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As Eleições das Fake News
Thailine Montalvão - 14/10/2018Dados falsos, montagens de vídeos, fotos e áudios, conteúdos inverídicos foram compartilhados nesta campanha eleitoral nas redes sociais
As Fakes News, como já se esperava, se confirmaram como a grande armadilha das Eleições de 2018. Por meio de redes sociais, esses conteúdos, sem qualquer veracidade, são compartilhados milhares de vezes, causando um estrago sem dimensão.
Este conteúdo falso que circula nas redes sociais e nos grupos de conversa é criado de diversas maneiras e com diferentes propósitos, a partir de montagens estruturadas com textos, fotos, números, etc. Segundo o First Draft, projeto da Universidade Harvard, nos EUA, existem sete tipos de notícias falsas usados para confundir e enganar as pessoas.
Com o país em meio a uma das campanhas mais polarizadas da história, o eleitor motivado a defender seu candidato ou a tentar desqualificar o adversário não apura o que recebe, apenas repassa o conteúdo. Vira uma terra sem lei, onde difamar ou mentir é regra sem constrangimento.
“A polarização da disputa provocou um aumento na divulgação das fake news o que é bastante preocupante, principalmente, pelo discurso de ódio que as acompanham”, comenta o advogado Rafael Câmara, que estuda o assunto.
Criadas e distribuídas com a velocidade do ambiente digital, as Fake News seguem influenciando eleitores e têm sido alvo constante de várias mobilizações para tentar minimizar seus efeitos.
As fake news causam prejuízo à normalidade do processo eleitoral, uma vez que elas maculam a imagem de candidatos e induzem os eleitores a votarem não de acordo com sua consciência e capacidade crítica, mas com base em fatos inverídicos.
Segundo o analista judiciário do TRE-BA e professor de Direito da UFBA , Jaime Barreiros.
O peso dessa desinformação circulando no WhatsApp
O WhatsApp tem papel central nas eleições brasileiras de 2018. O aplicativo é o mais difundido entre os eleitores, utilizado por 66% deles, ou seja, 97 milhões de pessoas, segundo a pesquisa Datafolha divulgada esse mês. Ultrapassando o Facebook, usado por 58% dos brasileiros que votam.
Há quem diga que a campanha eleitoral no WhatsApp superou até o poder da propaganda política tradicional. É um dos fatores que explicam, por exemplo, o sucesso do candidato Jair Bolsonaro (PSL), mesmo com apenas oito segundos na TV. Ainda segundo o Instituto Datafolha, entre o seu eleitorado, a utilização do WhatsApp é a maior entre os presidenciáveis: 81% de seus apoiadores utilizam o aplicativo, enquanto que a utilização por eleitores de Fernando Haddad (PT), com quem disputa o 2º turno, é de 55%.
Eleitores nas Redes Sociais (Fonte: Datafolha)
Nesse vai e vem de notícias, em que o controle sobre o que é verdade e mentira e, principalmente, sobre a origem do que se compartilha é praticamente nenhum, aparece conteúdo de todo o tipo para causar confusão ao eleitor. Grupos de checagem e até mesmo alguns eleitores se viram obrigados a desmentir as mais absurdas notícias falsas.
“Sempre recebo fake news no grupo de Whatsapp da minha familia. É incrível a quantidade de desinformação que chega nesses grupos. Tento informar meus familiares sobre o que é verdade ou não, chego a perder horas do meu dia tentando desmentir esse boatos, mas está cada vez mais difícil de combater”, explicou Querem Salomão, estudante de arquitetura.
Vale ressaltar que as pessoas devem ser cautelosas antes de compatilhar esse tipo informação, dependendo do conteúdo, elas podem estar cometendo um crime.
“De acordo com o teor da mensagem falsa, a pessoa pode incidir em uma das condutas tipificadas como crime contra a honra de alguém, a exemplo, têm-se a difamação, que é quando se imputa a alguém um fato que atinja a sua reputação. E, neste contexto, tanto aquele que cria quanto aquele que reproduz um conteúdo que se qualifique como difamatório poderão responder nas esferas criminal e cível”, afirma o advogado, Rafael Camâra.
Combatendo as Fake News
No combate às fake news há desde ações de veículos de comunicação, buscando ampliar a confiabilidade da imprensa, a parcerias firmadas entre as empresas donas das plataformas digitais usadas na disseminação desse conteúdo (Google, Facebook, Twitter, WhatsApp), agências de checagem de dados e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O projeto Comprova, que reúne jornalistas de 24 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas durante a campanha presidencial, conferiu a veracidade de aproximadamente 110 boatos sobre eleições em dois meses. Das peças analisadas, 102 são falsas e ao menos duas foram encontradas em redes oficiais de políticos.
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) na tentativa de combate à desinformação e à disseminação de Fake News no processo eleitoral, lançou o Guia “Internet, Democracia e Eleições”. A publicação elaborada para informar a população e servir como referência para formuladores de políticas públicas, membros do Judiciário e representantes de empresas de Internet, está disponível gratuitamente na internet.
No meio desse combate à desinformação, as campanhas também passaram por um processo de adaptação. No primeiro turno, dos candidatos mais bem colocados, apenas Ciro Gomes não tinha uma seção voltada ao combate das notícias falsas em seu site; os outros quatro, Bolsonaro, Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva, investiram no assunto em seus sites e em páginas de redes sociais. Alguns candidatos estão recorrendo à Justiça para retirar conteúdos da internet que consideram falsos ou enganosos, entre os alvos dos processos de políticos estão páginas anônimas do Facebook, youtubers e até mesmo veículos de imprensa.
O TSE
Na Justiça Eleitoral, o tema fake news é regulado pela parte relativa à internet na resolução que disciplina a propaganda eleitoral como um todo, Resolução 23.551/2017. Pela norma, quem divulgar “fatos sabidamente inverídicos” sobre os candidatos está sujeito a ser obrigado a retirar o conteúdo do ar, mediante decisão judicial.
Com o intuito de ajudar a esclarecer o eleitorado brasileiro sobre as fake news que vêm sendo disseminadas pelas redes sociais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma página na internet. Qualquer pessoa poderá ter acesso a informações que esclarecem boatos ou notícias que buscam confundir os eleitores, na página Esclarecimentos sobre informações falsas.
No primeiro round a vitória foi das Fake News
O 1º turno das eleições chegou ao final, com a votação do último dia 7, marcado pela vitória das fake news. Fraudes diversas nas urnas eletrônicas, manifestantes brasileiros nus protestando em Nova York, confisco da poupança por candidatos e ataques à religião, entre outras notícias falsas, movimentaram as redes sociais e aplicativos de mensagem dos eleitores.
Na lista abaixo, selecionamos algumas das principais “fake news” das eleições que circularam neste primeiro turno. Confira: