Salvador: quem te viu, quem te vê!

- 04/07/2012
Julien Karl e Yuri Rosat

Uma reportagem fotográfica sobre as mudanças nas paisagens urbanas do último século em Salvador.

Um desafio: você consegue imaginar como era a Salvador de 80, 90, 100 anos atrás? Será que seus ícones, seus cartões-postais eram os mesmos? As transformações estruturais urbanas, muitas vezes, passam desapercebidas aos olhos dos seus moradores. Na correria do dia-a-dia, entre engarrafamentos e sinaleiras, a inércia cotidiana não permite um olhar diferenciado sobre a paisagem.

A reportagem do Impressão Digital 126 foi atrás de imagens da época para ter uma ideia melhor de como era Salvador no início do século passado. É sabido que existe uma produção imensa de imagens históricas da cidade. Voltaire Fraga, Evandro Teixeira, Valter Lessa e Pierre Verger são apenas alguns exemplos. Então, como sair do óbvio e buscar referências de uma cidade antiga? Que tal buscar em sua própria população, em suas correspondências, nos costumes, nas sua maneiras de comunicar? Que tal… os postais? Assim, poderemos ter uma noção das principais belezas da época!

Com esse propósito, eis que descobrimos, no Pelourinho, o Museu Tempostal que, há mais de 15 anos, reúne postais antigos de diversos lugares da Bahia. Não hesitamos, fomos ao garimpo de imagens e ainda decidimos refazê-las exatamente da mesma perspectiva. O resultado é um comparativo – vezes surpreendente, vezes impactante – em oito pares de imagens que levam o leitor a um passeio da Barra ao Centro Histórico das primeiras décadas do século XX.

Propomos ao leitor uma posição de testemunha ocular dessas transformações urbanas, comentadas pelo professor titular da Faculdade de Arquitetura da UFBA, Heliodorio Sampaio.

Boa viagem!

O Terreiro de Jesus

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Heliodorio Sampaio:
As modificações no uso da praça e suas vias são claras. O gradeamento foi retirado e houve um redesenho do piso, com retirada da vegetação existente e introdução de outras espécies, tirando o caráter bucólico do ambiente, herdado do século XIX.

Ladeira da Montanha

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HS: Duas transformações mais notáveis são: a verticalização na cidade-baixa, tamponando a vista para a Baía de Todos os Santos (ao fundo), e a construção da segunda torre do Elevador Lacerda sobre a Ladeira da Montanha. Na imagem antiga se vê a primeira torre do elevador, denominado Parafuso, no estilo art déco. Se observa também a evolução dos meios de transporte com a chegada dos ônibus.

Farol da Barra

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HS: A edificação em si sofreu poucas alterações, mais presentes no entorno do forte com a criação de caminhos, a proteção do acesso principal e posteamentos para iluminação da área – que poderiam ser evitados por interferirem no visual da faixada.

Área do antigo Clube Espanhol

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HS: Se observa que a área verde do morro foi suprimida, ao ser tamponada por uma edificação posta no terreno do clube espanhol. Algo só possível pela alteração das normas urbanísticas no presente. Até o séc. XX o morro permaneceu preservado.

Praça da Piedade

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HS: A grande transformação se dá no anexo ao corpo da igreja e no gradeamento da praça da Piedade, uma forma de “proteção” adotada contra o vandalismo e uso predatório do espaço público.

Porto da Barra

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HS: As novas edificações no entorno da Igreja de Santo Antônio da Barra e do forte São Diogo criam um cenário que elimina o caráter mais bucólico da paisagem antiga. A construção do muro de pedras (arrimo) para a construção da Avenida 7 de Setembro também altera a configuração da praia do Porto da Barra.

Bairro da Barra

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HS: A construção do edifício Oceania demarca o início de transformação da Barra, cuja modernização vem retirando o seu caráter de bairro exclusivamente residencial para um “point turístico”, com bares, restaurantes, pousadas e serviços em geral.

Barra Avenida

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HS: A construção de edificações modernas, como o edifício Oceania, vão alterar o bairro e o uso da praia, atraindo atividades de comércio e serviços ao longo da orla ( atual Av. Oceânica). O pacato lugar de moradia se transforma num “sub-centro” que atrai usuários de outros bairros e turistas.

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Tempostal: um museu de postais, há 15 anos, em Salvador.

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