Tags:Drogas, RMS, violência
Aumento da violência e a sua relação com as drogas
- 11/03/2013
Pesquisa “Mapa da violência 2012: a cor dos homicídios no Brasil” aponta cidades da RMS com as maiores ocorrências de mortes de jovens. Militante do Enegrecer e pesquisador da UFBA comentam o assunto
Tâmara Terso
Em um universo de 100 mil pessoas, mais de 100 jovens negros morrem por ano no estado da Bahia, é o que aponta o levantamento do “Mapa da Violência 2012: A cor dos homicídios no Brasil”, realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir). De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do estado, a maior parte das mortes de jovens tem alguma ligação com o tráfico de drogas e, pelos números de 2012, as cidades da Região Metropolitana de Salvador concentram as maiores ocorrências de mortes de jovens. O exemplo de Simões Filho é alarmante no país, chegando a 400 jovens mortos por 100 mil habitantes.
Isso demonstra como a violência tem um vínculo forte com o debate sobre as drogas e como esse aspecto vem ampliando o horizonte dos movimentos que há bastante tempo encampam a luta pela descriminalização da maconha. A partir desse ponto de vista, tudo pode ser repensado, até mesmo o nome do movimento que pode passar de Marcha da Maconha para Marcha pela Descriminalização e Legalização das Drogas, em geral.
Para Bruna Rocha, militante do Coletivo Enegrecer e estudante da Facom, a política de combate às drogas, financiada pelo Estado é uma das maiores causas de morte dos jovens negros, pois ao associar o “perfil do traficante” ao dos jovens de periferia, o alvo se torna fácil para as operações policiais que visam acabar com as drogas eliminando o tráfico. “É preciso ir às ruas, não mais com o mote da legalização da maconha para o uso individual, mas para problematizar o tráfico de drogas e a guerra que o Estado promove”, assinala Bruna.
Segundo Eduardo Ribeiro, historiador e integrante do grupo de pesquisa sobre drogas da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, a política de guerra às drogas tem a perspectiva da exclusão social: “Essa política não tem sua origem na defesa da saúde pública e no bem estar da população. A história do proibicionismo nos convence que tal política foi construída no intuito do controle de populações subalternizadas”, afirma o pesquisador. Eduardo também sinaliza uma tendência perigosa nas políticas de drogas promovidas pelo Estado que estão para além do combate ao tráfico. “No Brasil há um percurso perigoso. Digo em relação ao investimento em clínicas terapêuticas, muitas com orientação religiosa, no intuito de reverter a noção de criminoso para a condição de doente. A reforma psiquiátrica que buscou superar o modelo manicomial para a atenção à saúde mental, não entrou no centro das políticas de saúde e agora os internamentos voltam a ser defendidos por um conjunto importante de interesses para a política sobre drogas”.
Perguntado sobre a mudança do nome da Marcha da Maconha, ele se posiciona enfaticamente: “Esse tema retorna sempre às vésperas da marcha. Mas o nome não deve mudar. Ou seria outra marcha também legítima, também importante, mas movida por um conjunto maior de interesses e por uma orientação mais nítida da sua pauta política”.
Leia mais
Métodos de tratamento para usuários de drogas ainda não são consenso