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Braçadas que orgulham a Bahia: conheça a paratleta Mônica Veloso

- 09/05/2012

Em competição na cidade de Natal, Mônica Veloso, 53 anos, paratleta e presidente da Associação Baiana de Atletas Deficientes (Abad), arranjou tempo – e fôlego – para responder às perguntas do ID 126. Sua deficiência física foi causada por uma poliomielite aos dois anos de idade e a natação entrou em sua vida como forma de reabilitação. Porém, foi aos 38 anos que ela começou a nadar profissionalmente, depois de se aposentar do trabalho de professora por falta de estrutura para deficientes da escola. Pode parecer tarde, mas foi suficiente para a baiana garantir importantes títulos. Todos em suas raias: com a palavra, Mônica Veloso.

 Camila Giuliani e Yuri Rosat

Impressão Digital 126: Quais competições você já participou?

Mônica Veloso: Em piscina, foram vários circuitos regionais, nacionais e em torneios Open internacionais de natação: na Argentina, Munique, Portugal e EUA. Tenho recordes nestes rankings, além de um recorde mundial e outro americano. Nado também no Master (categoria reservada para atletas acima de 23 anos, com divisões etárias em intervalos de cinco anos). Já disputei um mundial nesta categoria em Berlin.

ID 126: E no mar?

MV: Em águas abertas tenho 140 travessias, sendo dez internacionais (duas em Mar del Plata, quatro nos Estados Unidos, uma em Munique, Costa Rica, México e Chile). Fui campeã nos circuitos Guadalupano, Mercosul e Copa Hammerhead de Travessias.  Também fiz duas travessias Mar Grande/Salvador.

ID 126: Quem mais te motivou durante sua carreira?

MV: Minha fonte original foi minha irmã Rosana Andrade, grande nadadora (recordista sulamericana nos 200m borboleta), e principalmente minha família. Ter esse apoio e reconhecimento foi muito importante.

“Muitas mudanças precisam acontecer. Na Bahia, não há provas para paratletas.” | Crédito: acervo pessoal

ID 126: Conte um pouco sobre a Associação Baiana de Atletas Deficientes (Abad): quando e por quê assumiu a presidência?

MV: Eu nadava pelo Rio Grande do Norte e já tinha um nome quando fundei, junto com o professor Calazans (acadêmico do curso de Educação Física), a Abad. Com o seu falecimento (morte súbita devido a uma parada cardíaca fulminante), assumi e continuo até hoje, porque é do querer dos atletas e também porque possuo algumas portas abertas. A Abad surgiu em 1998 para fomentar o esporte na Bahia. Antes trabalhávamos com outras modalidades, mas a manutenção de equipamentos é difícil e cara. Hoje trabalhamos somente com a natação, o atletismo e o halterofilismo.

ID 126: Quantos atletas fazem parte da Abad e quantos competem?

MV: Já foi bem maior, mas a falta de centros esportivos tira a motivação. Hoje são somente quatro no atletismo, três no halterofilismo e quinze na natação. Todos ativos e a maioria tem ranking regional, nacional e mundial. São poucos, mas de valor inestimável para a Bahia.

ID 126: A Associação Baiana de Atletas Deficientes conta com algum apoio?

MV: É uma luta diária. Até para treinar não recebemos apoio, os atletas têm baixa renda. Apenas a Hammerhead e a Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb) ajudam com materiais e algumas passagens para as competições. No dia a dia ficamos no zero. O fomento é necessário!

ID 126: Há algum tipo de ganho com visibilidade a partir das disputas de competições que são realizadas na Bahia? Como se dá o retorno financeiro para as associações e os atletas?

MV: Não! A divulgação ainda é pouca. Não há retorno financeiro, os apoios são pequenos demais. Poucos têm patrocínios reais.

“É uma luta diária. Até para treinar não recebemos apoio, os atletas têm baixa renda.” | Crédito: acervo pessoal

ID 126:  Como avalia o formato e a estrutura das competições que existem atualmente?

MV: Muitas mudanças precisam acontecer. Na Bahia, não há provas para paratletas. Busquei e consegui a inserção da categoria PNE (Portadores de Necessidades Especiais) nas travessias. O que faz falta mesmo, em nível de Brasil, é a natação master paraolímpica: paratletas nadando em igualdade na sua faixa etária.

ID 126: Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos paratletas?

MV: Primeiro a falta de infraestrutura. É uma dificuldade para a natação e o atletismo treinarem. As piscinas acabaram, falta transporte, alimentação adequada, suplementação e, principalmente, apoio na hora de competir. Muitos treinam, mas não têm como pagar uma viagem.

ID 126: Qual a mensagem que você passaria para os deficientes físicos que estão começando no esporte?

MV: Nossa participação é muito importante em todos os eventos. Não desistir é o primeiro passo. Persistência, coragem e acreditar que algum dia essa situação vai mudar. Quem sabe depois da Copa, para as próximas Paraolímpiadas.

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