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Construtores de sons
- 11/09/2013Músicos e artesãos falam sobre a arte da luteria que designa a construção e a manutenção de instrumentos musicais
Tácio Santos
O luthier é uma das figuras mais importantes no universo da música, um profissional que vive de muita dedicação, minúcia, paciência e, é claro, um grande amor pela música. A construção de um instrumento musical não é somente um trabalho técnico, mas sim, a criação de uma obra de arte.
O termo luteria é oriundo da palavra francesa luthier, e designa a construção e a manutenção de instrumentos musicais. Uma arte que agrega noções de física, matemática, engenharia e química, e utiliza conhecimentos sobre madeiras e eletrônica, desenho, marcenaria e carpintaria na constante busca pela sonoridade que melhor ajude o músico a expressar toda a sua criatividade e paixão.
No Brasil, o termo é utilizado para os artesãos de qualquer tipo de instrumentos, seja de cordas, sopros ou percussão. Atualmente, o profissional não é mais apenas um artesão. Para acompanhar a evolução dos instrumentos, passou a oferecer variados tipos de serviços como revisão da parte eletrônica, polimento, envernização, mudança de trastes e consertos em geral para acústicos e elétricos.
Segundo Joaquim Ribeiro, 37, músico e professor, o luthier tem um papel indispensável na vida do artista. Ele afirma que o instrumentista nem sempre tem o olho treinado para identificar empenos e torções no braço e escala de seu instrumento. “É um trabalho que exige muita experiência e cuidado. Instrumentos são como filhos, é uma relação sentimental e delicada, a pessoa que cuida dos meus é um grande amigo e uma pessoa em que confio muito”.
O mercado no Brasil – A luteria ainda é pouco difundida no Brasil. Existem artesãos brasileiros reconhecidos e respeitados internacionalmente como Seize Tagima, Marcio Zaganin, Elifas Santana e Gilberto Guimarães, mas não existem projetos governamentais de incentivo à preservação da cultura através do trabalho do luthier como acontece em muitos países europeus. A luteria vive num nicho fechado a músicos e admiradores e a propaganda do profissional se dá basicamente através do boca a boca: um cliente gosta do trabalho e indica para as outras pessoas.
Paulo Roberto, 57, trabalha como luthier há mais de uma década. Começou a fazer manutenção de instrumentos de corda por hobby, hoje tem seu próprio ateliê. De início autoditada, ele ressalta as dificuldades para quem deseja aprender o ofício no Brasil, como a ausência de um curso de nível superior: “Aqui a luteria ainda não é uma profissão reconhecida como nos Estados Unidas e na Europa, se eu quiser me cadastrar como profissional terá de ser como artesão ou marceneiro. Temos que importar livros em outros idiomas e ferramentas caras, o que dificulta bastante o aprendizado e o aperfeiçoamento da arte”.
Dilson Albuquerque, 74, começou aprendendo com o já citado luthier sergipano Elifas Santana, trabalhando na fabrica e Custom Shop Guitarra Brasil, por onde já passaram nomes como Armandinho e Aroldo Macêdo, Stanley Jordan, Pepeu Gomes, Fagner, Alceu Valença e Davi Moraes. Ele afirma que é muito importante aprender as técnicas e especificidades de cada instrumento com um mestre, na condição de aprendiz: “Hoje em dia é possível aprender bastante por meio de cursos, palestras e workshops, que são muito interessantes para acrescentar, mas nada substitui o papel do mestre”.
A arte de fazer e reparar instrumentos de cordas remonta à antiguidade, é evocativa de um amor pelo ofício que vai além da simples necessidade de ganhar a vida. Nesse sentido, um bom luthier é o melhor amigo do músico , mantendo seu instrumento de cordas em condição de uso.
Se cordas trastejam, se a ação da tensão avariou o braço do instrumento ou se é um objeto caro ou de valor sentimental, um luthier é o único a ser chamado. Em mãos qualificadas, um instrumento danificado por anos de armazenamento, uso indevido ou negligência pode ser revivido e ter sua vida prolongada por gerações.
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