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O internauta do reggae

- 11/06/2011

De dentro e fora da rede, Rafael Costa trabalha pelo reggae brasileiro há mais de 10 anos

Por Albano Moura

O Impressão Digital 126 entrevistou o baiano Rafael Costa, um dos fundadores do portal online Surforeggae (www.surforeggae.com.br), que publica diariamente notícias sobre reggae desde 1999.  A melhor “pessoa” para falar sobre Rafael Costa é o seu próprio site, que tem o grande mérito de ser o maior portal online sobre reggae no Brasil. Segundo a definição do site, Rafael é um “colunista, fotógrafo, redator, pesquisador e colecionador de reggae”. A sua experiência na organização de turnês com artistas internacionais é muito vasta, e apresenta vários nomes importantes do gênero, como Lucky Dube, Gregory Isaacs, Andrew Tosh, Groundation, S.O.J.A, Israel Vibration, Alpha Blondy, Don Carlos e Eric Donaldson.

O baiano tem bacharelado em Ciência da Computação pela Unifacs (Universidade Salvador) e está concluindo mestrado em Sistemas e Computação pela mesma instituição. Trabalha no Núcleo de Pesquisa em Redes e Computação – Nuperc, vinculado à Unifacs. O Surforeggae surgiu em 1999, e atualmente mantém uma equipe de quatro integrantes: Rafael Costa, Renato Ribeiro, Rangel Melkunas e Vinícius Fiorentino. O grupo faz contatos com casas de shows, empresários do setor, artistas nacionais e internacionais, gravadoras e selos, além de manter comunicação direta com os internautas que acessam o site. O Surforeggae divulga e produz eventos e turnês, posta notícias sobre os artistas e é atualizado periodicamente com imagens, vídeos e outras novidades, com um índice de audiência respeitável: em média 300.000 visitas mensais. A importância do site para o gênero adiciona mais uma definição para o nosso entrevistado: a de grande internauta do reggae.

Impressão Digital 126 – Qual o diferencial que motiva a grande popularidade do reggae em Salvador?

Rafael Costa – Considero que o Reggae em Salvador faz parte da cultura popular até pela questão das raízes negras do seu povo. Historicamente, sempre foi um fenômeno entre as classes menos favorecidas na cidade, e já foi o ritmo predominante entre elas. Atualmente, o Reggae em Salvador contempla todas as classes sociais e idades e é grande influência também para outros ritmos. O próprio Arrocha, no que diz respeito ao ritmo (musicalmente falando) que é hoje uma das grandes potências musicais baianas se originou de uma das vertentes populares do reggae africano. Existe uma diferença grande entre o público soteropolitano e de outras cidades. Primeiro, em número, o público do reggae em Salvador é seguramente um dos maiores do país. Segundo, a faixa etária é maior do que em outras capitais como São Paulo, onde predomina um público muito mais jovem. Por último, no gênero, em Salvador predomina o público masculino, enquanto em estados como Pará e Minas Gerais predominam pessoas do sexo feminino. Outra grande diferença é na questão econômica. A maioria do público do reggae em Salvador é formado por pessoas humildes e que ganham salario mínimo.

 

 

Impressão Digital 126 – Como começaram as grandes produções (principalmente internacionais) de reggae em Salvador? Quem são os principais agentes no Brasil e em Salvador?

RC – As grandes produções começaram há muitos anos atrás. Já houveram grandes shows no passado, inicialmente motivados por outros artistas baianos e que sempre foram amantes assumidos do reggae como o Gilberto Gil. Nos anos 90 surgiram alguns produtores de eventos que exploraram bem esse mercado trazendo grandes shows de artistas como Ziggy Marley, Steel Pulse, The Wailers, The Starlights, etc. Grande parte desses shows foram em termos de renda e público (como exemplo o show de Gregory Isaacs em 1998 que reuniu mais de 30.000 pessoas). Os eventos quando bem planejados, divulgados e com atrações conhecidas pelo público são rentáveis. Os shows com atrações internacionais podem variar de médio porte (cinco mil pessoas) a grande porte (25.000 a 30.000 pessoas) e são realizados localmente por uma série de produtores como PIDA, Dendê Produções, A Praia Produções, etc. Já como principais fornecedores dos artistas para esses produtores locais estão empresas como Intershows e Casa da Música.

