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“A letra é muito bonita porque é uma exaltação da mulher”

- 23/01/2017

 

Alessandra Oliveira e Hilza Cordeiro

Rick Sollo, nome artístico de Geraldo Antônio de Carvalho, aos 12 anos formou, com sua irmã, Dalva, a dupla Sereno & Serenata. A banda não durou muito. Por ser mulher, o pai proibiu que a irmã cantasse na noite.  A fama veio com uma nova dupla: Rick e Renner, que emplacou, em 1998, ao interpretar Ela é Demais, do compositor Elias Muniz. O sucesso rendeu um disco de ouro pela venda de mais de 100 mil unidades do álbum Mil Vezes Cantarei. Com mais de 25 milhões de CD’s vendidos, Rick e Renner se separaram em 2015. Em carreira solo, ele acha improvável um retorno da dupla. Nesta entrevista, Rick conta sobre a relação com Renner e analisa a música que os impulsionou e é tema da trilogia do ID 126, edição 2016.2.

Impressão Digital 126: Elias Muniz compôs a música Ela é Demais, que fez sucesso na sua voz e de Renner.  Como foi o contato com Elias?
Rick Sollo: Na verdade, o Elias entrou já no primeiro CD da dupla, quando estávamos começando, com uma canção que foi um dos grandes sucesso. Chamava Você Decide. Então continuamos gravando músicas dele. Quando fomos gravar o quinto disco, eu já conhecia Ela é Demais na voz dele, de uma forma bem romântica. A letra é muito bonita porque é uma exaltação da mulher. Mas queria gravar em outra linguagem, a nível de arranjo. Como pagode e samba estavam estourados na época, colocamos Ela é Demais em um ritmo de pagode romântico. Não sei se juntou a letra ser maravilhosa com um ritmo que tava na moda, mas virou um sucesso no Brasil todo. Colocou a gente para a grande mídia no eixo Rio-São Paulo. Foi uma coisa maravilhosa.

ID 126: Você conhece a história da música? Que mulher inspirou Ela é Demais?
RS:
Como o Elias é um poeta nato, muito bem resolvido emocionalmente, acredito que ele tenha feito a canção inspirado na mulher dele. É uma música muito direta, não tem muita metáfora. Por ser tão explícito, acredito que tenha sido para ela.

ID 126: Ela é Demais te rendeu muitos prêmios. Existe algum que você destacaria?
RS:
Na verdade, a gente ganhou praticamente tudo a nível de premiação. Talvez não pela questão do valor financeiro, mas, pelo emocional, eu destaco o Disco de Ouro que Rick e Renner ganhou. O disco de ouro era o que todos os artistas queriam ganhar. Uma coisa que a gente buscava.

A dupla Rick (esquerda) e Renner (direita) se separou em 2015. Foto: Divulgação

ID 126: O que você lembra de ter comprado com o que arrecadou com música Ela é Demais?
RS:
A música colocou a gente no patamar de grande artistas e, a partir daí, você começa a ser valorizado muito mais, os cachês melhoram. A música foi o pontapé inicial de Rick e Renner. Não vou citar um bem ou outro, mas tudo aconteceu partir dali.

ID 126: No nosso produto, a deusa simboliza o poder feminino, a louca se refere à mulheres que não se encaixam em padrões impostos e a feiticeira tem ligação com a sensualidade. Mas, para você, o que é uma deusa, uma louca, uma feiticeira?
RS:
Quando falo de deusa, imagino uma mulher perfeita. Não a nível físico, mas aquela mulher que vai te completar. A louca seria uma mulher sem limites nas atitudes de prazer. E a feiticeira, aquela que domina o homem, se faz sedutora, poderosa na vida do cara. Consegue tudo que ela quer a nível de sedução.

ID 126: Outras músicas românticas já fizeram sucesso na sua voz. Você também compôs canções que foram interpretadas por Zezé de Camargo e Chitãozinho e Xororó. Qual o segredo de uma boa música romântica?
RS:
Precisa ser completa. Tem que ter uma letra interessante e, acima de tudo, verdadeira. O amor em si precisa de verdade. Ter uma melodia rica que case com a letra. E acertar o arranjo da música. Se a produção do arranjo for errada, acaba não rendendo. Em toda e qualquer música, uma coisa tem que andar literalmente junto com a outra. Aliado a isso, precisa ter uma interpretação que vá surpreender. Uma música boa mal cantada se torna ruim.

