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A sustentável leveza de não ser mãe
- 02/03/2017Por que cada vez mais mulheres escolhem a não maternidade
Lara Pinheiro | Foto: Anália Freitas /Arquivo pessoal
Menos mulheres estão tendo filhos no Brasil: é o que mostra a última Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2015. Segundo o estudo, entre os anos de 2004 e 2014 a taxa de fecundidade no país caiu de 2,14 para 1,74 — ficando abaixo da taxa de reposição populacional, que é de 2,10. A maternidade vai deixando, aos poucos, de estar necessariamente ligada ao ser mulher.
A pesquisa também mostra que, em 2014, os casais sem filhos eram uma de cada cinco famílias brasileiras, sendo o segundo arranjo familiar mais comum no país. Mesmo com essas novas tendências, as mulheres que optam por não se tornarem mães ainda se veem, frequentemente, tendo que justificar suas escolhas. O ID conversou com três delas:
Cristina Silva, 53, representante comercial, em um relacionamento estável há mais de 20 anos; ela e o parceiro, que tem 3 filhos, moram em casas separadas
“Acho que fiz uma boa escolha — sempre soube que não queria filhos. Acho que criar um indivíduo é muita responsabilidade. Pra ser mãe, você tem que abrir mão de muita coisa, tem uma doação muito grande de tempo e disposição, e eu simplesmente não estava disposta. As pessoas achavam que eu tinha algum problema de saúde, e por isso não queria.
Não parto do princípio de que toda mulher nasceu pra ser mãe
Eu adoro criança… dos outros. Não tenho nada contra criança, acho uma gracinha, convivo muito bem com criança. Sou muito próxima da minha afilhada, participo muito da vida dela, mas não sinto falta de ter sido mãe. Se me arrependesse, adotaria, mas não sinto falta. Não parto do princípio de que toda mulher nasceu pra ser mãe. As pessoas perguntavam: “mas e na velhice, quem vai cuidar de você?” Filho não garante nada”.
Anália Freitas, 32, servidora pública federal, solteira
“Com uns 29 anos, mais ou menos, comecei a pensar que não queria filhos. Ter filho nunca foi um sonho. Depois que eu fiquei solteira, fui percebendo que a vontade de ser mãe não existia em mim. Até mesmo apaixonada, eu não me via criando um filho. Como eu viajo bastante, já escutei até que “quando você enjoar de viajar, vai querer”.
As pessoas acham que ter filho é uma condição de ser mulher
Eu consigo entender a felicidade das minhas amigas que são mães, mas as minhas amigas que são mães querem que eu seja, elas não conseguem entender. As pessoas mais próximas acham que ter filho é uma condição de ser mulher. Não costumo dizer aos caras com quem eu não tenho intimidade que eu não quero filhos; é muito fácil para o homem dizer que quer, porque ele não vai ter que passar pela gravidez, pela amamentação. Eu acho que eu seria uma boa mãe, mas a resposta é que eu simplesmente não quero”.
Ana Beatriz Carneiro, 46, bacharela em Direito, casada há 18 anos
“A primeira vez que eu pensei sobre não ser mãe foi num encontro de casais prestes a se casarem, quando estava noiva. O palestrante falou que achava egoísmo as pessoas simplesmente não terem filhos, e eu discordei. Essa questão foi crescendo para mim aos poucos: quando eu e meu marido casamos, pensamos em deixar os filhos para mais tarde, mas eu nunca senti o desejo de ser mãe.
A fase mais curta na maternidade é a de criar uma criança. O filho vai ser adulto por muito mais tempo
As pessoas vinculam o querer ter filho a não gostar de criança, e isso é um equívoco. A fase mais curta na maternidade é a de criar uma criança. O filho vai ser adulto por muito mais tempo. Eu sou ótima pra levar meus sobrinhos pra passear, mas eu nunca quis o “para sempre”, a responsabilidade. Eu não me arrependo — e quanto mais o tempo passa, mais percebo como é ótimo ser tia!”
“É pra não engordar?”
O ID perguntou às entrevistadas quais são os comentários mais absurdos que elas ouvem ou já ouviram sobre a não maternidade. Confira abaixo:
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Dica: No livro Sem Filhos, a autora Corinne Maier “analisa a onda de idealização e glamourização da maternidade e coloca em xeque um dos tabus mais intocáveis da sociedade: a necessidade de ter filhos.” (Editora Intrínseca).