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Leo Kret, a polêmica vereadora trans de Salvador
- 04/07/2012A primeira transexual eleita para um cargo legislativo no Brasil tentará o segundo mandato em 2012.
Fernando Vivas
Embora seja apontado como um dos motivos para o aumento das candidaturas LGBT nesta eleição, o mandato da vereadora Leo Kret (PR), que termina no final de 2012, divide opiniões no segmento. “Ela não fez nada pelos LGBT”, afirma o professor de História da rede estadual, Maurício Valério – a Barbie Flash. Filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), é a única drag queen pré-candidata à Câmara de Vereadores de Salvador. Já a presidente da Associação de Travestis de Salvador (Atras), Milena Passos, discorda. “Ela tem sensibilidade com a causa, mas costuma dizer que a gente não votou nela. Tem muito LGBT fã dela sim, mas é normal que tenham alguns que não simpatizem”.
Tendo o quarto maior número de votos nas eleições de 2008 (12.821 votos), a própria vereadora considera que sua vitória, aos 24 anos de idade, deveu-se à sua fama como dançarina de pagode na banda Saiddy Bamba, além do trabalho de base que realizou nos bairros. “Emagreci 20 quilos subindo e descendo ladeira. O partido não acreditava, então não investia”, conta. Se o partido não acreditava, o movimento LGBT também não deu muita força. “Nenhuma ONG nem militante me apoiou, ao contrário, me criticaram muito”. Apesar disso, tem na ponta da língua seus mais importantes projetos realizados em prol da causa: “A lei de combate a homofobia e a criação do Conselho Municipal LGBT”.
O primeiro é um Projeto de Indicação, pedindo ao prefeito João Henrique a regulamentação da Lei Municipal 5.275/97, decretada pelo ex-prefeito Antonio Imbassahy, em 1997, que penaliza a prática da homofobia em estabelecimentos comerciais e repartições públicas. O segundo está em tramitação desde 2009. O pequeno número de projetos serve de combustível para a comunidade LGBT reclamar da atuação da parlamentar. “Vejo os políticos simpatizantes indo à luta e levantando a bandeira mais que a vereadora Leo Kret”, reclama a universitária transexual Jeane Louise, de 19 anos. Ela costuma ter sempre a mão uma cópia do Projeto de Lei nº 29/09, da vereadora Marta Rodrigues (PT), que exige respeito ao nome social dos travestis e transexuais nos órgãos públicos e privados. “Agora assino meu nome social até nas provas da faculdade”, comemora.
Bullying – O mandato de Leo Kret é polêmico desde o primeiro dia, quando, durante a posse, foi retocar a maquiagem no banheiro feminino e virou notícia nos jornais. Um gesto prosaico, mas que tinha um significado especial para a vereadora. Seis anos antes, pintar os olhos com lápis delineador lhe custou caro. “Minha mãe me tirou do Colégio Central porque os professores reclamaram que eu estava me maquiando”, revela a atitude radical dos pais, envergonhados com o “jeito estranho” do filho mais novo. “Na escola todo homossexual sofre bullying. Acho que somos os campeões, mais que os gordinhos”, e continua: “O homossexual ainda tem como esconder, fingir que é menininho. Mas a gente não, meu amor, já tem um brilho no olhar, um pescoço que mexe, um rebolado diferente”.
Sem estudar, ficava trancada em casa. “Eles não me deixavam mais nem sair pra rua”, lembra. Encontrou solução na dança: “Andava de Pernambués, onde morava, até a Rótula do Abacaxi para ensaiar no Grupo Balancê”. Pensando nesse episódio, Leo Kret criou o projeto de lei que inclui a dança no currículo das escolas municipais. “Acho muito importante as crianças mostrarem sua veia artística, porque é a idade para se fazer um balé profissional. Eu descobri o meu dom desde pequena, mas ninguém levava a sério. Só comecei a dançar profissionalmente com 19 anos”, lamenta.
“Vereadora combatente” – Se a comunidade LGBT reclama da atuação de Leo Kret na Câmara, o mesmo não acontece entre os seus colegas vereadores. “A Leo Kret tem sido uma vereadora combatente, mas ainda encontra resistência não só dentro do parlamento, mas na própria sociedade que ainda é muito conservadora”, defende seu colega de partido, Isnard Araújo. Ele, que além de vereador é pastor da Igreja Universal, lembra que Leo Kret aprovou projetos importantes para a cidade, como, por exemplos: a criação do quarto circuito de carnaval, o Mãe Hilda Jitolu, que deverá ser implantado no próximo ano, na Liberdade; a regulamentação dos mototaxistas; a criação do OCA (Orçamento Criança e Adolescente), mecanismo para fiscalizar as verbas do Orçamento Público na área da criança e do adolescente; a criação do Dia da Favela, 23 de abril, data dedicada a mutirões de ações sociais no subúrbio.
“Leo Kret veio de outra esfera sem experiência política, mas vem ganhando maturidade e já está separando as ações que fazia antes de ser vereadora e agora”, avalia o corregedor-geral da Câmara Municipal, Alcindo da Anunciação (PT). Ele assinala que já analisou denúncias de quebra de decoro parlamentar da vereadora, por ela ter postado uma indiscreta foto em seu twitter, numa posição em que aparece um seio e por participar do reality show O trio, da TV Aratu. “Acredito que ela se elegeu pelos votos de protesto, mas, nas próximas eleições, as urnas vão avaliar seu desempenho como política”.
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