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A religiosidade está na moda

- 04/07/2012

Em um Brasil com forte presença religiosa, o que é sagrado também faz parte das roupas e acessórios

Tarsilla Soares e Vanessa Caldeira

Vestido da coleção “Do espiritual na arte”, da estilista Carol Barreto, na cor branca referenciando a inspiração étnico-racial | Crédito: Rômulo Alessandro

Peças como crucifixos, colar de contas, além de imagens de santos, estão cada vez mais presentes na moda brasileira. A partir de um contexto de ampla aceitação, esses acessórios com temas ancestrais garantem seus lugares nas vitrines e revelam uma inspiração distante das tendências: a fé.

“As peças com temáticas religiosas ou místicas são as que possuem maior regularidade nas vendas, elas não saem de moda, fazem parte sempre de meu catálogo”, afirma Ana Paula Andrade, proprietária de marca Dona Filó Acessórios, que comercializa itens diversos para lojas em Salvador. “Essas peças são compradas por mulheres de todas as idades: as meninas preferem a mistura de materiais, como imagens com pulseira de couro e itens místicos: figa, olho grego, sal grosso, pimenta. Já as clientes mais velhas preferem as medalhinhas associadas a materiais mais clássicos, como pulseira de elo, por exemplo”.

Entendendo moda como uma expressão visível da identidade e subjetividade do indivíduo, Carol Barreto, estilista e docente do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Ufba (Neim-Ufba), acredita que o uso de peças religiosas sobrevivem e ampliam-se pela independência do carater efêmero que caracteriza a moda. Para ela, por meio da aparência, há o registro de crenças e costumes. “Naquilo que vestimos, está uma expressão visível de identidade e subjetividade, e também o apego ou não à tradição”.

Tradição – O contexto religioso brasileiro é um indicativo para compreender o sucesso das estampas e peças religosas nas ruas. Segundo estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas em 2009, juntamente com o Centro de Políticas Sociais, a partir do cruzamento de dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 93,28% brasileiros se dizem parte de alguma crença. O estudo faz um comparativo com os anos de 1993, 2000, 2003 e 2009 em que o número dos ditos sem religião permanece abaixo dos 10% (dados confirmados pela mais recente pesquisa publicada pelo IBGE em junho de 2012).

Mesmo optando por uma religião específica, não é difícil encontrar pessoas exibindo peças de diferentes crenças. “Eu me sinto muito mais protegida quando estou com minha correntinha”, afirma Brisa Torres, 21 anos, estudante que não tira sua corrente prendendo dois pingentes: um crucifixo e um olho grego “para espantar o mau olhado”.

Gráfico comparativo das principais religiões ao longo dos anos no Brasil | Crédito: CPS/FGV, com dados do IBGE

Sagrados – Para a Igreja Católica, o uso de elementos religiosos requer cuidado. De acordo com frei Mário Sérgio Souza, do Convento Santo Antônio, em Feira de Santana, a igreja tem suas restrições ao emprego dessacralizado dessas peças. “Todas têm uma função ritual ou de culto. Geralmente são objetos abençoados pelo padre e que assumem uma aura de sagrados”.

Para a estilista Eunice Costa, que é adepta do candomblé, é preciso ter respeito aos objetos sagrados da religião. “Sou contra a utilização dos elementos do candomblé no Carnaval, por exemplo”, afirma. “Produzo minhas peças inspiradas no candomblé, mas apenas faço simbologia, não uso as ferramentas dos orixás, como vejo muitos fazendo, sem nem mesmo saber o seu real significado”.

Já Madalena Bispo, mais conhecida como Madá, proprietária da marca Negrif e coordenadora do curso de moda da ONG Omidudu (Resgate e Preservação da Cultura Afro Brasileira), acredita que a utilização de elementos religiosos é uma questão “de identidade, de auto-afirmação, de se sentir bem com determinada peça que de certa forma diz quem você é”.

Vestido branco com aplicação de releitura de colares de contas da estilista Carol Barreto | Crédito: Rômulo Alessandro

 

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