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A Apae e os desafios do acesso em Salvador
- 11/07/2011As carências da cidade em relação às facilidade de acesso aos deficientes
Por Leonardo Pastor e Naiá Braga
“Uma coisa é acessibilidade física, arquitetônica, outra coisa é a mudança de paradigma, de preconceito que as pessoas ainda têm em relação à deficiência.” Assim, Maria do Carmo Britto de Morais, presidente da Associação de Pais e Amigos dos Exepcionais (Apae), da unidade de Salvador, coloca em evidência um ponto fundamental nas discussões que envolvem deficiência e acessibilidade. A reformulação do conceito de “acessibilidade” é o grande desafio das instituições que lidam com a pessoa portadora de deficiência no Brasil. De acordo com a presidente, o tema ainda precisa ser discutido em espaços de ampla difusão de conhecimento, como as escolas, o que implicaria diretamente na mudança de mentalidade das pessoas.
Atualmente, a Apae Salvador trabalha com a inclusão de 178 crianças que ficam na instituição duas vezes na semana e os outros dias em escolas regulares. Depois de completarem 16 anos, os jovens são encaminhados ao Centro de Formação e Acompanhamento Profissional (Ceduc), onde são avaliados em relação às suas habilidades e são encaminhados para as oficinas. Segundo Maria do Carmo de Morais, durante as atividades realizadas nestas oficinas os jovens são preparados para a inserção no mercado de trabalho, e, a depender do tipo de deficiência, a preparação pode ser mais lenta ou mais rápida. Hoje, a Apae Salvador trabalha em parceria com 46 empresas e possui 206 jovens atuando no mercado de trabalho. Em 2010, o programa de inclusão capacitou 570 profissionais da rede regular de ensino.
Questionada sobre as principais dificuldades encontradas em Salvador, Maria do Carmo de Morais afirma que a estrutura arquitetônica da capital baiana ainda é um desafio a ser vencido. Além disso, a criação de leis no município precisa contemplar a inclusão das necessidades dos portadores de deficiência. Morais afirma ainda que é necessário existir “demanda política” para a efetivação de obras ou projetos em prol da pessoa portadora de deficiência. Segundo ela, sem demanda política do tema, os orçamentos municipais ou estaduais nunca irão prever a consolidação de projetos específicos para o deficiente. A Apae Salvador participa da Comissão Civil de Acessibilidade de Salvador, integrante das discussões dos projetos urbanísticos da cidade. A instituição participa também de conselhos de direitos e assistência dos portadores de deficiência, a exemplo da Câmara de Políticas Públicas e da coordenação do Fórum da Criança e do Adolescente.
Falta de conscientização – As reclamações em relação à estrutura da cidade é algo que surge especialmente por parte dos que enfrentam diretamente este problema. Mila Correa D’Oliveira, 23 anos e bacharel em Direito, diz que “a cidade é caótica para o deficiente”. Ela possui amiotrofia espinhal tipo II, não andando desde os 4 anos e necessitando de cadeira de rodas desde os 8. “As calçadas são impossíveis de se andar, não há rampas nem piso adequado. Não se vê semáforos sonoros, se vê pouco piso tátil e vagas para carro são feitas de qualquer jeito, sem seguir a norma, e ainda nem são respeitadas”, reclama. Além da estrutura urbana, o transporte público, além de receber críticas de grande parte da população de Salvador, ainda não se mostra satisfatório em acessibilidade para os deficientes físicos.
Toda a questão da acessibilidade, porém, passa por políticas de conscientização. Segundo Mila Correa, as pessoas em geral ainda não se acostumaram a lidar com deficientes, desrespeitando vagas de estacionamento e acesso a banheiros especiais com portas maiores. “Se você não conhece o “diferente”, você não o respeita. Vai ser difícil as pessoas entenderem o por quê de uma vaga acessível, de um piso tátil, se elas não pararem para perceber o outro, suas necessidades, suas capacidades e, acima de tudo, como o diferente pode ser bem semelhante a você, com os mesmos desejos, medos e anseios”, desabafa.
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