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“A música me ajudou muito no decorrer da minha vida”
- 09/09/2013Graduado em musicoterapia pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal), Marcos Welby Simões Melo, 40 anos, também é cantor e professor de fonoaudiologia. Sempre ligado à música, preparou outros fonoaudiólogos para atender cantores, ensinando-os a compreender as questões musicais. Hoje, dedica-se à carreira de músico e é professor de educação na Faculdade Olga Mettig. Em entrevista para o Impressão Digital 126, Welby fala sobre sua paixão pela música e sobre os benefícios da musicoterapia.
Cátia Lima e Lilian Galvão
Impressão Digital 126: A musicoterapia tem tido uma atuação relevante, com resultados comprovados, porém sem reconhecimento do público em geral. O que fazer para a prática ser mais conhecida?
Marcos Welby: Se a fonoaudiologia ainda não é tão conhecida, imagine a musicoterapia. As pessoas não têm noção do que é a musicoterapia na prática e seus benefícios em diversas áreas como na saúde, educação, na interação social. Precisamos divulgar mais a prática com ações, palestras, mostrar os benefícios da musicoterapia, que precisa ser mais conhecida para ser mais aceita.
ID 126: O senhor trabalhou um bom tempo na área clínica. Qual era o público específico?
MW: Atendia crianças com dificuldades de linguagem, de comunicação. A música as ajudava a melhorar a fala e o relacionamento com os outros. É necessário que as pessoas compreendam que a musicoterapia não é só para tratar pessoas doentes, mas também para promover qualidade de vida.
ID 126: O senhor é deficiente visual desde os 12 anos. Trabalhar com a música foi uma maneira de suprir a falta da visão?
MW: Na verdade, eu busquei a música por uma identificação de habilidade com os instrumentos musicais como violão, flauta, piano, além de cantar muito. Claro que a música me ajudou muito no decorrer da minha vida, me ensinou a ser mais paciente e organizado. Gosto tanto da música, que assim que terminei o curso de musicoterapia na Ucsal, fiz música na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
ID 126: Quando o senhor ingressou na faculdade, aos 20 anos, teve dificuldade por conta da deficiência visual?
MW: A matrícula no vestibular foi acessível por conta da prova ser em braile. Mas, quando já estava na faculdade e o professor pedia a leitura de livros que não tinha em braile, tinha dificuldade de entender os assuntos. Muitos colegas meus me ajudaram muito lendo textos para mim. Cheguei a pensar em desistir da graduação, mas me encorajei pela determinação que tenho.
ID 126: A Ucsal era uma das poucas universidades que oferecia o curso de graduação em musicoterapia e hoje não oferece mais. A falta da graduação na área prejudica a formação de novos profissionais?
MW: A graduação em musicoterapia da Católica funcionava nas dependências do Instituto de Música. O problema principal é que a maior parte dos professores vinha do Rio, o que encarecia o curso. Era enorme a despesa com as viagens dos professores a cada mês, porque eles não moravam em Salvador. Agora temos cursos de especialização em musicoterapia oferecidos em algumas faculdades.
ID 126: : Então os musicoterapeutas podem ser graduados em outras áreas?
MW: Os musicoterapeutas podem ser graduados em psicologia, música ou em outras áreas e fazer uma especialização em musicoterapia. O importante é que tenham um sólido conhecimento musical e dominem um ou mais instrumentos.
ID 126: A musicoterapia usa a música para alcançar o bem estar. Pode ser direcionada para alcançar respostas na área emocional ou física?
MW: A música pode trazer benefícios na saúde mental, motora e no aprendizado. E pode ajudar na recuperação dos pacientes, tornando a fisioterapia prazerosa. A musicoterapia é mais antiga do que qualquer outra ciência. Na Bíblia temos a história de Davi que tocava harpa e cantava para acalmar o rei Saul. Na antiguidade os gregos já usavam a música com a finalidade de cura. Definiam intervalos musicais para alcançar resultados específicos como alegria ou relaxamento.
ID 126: Quais os maiores benefícios da música?
MW: A música é fundamental na vida social e psicológica do ser humano. A música é uma linguagem, uma forma não verbal de comunicação. E a voz também é música. Nós falamos de forma diferente, a inflexão vocal varia quando nos dirigimos a uma criança ou a um adulto, por exemplo. Amo trabalhar com música, tanto na área artística quanto na educacional e terapêutica.
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