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Por dentro do CAPS
- 11/03/2013Entender o funcionamento desses centros é fundamental na nova configuração representada pela reforma psiquiátrica
Iasmin Sobral e Rita Barbosa
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são ferramentas indispensáveis no novo modelo de saúde mental brasileiro. Com o implemento da Reforma Psiquiátrica e, consequentemente, o apelo antimanicomial atrelado a ela, os CAPS surgem como rede alternativa aos Hospitais Psiquiátricos.
O objetivo desses centros é oferecer atendimento gratuito à população e buscar a reinserção dos pacientes na sociedade, o que ocorre através do incentivo à autonomia do paciente e responsabilização do usuário e de sua família sobre os resultados do tratamento. As unidades funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Durante a noite e também nos finais de semana e feriados, os pacientes são liberados e retornam às suas casas. Os CAPS não possuem capacidade para internação e, caso seja necessário, devido a surtos ou crises, o paciente é encaminhado aos próprios Hospitais Psiquiátricos. Lá recebem tratamento e medicamentos e, quando necessário, isolamento.
O problema é que esses locais não oferecem a atenção e companhia de funcionários já conhecidos, atenção que muitas vezes contribui na melhora do estado mental. É o que diz Gilka Freitas Tourinho, psicóloga do CAPS Oswaldo Camargo, localizado no Rio Vermelho. “Chega lá [no Hospital Psiquiátrico] só em crise, não tem vinculo nenhum com aquelas pessoas. A companhia de conhecidos ajuda a equilibrar. Seria bem melhor ser internado no próprio CAPS dele”.
Outra diferença desse modelo é a permanência dos pacientes. Durante o tempo em que estão no CAPS, praticam atividades de lazer e recreação, como aula de mosaico, capoeira, grupos de leitura e caminhadas. Através das atividades, o paciente é levado a se conectar com o mundo em que vivemos, recriando seus vínculos com o “real”.
Dessa maneira, a família assume um novo e mais importante papel, já que os pacientes não ficam enclausurados nos hospitais. O apoio dos entes mais próximos se torna fundamental no tratamento, já que a relação com o doente mental contribuirá (ou não) para melhoria do estado psíquico do mesmo e para o fortalecimento dos laços familiares e comunitários.
Ana Lucia Silva, mãe de Valfredo Silva, 28, afirma que os centros ajudam muito a amenizar o problema do filho, esquizofrênico. “Ele começou a apresentar sinais com 14 anos. Agora ele tem 28 e estamos aqui há três anos. Hoje só venho de 15 em 15 dias pegar os remédios. Ele vem comigo, conversa com a médica e depois somos liberados. (…) Isso aqui é maravilhoso! Ele adora tudo aqui, o almoço, as aulas de pintura, tudo”.
Informações técnicas – Existem três tipos de CAPS. O CAPS I é voltado para municípios pequenos, o II para cidades de médio e grande porte, como metrópoles e capitais, enquanto o III é destinado à clientela adulta e aos usuários de drogas. Em Salvador, existem em média 20 CAPS espalhados por diversos bairros, incluindo Pirajá, Águas Claras e Cajazeiras. Não existe ainda CAPS III na cidade. O único inaugurado foi fechado por falta de medicamentos e instrumentos necessários a um atendimento e acompanhamento satisfatórios.
Os CAPS recebem, normalmente, 300 pacientes por mês. Esse número varia, pois muitos dos pacientes só comparecem aos Centros para receber medicamento e realizar uma manutenção periódica. Apesar dos inúmeros planos e ideias para melhoria e fixação dos CAPS como forma de tratamento alternativa e menos agressivo aos portadores de doenças mentais, o descaso ainda é grande e atrapalha diretamente na estruturação desse novo modelo psiquiátrico. Para a psicóloga Gilka, é necessário mais investimentos do Governo. “A reforma funciona, mas ainda está devagar. A geração de renda parte do Governo. O doente mental tem que ter uma ajuda, um espaço específico pra o que ele pode fazer ser revertido em renda”.
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