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“A Bahia está à margem da fotografia nacional”
- 16/07/2013O fotógrafo Adenor Gondim fala sobre a produção fotográfica em Salvador hoje
Daniele Rodrigues e Wendell Wagner
O Impressão Digital 126 entrevistou o renomado fotógrafo Adenor Gondim a fim de saber como ele pensa e faz fotografia ao longo dos anos, as mudanças e novas perspectivas. O fotógrafo nascido em Rui Barbosa, no interior da Bahia, deu seus primeiros passos na fotografia ajudando o pai na produção de retratos 3×4. Formou-se em Biologia, mas dedicou sua vida à fotografia e desde a década de 80 registra aspectos da cultura, religiosidade e cotidiano da Bahia.
Impressão Digital 126 – Você poderia falar um pouco sobre sua relação com a fotografia, enquanto meio artístico e profissional?
Adenor Gondim – A fotografia é amiga, é amante, companheira, é inimiga, é perversa, é chata, mas tudo isso leva a uma coisa chamada paixão. Você nunca a conhece profundamente, você convive, ama, odeia, mas nunca tem domínio sobre ela, seja em qualquer área que você atue, ela está aí para ser conquistada.
ID 126 – Qual sua análise sobre a produção fotográfica hoje em Salvador?
AG – É muito confusa! Tem algumas pessoas que estão começando a andar, né? Mas a fotografia após o Movimento Foto Bahia perdeu o dom, pois até o início da década de 1980 esse movimento levou a uma socialização e a difusão de ideias e conhecimentos em contrapartida aos que se achavam os poderosos e se guardavam antes do movimento. Hoje está difícil, a sobrevivência profissional dificulta um pouco a aproximação das pessoas. Temos o Labfoto, o Panorama Fotográfico, o Salvador Foto Club, a Casa da Fotografia, a Oi Kabum, mas não tem uma unidade. A Bahia está à margem da fotografia nacional, a gente pode produzir, mas no envolvimento, nos eventos, estamos atrás.
ID 126 – Você enxerga que a internet, além do uso de vários dispositivos, tenha transformado esse quadro?
AG – O tsunami da fotografia digital transformou todo mundo em fotógrafo, mas existe uma diferença entre uma grande foto e uma grande história, um grande acervo. A garotada que está começando agora tem que aprender que é preciso caminho longo e paciência, e também, auto perdão porque às vezes você passa o dia todo na rua e não sai nada, às vezes a foto está na porta da sua casa.
ID 126 – Quais as principais diferenças, principalmente de divulgação, do trabalho fotográfico?
AG – Isso é uma coisa que muda mesmo, é um mercado onde você tem de tudo. O interessante é que tem o período de publicação de fotos dos cachorros, dos gatos no Facebook (risos). Você tem onde compartilhar. Quando eu fiz um blog, eu conheci muitas pessoas, me aproximou de gente que gostava da minha fotografia. A diferença da minha relação com o blog e o Facebook é que o primeiro me trouxe dinheiro. Clientes viam meu blog, gostavam do meu trabalho e vinham falar comigo, chegando até a uma produtora carioca me contratar para fotografar em Belém. Já o Facebook é bom para mostrar o trabalho, falar com os amigos, mas até hoje só me deu trabalho.
ID 126 – Falando sobre investimentos, você acha que existem mais projetos para incentivar a fotografia?
AG – O único evento significativo relacionado à fotografia em Salvador é o A gosto da Fotografia, mas não é valorizado. Eu faço parte de um Fórum de fotógrafos formado por representantes de “grupos” Foto Bahia, Labfoto, Salvador Foto Clube, Fototech, Cipó, Casa da Photografia, estamos nos reunindo com vários objetivos: de reivindicar um setor de fotografia no organograma da Fundação Cultural do Estado. A revisão do Prêmio Pierre Verger, além de um prêmio estadual. Percebemos que os fotógrafos não sabem se apresentar nem editar seu material. Nossa luta é para que haja uma política estadual de fotografia. Existem editais que a fotografia pode participar, mas não tem ninguém lá dentro que defenda e estruture. A aproximação com os fotógrafos do interior do Estado.
O que importa neste momento é que o coletivo deve prevalecer e não o individual.
ID 126 – Para finalizar, fale um pouco dos seus projetos pessoais
AG – Eu, Célia Aguiar e Justino Marinho estamos a todo vapor tocando um projeto do I Festival internacional de Fotografia da Bahia em Cachoeira e São Félix.
Minha maior preocupação com a fotografia hoje é com o futuro do passado. Quem viveu aqui e o que fez. Teríamos o lançamento de dois livros, um sobre a memória fotográfica de Cachoeira e São Félix, e outro de Flávio Barros sobre o final da guerra Canudos.
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