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Analógico X Digital: uma discussão sem fim

- 16/07/2013

Em um mundo cada vez mais digital, os discos de vinil, que marcaram época no passado, aos poucos retornam ao mercado com força renovada

Lilian Galvão e Tácio Santos

O Compact Disc foi idealizado com o objetivo de armazenar música no formato digital e facilitar seu acesso e consumo no dia a dia, com maior durabilidade e nitidez sonora. O tamanho reduzido do CD e a ausência de ruídos e chiados fizeram com que os discos de vinil fossem considerados obsoletos. No entanto, sempre houve aqueles que desdenhassem da leitura a laser, argumentando que os entalhes do LP dão à música um calor e profundidade que o código digital do CD jamais será capaz de alcançar. O que, de fato, diferencia os dois tipos de mídia em termos de reprodução? A resposta está nas formas de captura de áudio. A gravação do vinil se dá através de um processo analógico, enquanto o método utilizado nos CDs é digital.

Segundo o músico e colecionador de vinis, João Batista, 64 anos, o som é um sinal analógico por definição, por se tratar de uma onda mecânica que se propaga através de matérias que possuem massa e elasticidade. “No processo digital, a gravação captura parte desse sinal original, converte e comprime essa informação para um código binário. Isso significa que o resultado final é apenas uma aproximação do áudio original”, explica.

Imagem comparativa entre a inscrição a laser feita nos CDs (acima) e os entalhes esculpidos na superfície dos vinis (abaixo)*

Como exemplo, o músico cita os sons de transição súbita, como os de instrumentos de percussão e sopro, que sofrem perda de harmônicos e distorção por conta desse tipo de captura. Ele ainda completa: “Já o vinil possui sulcos que refletem as ondas do áudio original, o resultado de um toca-discos é totalmente analógico, isso significa que nenhuma informação é perdida”.

Muitos argumentam que essas diferenças são tão sutis que só o ouvido treinado de um músico pode percebê-las. Há ainda os que preferem o som digital pela praticidade e limpidez, como Roberto Masavitch, 33 anos, que trabalha como DJ em festas com uma controladora digital. “O aparelho tem a vantagem de produzir efeitos sonoros como loops e scratchs sem arranhar ou desgastar a mídia. O vinil tem pequenos defeitos, impurezas, precisa guardar de forma correta para não empenar. Além disso, tem que gastar dinheiro comprando os discos”, comenta.

Masavitch explica que “a leitura do vinil é mono e tem que amplificar. O CD já vem amplificado e o leitor óptico (laser) é mais nítido”. Ele não conhece nenhum DJ que trabalhe com o analógico. “Hoje modernizou tudo, quem quiser ficar na era do fusca, que fique”, conclui. Já o artista plástico José Maria Matos, 60, que coleciona LPs desde os 12 anos, diz que o vinil toca melhor: “Dá para sentir a pureza do som, os instrumentos fluindo, a musicalidade”.

Mistura – Em meio à discussão sobre o melhor som, há quem goste de misturar e desfrutar das qualidades de cada uma das mídias, como o professor de português Ricardo Cardoso, 57, que começou a comprar discos aos 17 anos. “Quando lançaram o CD, achei que o vinil tinha morrido, comecei a comprar todas as músicas em CDs. Mas de certa forma sinto que fui enganado, quase vendi minha coleção de vinis”, relembra.

O professor ainda elogia o som sem chiado do CD e a beleza e sofisticação das capas de alguns LPs. Hoje tem prazer em comprar álbuns em vinil do The Who e John Coltrane na livraria, mas na hora de apreciar a música prefere fundir as mídias, sem se preocupar com barreiras. “Para interagir com a obra, ponho uma capa de disco diferente para cada música que ouço no Ipod”, afirma Cardoso.

* Fotografia: Imagens feitas com um microscópio eletrônico. Parte da pesquisa comparativa de Chris Supranowitz, do Instituto de Óptica da Universidade de Rochester (EUA),  sobre a superfície esculpida em um disco de vinil após o processo de inscrição analógica e um CD.

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