Antigamente, as pessoas falavam muito que mulher não dava certo com sertanejo. Hoje, a gente vê que bastava a mulherada fazer algo que o público queria ouvir. Acho que a mulherada está fazendo melhor que os homens

ID 126: O que você escuta da cena atual sertaneja? Destacaria algum trabalho?
RS:
Tem muita gente boa no mercado hoje. Se eu tivesse que destacar uma dupla promissora, que, na verdade, já é uma realidade, seria Marcos e Belutti. Eles fazem um trabalho maravilhoso, cantam muito, além do repertório deles. Tem também um trabalho maravilhoso de produção de disco. No solo, gosto muito do Luan Santana. Acho que se o Gusttavo Lima souber cuidar da carreira, também vai longe. Tem umas duplas boas que ainda não são muito conhecidas, como Bonni e Belluco.

ID 126: A presença masculina sempre foi muito forte no sertanejo. Sua própria irmã foi proibida de cantar na noite por seu pai. Agora as mulheres têm avançado no gênero. O que você acha desse movimento?
RS:
Acho maravilhoso. Antigamente, as pessoas falavam muito que mulher não dava certo com sertanejo. Hoje, a gente vê que bastava a mulherada fazer algo que o público queria ouvir. Acho que a mulherada está fazendo melhor que os homens.

ID 126: Como você analisa o mercado musical brasileiro? Mudou muita coisa desde o sucesso de Rick e Renner?
RS:
O mercado hoje está muito corrompido. Para tocar na rádio tem que gastar milhões de reais. Antigamente se valorizava muito a música boa. Era preciso ter música boa e cantar pra fazer sucesso. Hoje, precisa ter dinheiro. Falo até a nível de cultura. Não tem como falar de cultura hoje no Brasil por esse lado. As pessoas estão muito preocupadas em fazer tocar a música do que com a qualidade. Se botar um cachorro no estúdio e acrescentar um ritmo e tiver dinheiro, você vende. Mas acho que quem gosta de música de boa, sabe onde encontrar.

ID 126: Qual sua ligação com a música baiana? Quais foram suas principais parcerias com cantores daqui?
RS:
Sou muito intimista, mas gosto do ritmo. A Bahia me leva exatamente a essa coisa do ritmo, com uma música muito percussiva. Lógico que tem também outros ritmos, tem música romântica, mas acho que o coração da Bahia é essa coisa mais dançante. Sempre tivemos uma relação boa com a música baiana. Destaco uma parceria com Luiz Caldas e com Terra Samba. Sempre gostei demais. Sou muito amigo do Xanddy, de Tatau, do próprio Luiz Caldas, Ivete Sangalo. São artistas que a gente não tem muito o que falar para não ficar redundante. Temos profundo respeito e carinho.

Rick e Renner cantaram juntos por 25 anos | Foto: Reprodução

Era preciso ter música boa e cantar pra fazer sucesso. Hoje, precisa ter dinheiro.

ID 126: Como tem sido a nova fase solo após a separação de Renner em 2015?
RS:
Eu me surpreendi com a carreira solo. Imaginei que fosse muito mais difícil. Éramos uma dupla muito querida, que as pessoas curtem muito, com repertorio muito bom. Tinha preocupação da rejeição da carreira solo, de não conseguir levar público ao show. Mas continuo trabalhando para caramba aqui e fora do Brasil, fazendo músicas do mesmo jeito.

ID 126: A relação entre vocês continua a mesma?
RS: 
Depois da separação houve um desconforto. Renner não queria acabar e eu, sim. Foi uma decisão minha. Não conversamos por um tempo. Mas ele entrou em contato comigo durante um trabalho nos Estados Unidos e voltamos a nos falar. Temos nos falado muito. Ele até fez uma dupla com meu sobrinho e perguntou se eu apoiava. Não sei se vai continuar, mas apoio. O que eu puder fazer por ele, eu vou fazer, vou ajudar. Mas não existe nenhuma possibilidade de retorno da dupla.

ID 126: Quais são as novidades de Rick Sollo? O que você pode adiantar para gente?
RS: Vou lançar uma música nova em parceria com Eduardo Costa, que vai ser minha nova música de trabalho. Convidei ele para tocar comigo. Devo lançar no comecinho de fevereiro. Se chama ‘Essa Moda do Amado’, em homenagem ao Amado Batista. Vai ser para cima, no modão que a galera está usando agora. Um cara apaixonada em uma bebedeira no bar, com música no fundo. Tô preparando um DVD também. Então é isso. Continuar trabalhando.

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