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Bip, bip, quero buzinar o calhambeque
- 04/05/2016Os brotos da melhor idade falam sobre suas relações com a direção há mais de 60 anos e comentam sobre como a atividade os ajudam no dia a dia.
Clara Rellstab e Gabriela Galeno | Foto do destaque: Clara Rellstab
“Coloque o cinto, ligue o carro, puxe o freio de mão, coloque a primeira e saia devagar” são instruções que você aprende na autoescola para aprender a dirigir. Muito mais do que um meio de locomoção, a direção – para alguns – pode significar até liberdade e independência.
E não são só os novinhos que usufruem dessa tal independência. Os brotos (ah, eles sim) usam dela com bem mais “sabedoria”. Prova disso é que eles começaram a dirigir bem antes de você pensar em nascer.
Teresinha Gantois, como presente de 15 anos ganhou um carro de seu pai e seu padrinho. Aprendeu a dirigir o seu carango com um amigo da família, que a ajudou nos primeiros ensaios. Hoje, com 79 anos, conta rindo como era pega pelos guardas de trânsito todos os dias quando ia para as Mercês, onde estudava, por não ter carteira de motorista. “Na época, meu avô materno tinha amigos e ‘resolveu minha situação’: de 15 anos passei a ter 18 anos. Dessa forma, pude fazer o exame de motorista e como já dirigia há muito tempo, passei no exame”, conta.
Ao longo dos seus 64 anos pilotando, Teresinha já teve seis carros. Além de gostar muito de dirigir, ela explica como na época era considerado “chique”: “Tinham poucas mulheres, pouquíssimas”. E se ela já bateu o carro? Veja bem, se você com cinco anos dirigindo já levou buzinada por fazer barbeiragem, o que é arranhar o carro uma única vez por causa daquele famoso ponto cego em mais de 60 anos de direção? Por favor, né? Sem comentários.
Dona Terezin
Bióloga de formação, mãe de três filhos e avó de muitos netos queridos, Terezinha fala que o preconceito de ser idoso no trânsito não existe. E se pretende parar? Com seu sorriso mais que jovial, comenta: “Antes dirigir era como escovar o dente. Hoje eu sinto que se eu parar, eu caio em mim. Pra mim, dirigir é importantíssimo”.
Sai da frente que atrás vem gente!
“Ah, minha filha, há muito t empo!”, exclamou Carlos Lapa ao ser perguntado por quanto tempo se dedica à direção dos automóveis. Depois de fazer as contas com o neto Ian, seu Carlos cravou 62 anos de experiência. Aos 80, o engenheiro civil começou a dirigir seu primeiro carro – um fusquinha – com 18 anos. “E dirijo até hoje. Não é que eu goste, é mais por necessidade. Às vezes minha mulher não pode me levar ou meu neto precisa de carona para a faculdade”, explica.
Mais uma pilota de fuga e sem nenhuma falsa modéstia, Carlane Alencar, de 85 anos, se autoproclama “a melhor motorista que ela já viu dirigir”. Longe dos volantes por quase 20 anos, a paulista justifica seu afastamento das estradas pela vinda para Salvador. “O trânsito daqui parece o da Índia. Ninguém respeita ninguém, os motoristas não dão sinal, trocam de pista no último minuto. Não dirijo mais por receio do próximo, mas tenho certeza que possuo lucidez o suficiente”, se gaba. Hoje, a dona de casa conta com as caronas da filha e da neta – mas o carro é no nome dela, tá?
Seu guarda, e as leis?
Bem, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) não estabelece uma idade limite para a renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A única diferença é que o exame de aptidão física e mental, fundamental para a renovação do documento, deve ser realizado a cada três anos para os brotos condutores maiores de 65 anos – para os demais novinhos motoristas, o período de renovação dos exames é de cinco anos.
A medida se mostra sapiente, já que, ao contrário do que se imagina, pessoas mais velhas não provocam mais acidentes do que as mais jovens. De acordo com dados do Denatran, em 2005, 21.645 condutores com mais de 60 anos estiveram envolvidos em acidentes de trânsito com vítimas, frente a 213.850 motoristas na faixa etária entre 30 e 59 anos. Três motivos foram apontados como fatores determinantes para o índice: o acompanhamento próximo da família às saídas, os idosos dirigem por menor espaço de tempo e a postura defensiva ao volante. Sinta o poder da experiência.
O passeio foi bom, mas como já dizia o rei, Roberto Carlos: “bip bip, quero buzinar o calhambeque”. E foi dada a largada!
ps.: Ah, e lembra do carro de D. Teresinha? Pois bem, ela trocou. Veja seu novo possante: