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As doenças das praias
- 11/12/2011Médico afirma que as doenças virais são as mais comuns, mas atenta que são as ocorrências bacterianas que mais preocupam
Por Alexandre Wanderley e Henrique Mendes
Formado em medicina pela Universidade Federal da Bahia, Mário Rogério Ferreira é Especializado em Clínica Geral. O médico acumula experiências no Hospital Couto Maia, Sagrada Família, Irmã Dulce e no Aristides Maltês. Atualmente, Mário Rogério está vinculado ao Posto de Saúde da Família da localidade de Gentio de Ouro, atendendo moradores de mais oito municípios do Centro-Norte da Bahia.
Impressão Digital 126 – Quais são as principais doenças que se pode pegar na praia?
Mário Rogério – Entre as principais doenças, aponto a insolação, a desidratação e as dermatomicoses. Pode-se apontar também infecções gastrointestinais, infecções típicas de aglomerado, otites e, a longo prazo, as neoplasias (tumores) de pele.
ID 126 – A incidência das doenças, na maioria das vezes, é de origem bacteriana ou viral? Isso determina, de algum modo, a gravidade da doença?
MR – Não, a incidência não determina gravidade, pelo contrário. Entre bactérias e vírus, as doenças virais são mais comuns, porém as infecções bacterianas estão relacionadas a uma maior gravidade. Não podemos esquecer das infecções fúngicas, que são bem mais comuns, mas de pouquíssima gravidade.
ID 126 – Descreva o ciclo de uma das ‘doenças de praia’ mais corriqueiras.
MR – Uma delas é a dermatomicose. Os fungos estão presente em toda parte. O ar, a água e a areia da praia estão cheios deles e o calor e a umidade são condições que favorecem seu estabelecimento e crescimento da flora. Na praia, sob uma transpiração mais intensa e sob roupas molhadas, a pele se faz mais úmida e, em contato com a areia, propicia a infecção fúngica, sobretudo nas regiões onde há dobras, como virilha e axila. Os sintomas de descamação e coceira fazem com que parte da colônia seja devolvida ao ambiente para potencialmente atingir outras pessoas.
ID 126 – As crianças e idosos correm um risco maior?
MR – Certamente. A imunidade mais baixa dessas faixas etárias constitui um maior risco de afecção. No caso da insolação e dos agravos a longo prazo, os idosos, com pele mais frágil e com maior exposição acumulada, correm riscos bem maiores, comparando-se com outras faixas etárias.
ID 126 – Fala-se muito da água do mar como canal de contágio, mas quais são os riscos associáveis à areia da praia?
MR – São inúmeros os riscos encontrados na areia. Os fungos causadores de micoses já citados, os lixos e dejetos típicos de locais de aglomeração, pedras, pequenos animais e lixos capazes de causar ferimentos, a reflexão de raios solares e calor que favorecem a desidratação, entre outros.
ID 126 – Quais são os sintomas gerais no caso de doenças dos tipos comentados?
MR – No caso da desidratação, olhos e boca ressecados, sede excessiva, e um longo período sem urinar, chamam atenção. Nas micoses, são típicos os sintomas de prurido e descamação. As infeções gastrointestinais se manifestam com desconforto ou dor abdominal, náuseas e/ou vômitos, diarreia e, possivelmente, febre e desidratação.
ID 126 – Muitas pessoas usam métodos domésticos para resolver muitos problemas de saúde. Quando, realmente, deve-se optar por um acompanhamento médico especializado?
MR – Geralmente, essas doenças não vêm acompanhadas de sinais de gravidade, e muitas delas são efêmeras, cursando com auto-resolução. Com boa orientação, podem ser resolvidas em casa sem grandes problemas, às custas de muito líquido e repouso. É o caso da insolação, das viroses e infecções alimentares ou desidratação leve. As micoses podem ser resolvidas com antifúngicos tópicos encontrados nas farmácias. Já o prolongamento dos sintomas e a presença de alguns sinais de gravidade indicam uma necessidade maior de ajuda profissional. A presença de febre alta, prostração, diarreia, vômitos e desidratação (hipoatividade, afundamento dos olhos, pouca urina) são os principais sinais de gravidade relacionados a essas doenças.
ID 126 – Quais são os principais cuidados que devem ser tomados, justamente, no intuito de evitar os problemas de saúde?
MR – A adoção de boa alimentação, prática esportiva e outros bons hábitos de vida são sempre importantes para uma vida mais saudável. A hidratação também se faz importante para melhorar o estado imunológico e evitar doenças. Por fim, tentar minimizar os fatores de riscos à volta.
ID 126 – E no verão, especificamente, quais são as dicas médicas que devem ser consideradas por quem vai eleger a praia como alternativa de lazer no período das férias de verão?
MR – A principal dica é consumir uma maior quantidade de líquidos. Também é muito importante evitar exposição excessiva ao sol, usando protetores solares, buscando sombra e evitando os horários de maior incidência dos raios solares (entre 10h e 15h). O uso de toalhas e cangas diminui a exposição à areia. A ingestão de alimentos mal preparados, ou não conservados adequadamente, nem deve ser cogitada. A preferência deve ser dada a alimentos industrializados ou preparados em locais com boa estrutura e higiene.
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