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Bordeis de luxo passam longe da vulgaridade

- 03/11/2011

As casas de prostituição de luxo chamam a atenção pela  discrição

Por Alexandre Wanderley e Luan Santos

 

Foto: Alexandre Wanderley

Do outro lado da cidade, outro mundo. Nem tanto, na verdade. Apenas outra cena da história que se repete em um cenário melhor elaborado. Sai a senhora obesa e volta o terno. Desta vez, em melhor estado de conservação, guardando certo alinhamento, ele abriga o sujeito troncudo e simpático que garante a segurança do local. O falastrão conta que, formalmente, o lugar, em Itapuã, funciona como uma pousada e emprega, além dele, uma cozinheira, uma dupla de camareiras, um par de garçons e uma recepcionista, a quem cabe o detalhamento dos usos informais – e mais recorrentes, claro – , afeitos ao ambiente, sempre que chega um novo hóspede, por assim dizer, na mesma cadência irônica dos que fingem não saber qual é o verdadeiro negócio ali praticado.

O estabelecimento de duas facetas fica em um lugar nobre do bairro imortalizado por Vinícius de Moraes, Itapuã. A rua seria fechada e inteiramente residencial, se não fosse o restaurante que faz fronteira com a casa imponente, com dois andares e cercada por muros altos.

Por dentro, uma mansão que impressiona desde o estacionamento. Ao cruzar o portão automático, aberto ao mesmo tempo que a chegada é anotada pela câmera de vigilância, sem qualquer contato pessoal, o visitante depara – se com um caminho de pedras que corta o jardim leva à garagem no subsolo. Lá estão carros de alto padrão, em sua maioria, importados. O elevador conduz à antessala, que funciona como recepção, mas, nada impede que a subida seja feita pela escada.

Atrás da recepção, uma funcionária acata a proposta de fazer um tour pela casa.  Ao abrir as portas centrais, um salão imenso revela a identidade oculta do lugar. Mesas de madeira espalhadas dividem espaço com um palco refinado de striptease. Na lateral, o bar monitorado por um sujeito distraído com o jogo de basquete que passa, em alta definição, na TV LED de muitas polegadas. Mais a frente, um corredor leva à cozinha e ao salão de ginástica. Outro, na esquerda, ao banheiro.

No fundo, sofás aconchegantes sinalizam a varanda. Nela, mais mesas e muito mais espaço. É gigante e arejada, com uma vista paradisíaca da praia, ao fundo, e das piscinas, na frente. Rodeadas por um gramado esverdeado e iluminadas por uma luz azulada, elas garantem um espetáculo a parte e podem servir, inclusive, de espaço para o programa, caso seja desejado. Já querendo voltar à entrada, a guia diz que há, ainda, um salão mais reservado, de utilidade não informada.

Apesar da estrutura de boate, o ambiente não é escuro, nem impregnado por qualquer odor. As meninas são lindas e jovens, em sua maioria. É o perfil predominante das garotas que chegam enquanto a conversa é retomada na recepção. O preço é o assunto. Só pela entrada, R$ 50,00. A quantia é revertida em consumação, o que não é muito animador. Como o cardápio não apresenta opções baratas, duas doses de uísque esgotam a cota ou cinco cervejas, para quem preferir. Os clientes parecem não se importar com os preços altos. Talvez porque gastem muito mais com o programa, que gira em torno dos R$ 300, valor que pode ser reduzido para R$ 250, se o negociante pechinchar. Havia um desses exemplares  na recepção. Valendo-se do movimento ainda fraco, ele fecha um programa duplo junto com um amigo. Depois de reduzir o tempo de atendimento, contando com o “rebolado” das meninas, que se empenham muito para realizar a transação, um desconto expressivo. Os quartos continuam caros, R$ 100 cada, mas eles seguem animados rumo ao segundo andar.

No térreo, as meninas não param de chegar. Entram trajando um jeans ou um vestido comum e sobem. Na volta, os corpos estão emprestados a peças sensuais, que valorizam os contornos, sem grandes apelos. Elas não são vulgares, são dadas ao sorriso e à conversa. Transitam pela recepção com a naturalidade de quem está no meio de uma balada qualquer. Graciosas, retribuem olhares e dançam sem qualquer música, o que denuncia a artificialidade daquela alegria aparente. É um negócio, afinal, como lembra o segurança antes de caminhar até o portão principal. Ele chega até uma viatura parada na frente da casa. Por um segundo, uma tensão curiosa toma conta do ambiente. Quatro policias fardados e armados estão no veículo. Apenas o motorista conversa com o guardião, que apoia o cotovelo direito na parte alta da janela do carro. Não há como ouvir o que falam, mas o sorriso de ambas as partes e o aperto de mãos selado apontam que essa será mais uma noite tranquila .

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