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Carta de Ondina estabelece diretrizes para a produção cultural de fotografia na Bahia

- 06/04/2013

Conheça o documento produzido pelos fotógrafos baianos com suas reivindicações

Amana Dultra

 

1º Encontro Baiano dos Produtores Culturais da Fotografia

O 1º Encontro Baiano dos Produtores Culturais da Fotografia aconteceu na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, no dia 11 de agosto de 2012, e foi resultado do debate instaurado na 4ª edição Café Fotográfico sobre “A produção cultural da fotografia na Bahia”.

Com o objetivo de discutir a realidade do setor fotográfico, identificar as demandas e articular ações estratégicas para o desenvolvimento da cultura fotográfica na Bahia, o evento se dividiu nos seguintes grupos de trabalho:

1)    Memória: acervos, bancos de imagens, midiatecas, metodologias, acessibilidades, condições técnicas/climáticas e registro da produção contemporânea;

2)    Difusão: publicações, mídias eletrônicas (sites, blogs, redes sociais), regularidades e alcance da distribuição;

3)    Projetos Socioculturais: projetos e ações regulares e eventuais, redes, metodologias, público, finalidades e objetivos;

4)    Políticas Públicas: fomento para formação, pesquisa e difusão, editais e patrocínio, apoio e ações diretas;

5)    Formação: ações e projetos educativos, ensino da fotografia formal e informal.

Após a discussão, houve a socialização das propostas e a formulação de um documento, que foi batizado de “Carta de Ondina”. A Carta, que contém as reivindicações dos fotógrafos foi entregue ao secretário estadual da Cultura, Albino Rubim, e ao presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro. Segundo Emídio Bastos, “o diálogo com o poder público é permanente, seja via fórum, Colegiado ou mesmo pelos fotógrafos servidores da Secretaria de Cultura que estão engajados nessa organização”.

José Mamede afirma que, no momento, o fórum está discutindo o seu estatuto. “Isso implica pensar em questões cruciais para a sua implementação e longevidade: quem está representado no fórum? Para quê ele está sendo criado?”, comenta. Segundo ele, até o final deste mês estas questões serão tratadas e quando a minuta do estatuto estiver pronta, será feita uma assembleia geral para discuti-lo com a comunidade fotográfica baiana.

Abaixo, a carta na íntegra:

CARTA DE ONDINA

Salvador, 19 de março de 2013

Excelentíssimo Senhor Fernando Guerreiro
Diretor da Fundação Gregório de Mattos

Muito embora a fotografia se constitua em uma das expressões mais significativas de nossa época, portadora de novas visualidades e parte integrante da nossa cultura, constatamos que as atuais condições para o exercício desta forma de criação enfrenta um tempo adverso no nosso estado e no nosso município.

Tal constatação é fruto das discussões que ocorreram durante o 1º Encontro Baiano de Produtores Culturais da Fotografia, realizado no dia 11 de agosto de 2012, no Campus de Ondina da UFBA. Reunidos em Grupos de Trabalho temáticos, movidos pelo propósito de analisar e fazer proposições que venham ao encontro.

É inegável que a fotografia baiana viveu momentos de vigor e evidência. As suas realizações enriqueceram a vida cultural do município e do estado, documentadas em exposições coletivas, oficinas de criação, edição de catálogos, seminários e participação destacada nos encontros nacionais promovidos pelo Instituto Nacional de Fotografia da FUNARTE, isso no final dos anos setenta a meados dos anos oitenta, graças à atuação do Fotobahia. Em 1985, fruto deste movimento, foi criado o Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, dentro da Diretoria da Imagem e do Som, quando foram definidas diretrizes para o desenvolvimento de políticas culturais para a linguagem e realizada a memorável Bienal da Fotografia no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM – BA), referência de metodologia participativa, estímulo a processos criativos inovadores e ao fortalecimento da produção coletiva.

Nas décadas seguintes, foi observada uma descontinuidade nestas políticas originais do Núcleo de Fotografia e, depois, como agravante máximo, aconteceu sua desativação.

Merecem destaque realizações posteriores por parte dos produtores baianos: a fundação do Instituto Casa da Photographia, responsável pelo festival anual A Gosto da Fotografia, a criação do Salvador Foto Clube e outras associações, as atividades do Labfoto, ligado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, a edição do livro A Fotografia na Bahia 1839-2006, dentre outras iniciativas.