 

Impressão Digital 126 – Qual a visão dos grupos internacionais em relação a Salvador?

 

RC – Salvador é sem dúvida a cidade mais amada do Brasil por 90% dos artistas estrangeiros. Isso é tão notório que o próprio Alpha Blondy incluiu num dos seus mais recentes álbums uma música chamada “Bahia” na qual ele fala em português frases como “Ofereço à Bahia, ofereço à Salvador da Bahia”. Quando os artistas internacionais ficam sabendo que vão tocar em Salvador é um alvoroço geral, é sempre o dia mais esperado e quando o evento corresponde em termos de estrutura e público, é assunto para falarem durante toda a turnê. Não sei explicar o porquê exatamente, mas a cidade é realmente mística e agrada a todos acho que pelo seu povo acolhedor, público numeroso e que vibra a cada música.

 

 

Impressão Digital 126 – Como você avalia a estrutura de Salvador: casas de shows ou outros locais, produtores, divulgação, para receber esses eventos?

RC – Muito aquém em relação a outras cidades. Na realidade, faltam casas de shows para realização de eventos (não só de reggae) em Salvador. Em outras capitais existem muito mais opções de locais e também uma estrutura infinitamente melhor. Em relação à divulgação, geralmente é muito bem feita. Tanto é que consegue atingir público expressivo muitas vezes. Também faltam produtores locais e pessoas que acreditem mais no Reggae, pois, muitas vezes, apesar de ser uma das capitais do reggae no Brasil, a cidade fica fora da turnê de grandes nomes. Isso se dá principalmente por essa falta de produtores locais e pela carência de casas de shows menores que comportem até cinco mil pessoas confortavelmente.

Impressão Digital 126 – Como você vê a cena independente de Reggae em Salvador, em comparativo ao resto do Brasil?

RC – A cena independente é forte, existe uma série de bandas, muitas de qualidade, porém, da mesma forma, não existem espaços alternativos e esse pessoal sofre. É impossível uma banda alternativa de reggae sobreviver da sua arte em Salvador, por essa questão de ausência de lugares para tocar e muitas vezes também porque o público não as prestigia, só vai para os shows internacionais. Em comparação ao resto do Brasil, pode-se dizer seguramente que Salvador é uma das cidades com melhores grupos independentes do país, tanto é que já produziu tanta gente que saiu para o mercado nacional como Edson Gomes, Nengo Vieira, Sine Calmon, Geraldo Cristal, Adão Negro, Diamba, etc.

 

Impressão Digital 126 – Como começou o surforeggae, e qual a sua opinião sobre a utilização da web para promover o Reggae?

RC – O Surforeggae começou como um projeto de final de curso de uma faculdade. Logo após, foi percebido que existia um público grande e uma carência de portais de informação sobre o assunto na grande rede. Portanto, o site foi adiante, formou uma equipe que segue até hoje e se consolidou como um dos maiores sites sobre reggae do mundo. Isso pode ser provado pelo fato de que o mesmo recebeu menção honrosa no Dia Internacional do Reggae (1 de Julho) em 2009, na Jamaica, pelos serviços prestados à música e cultura de lá. A internet se já não é, fatalmente será o maior meio de comunicação do mundo em alguns anos, à medida em que mais pessoas tenham acesso à mesma. Sendo assim, é extremamente importante que a mesma seja utilizada para encurtar as distâncias e promover o reggae como uma grande força musical internacional. Os regueiros-internautas são altamente apaixonados e participativos sempre, contribuem, criticam e estão sempre ligados, não é à toa que o Surforeggae hoje tem uma média de 300 mil visitas mensais. Apesar do site ter apenas sua versão em Português, estamos trabalhando no site novo em outras línguas, que será lançado em breve.

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