impressões sobre esse aumento, analisam o mercado cultural, além de levantar os contextos históricos do surgimento desses ritmos na sociedade brasileira, sobretudo baiana. É possível perceber como cada vez se torna mais difícil ligar determinado estilo musical a uma classe social. Em especial, os ritmos populares se misturam, disputam outros lugares, adaptam-se e permanecem como ferramenta de afirmação e distinção indenitárias.
Aponta-se, também, a mudança do perfil das universidades, que têm deixado de abrigar apenas jovens oriundos das classes dominantes – como apontam os professores Tavares e Moura. Para Castro Junior, outro fator que contribui para esse cenário é o baixo nível de instrução da educação brasileira. De acordo com Milton Moura, professor do curso de História e pesquisador em Música, o arrocha ganhou tamanha dimensão, pois, apesar de ter sua origem em locais de convívio de pessoas de pouca instrução, soube se adaptar às temáticas contemporâneas.
O historiador também destaca a sazonalidade do arrocha – que não está restrito ao verão, ou às festas juninas, como é o caso do Axé Music e do Forró, respectivamente – como mais um motivo para estar cada vez mais presente em locais, inclusive, antes pouco pensados. “O arrocha toca o ano todo indefinidamente, perguntei a várias pessoas que me disseram que o arrocha ‘é música de quem tem sentimento e sentimento é o ano todo’. Outros disseram: ‘é música de corno e corno leva o ano todo’. Outros que ‘é música do povão e o povão existe o ano todo”, ilustra Milton.
Em 2009, o pesquisador apontou, em artigo para a Revista Brasileira do Caribe, o quão pejorativa era a “música baiana” para as casas de shows que atendiam à classe média. Moura ainda ressalta que, na época, em uma escala de decadência artística, tocar arrocha seria o degrau mais inferior para esse nicho, cenário distinto do que presenciamos na Grande Salvador.
Mudanças como estas podem ser explicadas por fenômenos recentes. Questões de gosto sempre foram uma forma de distinção social, que, segundo o doutor em Comunicação e Semiótica Maurício Tavares, vinculado ao curso de pós-graduação em comunicação e cultura, foi perdendo valor a partir dos anos 80. “Há, também, o fenômeno que se chama Kitsch, que é um gosto proposital pelo mau gosto, um gosto quase consciente de um mau gosto”, completa. O professor reflete sobre a chegada do arrocha à universidade e chama a atenção para as arrumações que trouxe “uma nova leva de universitários que não foram doutrinados tão rigidamente para padrões de gosto como foram a classe média dos anos 60, 70 e 80”, diz.
Polêmico, o repórter do caderno de cultura do Jornal A tarde, Chico Castro Junior, defende que certos valores, hoje massificados, sejam revistos. “Eu não sou Regina Casé para cair nessa de achar que tudo que vem da periferia é bonito e é gostoso. Não, é legítimo, isso eu não discuto”, critica. Outro ponto destacado por Chico é o fato de as produções culturais terem se tornado meramente mercadológicas, em detrimento da expressão artística. “Os empresários que lidam com estes gêneros (arrocha, sertanejo, brega) têm grana para poder comprar os espaços, e, com isso, não sobra espaço para os artistas livres, que não querem só entreter as pessoas”, diz.
Ouça as entrevistas completas.
Entrevista – Chico Castro Junior
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