Por todas estas razões, nós, fotógrafos baianos, não podemos nos contentar com o atual trato dispensado à fotografia, com a perda de espaços importantes para a continuidade dessas ações que resultaram em grandes frutos. Não aceitamos este futuro obscuro para a fotografia baiana, pois não é cabível condená-la a viver à margem dos processos culturais, sem um abrigo próprio no circuito cultural para divulgar e democratizar a produção local e nacional e ao largo das políticas públicas.

Tanto assim, que não reina absoluto silêncio no nosso campo. Apesar das condições desfavoráveis, dos espaços cada vez mais exíguos, do reduzido apoio institucional, recusamos a condição de espectadores de nossa própria realidade, e, graças a esta teimosia, a fotografia baiana sobrevive.

Certos da favorável acolhida destes pleitos, somos, atenciosamente,

Casa da Photographia
Cipó – Comunicação Interativa
Fotobahia
Labfoto – Facom/Ufba
Panorama Fotográfico
Salvador Foto Clube

DIRETRIZES PARA A PRODUÇÃO CULTURAL DA FOTOGRAFIA NA BAHIA

Parte integrante da Carta de Ondina, de 13 de Novembro de 2012, este documento apresenta as diretrizes que justificam a criação de um Núcleo de Fotografia na Secretaria do Desenvolvimento, Cultura e Turismo, conforme desejo manifestado pelos participantes do 1o Encontro Baiano de Produtores Culturais da Fotografia, evento que resultou de uma inédita ação coletiva entre Casa da Photographia, Cipó-Comunicação Interativa, Fotobahia, Labfoto, Panorama Fotográfico e Salvador Foto Clube, agentes que contribuem ativamente para a produção e difusão da fotografia em nosso estado.

As propostas destacadas a seguir resultam da ação de Grupos de Trabalho que discutiram temas essenciais ao campo fotográfico:

• GT1 – Memória
• GT2 – Formação
• GT3 – Difusão
• GT4 – Políticas Públicas
• GT5 – Projetos Socioculturais

GT1 – MEMÓRIA
• Criação de um Centro de Referência – Memorial da Fotografia Baiana, com o propósito de implementação de políticas públicas voltadas para a pesquisa, mapeamento, documentação, aquisição de acervos e preservação da memória da produção fotográfica de Salvador;
• Lançamento de editais específicos para a produção de pesquisa, preservação e ampliação dos acervos públicos e privados da fotografia soteropolitana.

GT2 – FORMAÇÃO
• Implantação de núcleos públicos para a formação e qualificação profissional na área da fotografia;
• Formulação de editais que incentivem a consolidação de uma agenda municipal de Congressos, Seminários, Debates e Encontros focados na reflexão teórico-crítica e histórica sobre a fotografia.

GT3 – DIFUSÃO
• Criação e consolidação de um evento que promova o intercâmbio entre a cultura fotográfica local, nacional, e internacional;
• Lançamento de editais públicos que fomente a produção editorial de livros, revistas, sítios virtuais entre outras publicações associadas ao fazer fotográfico;
• Incentivo a programas e/ou projetos de circulação da produção crítica e discursiva sobre fotografia.

GT4 – POLÍTICAS PÚBLICAS
• Criação de um Núcleo de Fotografia que garanta uma interlocução e um espaço de desenvolvimento e garantia de políticas específicas, dentro da Secretaria de Desenvolvimento, Cultura e Turismo de Salvador;
• Criação de mecanismos que garantam o intercâmbio e a interiorização da produção fotográfica do município;
• Requalificação dos espaços culturais já existentes, bem como criação de novos (quando necessários), de modo a conferir um novo caráter, de multiuso, buscando contemplar a realização de projetos de pesquisa e de formação profissional – cursos e oficinas -, que abranjam os mais diversos setores da sociedade.

GT5 – PROJETOS SOCIOCULTURAIS
• Criação de processos de valorização, reconhecimento, profissionalização assim como editais específicos para jovens produtores oriundos de processos de educação informal;
• Incentivo à integração de fotógrafos locais e às pesquisas de campo com ênfase em grupos culturais diferenciados, promovendo intercâmbio entre projetos sociais e fotógrafos de diversas regiões do município.

Organização
Casa da Photographia
Cipó – Comunicação Interativa
Fotobahia
Labfoto – Facom/Ufba
Panorama Fotográfico
Salvador Foto Clube

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