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Arte de adultos
- 11/09/2013Conheça alguns dos profissionais baianos que trabalham com quadrinhos, expressão artística famosa no mundo inteiro
Thuanne Silva
No passado, foram crianças e adolescentes que encontravam terreno fértil para aguçar a imaginação através das inúmeras histórias e desenhos dos gibis que liam, fosse por conta própria ou influência de outras pessoas. Mais tarde, se tornariam adultos talentosos, que ainda se encantam com os quadrinhos e fazem do amor pela nona arte uma forma de trabalho. Deste modo, quadrinistas, roteiristas e admiradores dos HQs, mostram que esta arte é sim, para todas as idades.
Luís Augusto, criador do Fala Menino!, não lembra quando as histórias em quadrinhos não estivessem presentes em sua vida ou na sua maneira de se comunicar com o mundo. “Os gibis foram minha escola de desenho e meus desenhos eram o que eu tinha de melhor para mostrar”, relembra. Não existia um gibi dos anos 70 que ele não tivesse lido. “De Contos da Cripta, da antiga Editora RGE aos gibis dos Trapalhões, passando por tudo que era super-herói, Mônica, Denis, enfim…”, conta.
Já Valmar Oliveira começou nos quadrinhos através dos desenhos nos quais copiava os personagens das histórias que amava. “Desde pequeno eu rabiscava e tentava emular o que eu via nas minhas revistas favoritas, acabei criando mais de 100 personagens, muitos eram simples cópias de outros personagens famosos”, releva o quadrinista. O primeiro contato de Antonio Cedraz, criador da Turma do Xaxado, com os quadrinhos foi aos 16 anos. “Minhas maiores influências foram as revistas da Luluzinha (Marge) e os desenhos do Mauricio [de Sousa] que chegavam através dos cadernos infantis, enrolados a mercadorias e vendidas na feira livre”, relembra.
O jornalista e roteirista Marcelo Lima, autor de O Quarto Ao Lado, também começou a se relacionar com as HQs na infância, mas as abandonou. Foi reencontrá-las com histórias como Watchmen e Sandman. “Fiquei louco, economizei toda a minha grana que recebia na época e gastei tudo com revistinhas”, diz. Ele revela que por influência das HQs, começou a criar suas primeiras histórias. “Fiz algumas HQs curtas quando estava na Faculdade de Comunicação e elas me abriram caminho para realizar projetos maiores. Atualmente, já não escrevo somente para quadrinhos mas eles foram minha primeira escola”, afirma.
Especificidades – “As HQs fazem parte do universo da arte. É uma forma de expressão artística que remonta à pré-história”, explica Valmar Oliveira, que além de quadrinista é educador e formado em Artes Plásticas. A diferença entre os quadrinhos e as demais narrativas é o equilíbrio entre a escrita e os desenhos. “Equilibrar estas gramáticas é uma fina arte que determina o sucesso de uma história e é a principal diferença, ao meu ver, entre quadrinhos e qualquer outra linguagem”, opina Luís Augusto. Para Marcelo Lima “escrever um quadrinho é organizar espacialmente imagens, acrescentar textos quando houver falas e legendas e criar o ritmo da história através da sequencialidade”.
Origem e relação com os jornais – Embora a origem desta arte remeta aos tempos das cavernas, com as pinturas rupestres, o primeiro quadrinho como conhecemos hoje foi a tirinha de sucesso criada por Richard Outcault, Hogan’s Alley, cujo personagem principal era O Garoto Amarelo. Ela teve sua estreia em 1895, no jornal New York World, o que comprova a forte ligação entre os jornais e os quadrinhos, através da publicação de tirinhas diárias. No Brasil, o que aconteceu não foi diferente. O italiano Angelo Agostini foi um pioneiros desta arte no país, no século XIX.
Entretanto, atualmente na Bahia quase não há espaço para os quadrinhos locais nos jornais e o pagamento não é um dos melhores. “Recebo hoje mais pela republicação de uma única tira em algum livro didático, do que por um mês inteiro de tiras inéditas feitas para o jornal”, explica Luís Augusto, que publicou por 14 anos diariamente no A Tarde. “Jamais consegui negociar um aumento. Os demais jornais do estado simplesmente eliminaram o espaço de quadrinhos”, complementa. “Não conseguimos penetrar em muitos jornais. Já promovi até uma campanha através do meu distribuidor mas as vendas foram mínimas”, destaca Antonio Cedraz.
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