Após 21 anos, Leônico volta a ter time profissional de futebol
- 20/02/2014Associação Desportiva Leônico, campeã baiana de 1966, disputará a segunda divisão do estadual a partir de março
Texto: Guilherme Silva e Julia Belas
Fotos: Guilherme Silva
Quase 47 anos após o grande momento da sua história, a Associação Desportiva Leônico volta a ter uma equipe profissional no futebol. O título do Campeonato Baiano de 1966, que teve a final disputada apenas em abril de 1967, não foi suficiente para ajudar o clube a manter suas atividades nas últimas décadas. Mas em março a equipe estará de volta, graças a muitos improvisos e vontade de colocar novamente em evidência o time que já foi conhecido como ‘Moleque Travesso’.
Em fase de preparação para disputar a segunda divisão do Campeonato Baiano, o Leônico usa quatro campos de futebol para fazer seus treinamentos ao longo da semana: o clube Sesc, no bairro de Piatã, o estádio do Galícia, em Brotas, além de campos nas cidades de Terra Nova e Simões Filho.
Para jogadores que recebem no máximo R$3 mil, o conforto de ir aos treinos não seria o mesmo de jogadores dos maiores times do país. Ao invés de carrões de luxo, uma van transporta os atletas. E quando nem este veículo está disponível, os homens mais poderosos dentro do clube tem que se virar: “Tem vezes que levamos eles pro treino no carro dos dirigentes. Costumamos marcar na frente do Shopping Iguatemi e damos carona de lá”, relata o presidente do Leônico, Jairo Veiga, 50 anos.
Passado e presente ainda se misturam dentro do clube que surgiu em 1940, formado por membros da empresa Carl Leoni, que exportava fumo e cacau. Jairo Veiga é neto do fundador do Leônico, Oswaldo de Castro Veiga. Ele tinha apenas três anos quando o clube foi campeão estadual pela primeira vez, em 1966, mas o adotou como uma tradição de família e foi eleito presidente no final de 2013.
Os primeiros investimentos para a profissionalização do futebol do Leônico foram feitos por um grupo de oito dirigentes. Mais recentemente eles ganharam o apoio de empresários de atletas, mas a necessidade de novas fontes de renda segue firme e se espera agora que uma nova ajuda venha através das rede sociais. Fugindo do tradicional, o clube oferece espaços nas mangas, na parte frontal e nas costas de seu uniforme para anunciantes por meio de sua página no Facebook. Quem quiser colocar dinheiro no time, vai precisar desembolsar pelo menos mil reais por mês.
Renegados – Para Jairo Veiga, o acesso para a primeira divisão estadual é possível, mesmo para um time que vai disputar sua primeira competição entre os profissionais desde 1993: “É o nosso grande objetivo”, confirmou. As esperanças do presidente estão em um elenco formado por jogadores trazidos por empresários, que ajudam os dirigentes a bancar as despesas do time em troca da exposição de seus atletas, e os demais provenientes de outros clubes nos quais não foram aproveitados.
O projeto ‘Renegados’ é administrado por um dos atuais dirigentes do Leônico e reúne jogadores jovens que já passaram por clubes baianos, foram dispensados, mas ainda tentar encontrar seu lugar no mercado. “São jogadores que passaram por Bahia, Vitória, até passaram pelo profissional e não tiveram chances”, explica Jairo Veiga, que tem cerca de 10 jogadores do Renegados em seu elenco profissional.
Calendário – Assim como na maior parte do país, o calendário de competições é cruel com os clubes pequenos, que disputam poucos jogos por ano, e por isso tem dificuldades em manter seus elencos. Sem atividades por muitos meses, os clubes dispensam seus atletas para não precisar seguir pagando seus salários.
Ao longo de 2014, o Leônico tem garantida apenas a disputa da segunda divisão do Campeonato Baiano. Caso ele fique entre os dois primeiros, assegurando uma vaga na elite do estado no ano que vem, o clube também ganha o direito de disputar a Copa Governador do Estado, que acontece ainda no segundo semestre desse ano.
Mesmo jogando as duas competições, o calendário do Leônico será preenchido por jogos em menos de cinco meses. No período ‘ocioso’, a diretoria planeja acertar partidas amistosas pelo interior. Caso o time não fique entre os dois melhores da segunda divisão, a situação fica ainda mais complicada. “Se não nos classificarmos para a Copa Governador do Estado, vamos ter que emprestar nossos jogadores. Os empresários também devem levar os atletas deles para outros times e esperamos ter eles de volta para a segunda divisão do ano que vem”, relata Jairo Veiga.
Em março, o Leônico voltará em campo com um time profissional, sem certezas sobre como será seu futuro após a participação no Campeonato Baiano da segunda divisão. Para o clube, a competição significa tentar honrar a história do clube que registra o título estadual de 66 como grande glória. Para os renegados, cada partida representa uma luta pessoal para seguir sobrevivendo como jogador de futebol.
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