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Copa dos corpos

- 26/05/2014

De olho nos turistas, mercado sexual e de entretenimento adulto em Salvador se prepara para o evento da Fifa

Renata Freire e Thais Motta

 

A chegada de turistas para as cidades-sede da Copa do Mundo causa ansiedade não somente nos segmentos tradicionais ligados ao turismo, como o de hotelaria e de lazer, mas também em diversos segmentos do mercado sexual. Os preparativos incluem cursos de inglês e investimentos em reformas de estabelecimentos. O frenesi não é à toa: segundo dados da Embratur, o país deve receber mais de 600 mil turistas estrangeiros para o evento, além dos mais de 3 milhões de viajantes nacionais.

Juntos, turistas brasileiros e estrangeiros devem gastar cerca de R$ 25 bilhões. A maior parte dos gastos será feita por brasileiros em viagens domésticas, representando uma circulação de R$ 18,5 bilhões. Em Salvador, as visitas não se limitarão ao estádio da Fonte Nova, os viajantes devem permanecer em média 4 dias na capital para atividades de turismo.

É diante desse quadro que o garoto de programa de 28 anos Ramon Menezes esperar faturar mais com o aumento nos atendimentos. O jovem, que conhece seus clientes através de um site de encontros e de seu blog, costuma atender turistas de outras regiões do país, por isso, acredita que os turistas nacionais devem representar a maior parte dos seus clientes na Copa. “Para ser sincero, não sei falar inglês e espanhol, mas não tenho muitas expectativas com estrangeiros. Tenho com brasileiros mesmo”. Quanto aos preços, Ramon revela que deve manter a cobrança baseada no deslocamento que tem que fazer para chegar até o cliente, que incluem homens, mulheres e casais. “Mas só faço ativo, não sou passivo”, esclarece.

A Copa do Mundo, com a final prevista para 13 de julho, animou os empresários da casa noturna 3060, localizada na Rua Carlos Gomes, Centro de Salvador. A casa é conhecida por oferecer shows de strip-tease e por ser um ponto de encontro no qual algumas profissionais do sexo se reúnem para prospectar clientes.

A fachada recém-reformada é um dos frutos de um investimento de cerca de R$ 11 mil. Segundo o proprietário Marcelo, a mudança foi feita visando à vinda de turistas durante a Copa do Mundo. “Fiquei dois meses (com o estabelecimento) fechado por causa da reforma. Tudo isso para a Copa, e eu espero que traga retorno”, afirma. Para adequar as expectativas aos investimentos realizados, o preço dq entrada deve subir de R$ 20 para R$ 50 durante o evento da Fifa.

Diego, que também administra a casa noturna, explica que durante o ano o número de turistas nacionais é maior do que de estrangeiros. Mesmo assim, algumas alterações foram pensadas buscando atrair a parcela de gringos que visitarão a cidade. “Até o nosso cardápio mudou, teremos uma versão em inglês. Estamos pensando também em investir no espanhol”, explica. Para garantir a satisfação dos clientes do bar, ele também diz já saber a preferência dos turistas em relação às dançarinas da casa. “O americano gosta de loura, de negra, vai depender. Já o espanhol e o italiano adoram negras. Os italianos são os verdadeiros tarados internacionais, depois os espanhóis”, esclarece Diego.

A visão de que estrangeiros virão procurar, em terras nordestinas, locais de sexo mais fácil e de experimentações sexuais diversas não é exclusividade do lado que está interessado em faturar. O italiano Gianni Frigero, 40 anos, reside em Salvador há dois meses e garante que a procura por sexo será grande e que conhece inúmeros casos de turismo sexual. “Acredito que 30% dos estrangeiros que vem para o Brasil na Copa estão interessados em ver os jogos, e os outros 70%  estão procurando esses tipos de experiências. Europeu no Brasil se perde, pensa que está livre para fazer tudo”.

Os italianos são os verdadeiros tarados internacionais”, afirma o italiano Gianni Frigero

Prostituição no Brasil – A prostituição não chega a ser proibida no país, o que não implica em uma legalização. Ela não é enquadrada enquanto crime desde que aquele que preste os serviços sexuais seja maior de 18 anos e que esteja agindo de acordo com sua vontade perfeitamente livre. “O ato do terceiro que interfere na vontade do prostituído é considerado criminoso. Tanto para que este inicie a atividade ou para que este não possa deixá-la, ainda que não haja intuito de ganho financeiro por este terceiro”, explica Ilana Martins, especialista em Direito Penal.

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O artigo 228 do Código Penal traz a indução e a atração de pessoas para a prostituição ou para a exploração sexual como prática criminosa. Proíbe também as casas de prostituição no art. 229 e o rufianismo – atividade mais reconhecida pela figura do cafetão – no art.230. Ainda que possam prestar a sua atividade sem interferência do Estado, a prostituição não é reconhecida como profissão, isso implica que esses profissionais não possuam direitos trabalhistas e não tenham sua atividade fiscalizada. “A linha do Brasil é a de fazer de conta que não existe. Não é crime, mas tampouco é regulado pelo direito civil, ficando totalmente à margem”, diz Ilana.

Preocupado com a situação das prostitutas e prostitutos no Brasil, sobretudo em decorrência da Copa do Mundo, que como consequência traz um aumento da demanda pelos serviços dessa categoria profissional, o deputado Jean Wyllys elaborou o Projeto de Lei 4211. O PL foi batizado de “Lei Grabriela Leite” em homenagem à falecida líder da Daspu – grife de roupa feminina, formada por prostitutas para atender essa demanda de mercado –  e tem o intuito de regulamentar a profissão, afastando essa atividade das mazelas da exploração sexual.

Se o projeto for aprovado, as casas de prostituição serão legalizadas e a fiscalização se tornará regular. O rufianismo e a indução à prostituição ficariam vedados somente quando houvesse exploração sexual. Segundo redação do projeto de lei, há exploração em casos de grave ameaça ou violência, apropriação de mais da metade dos rendimentos do profissional ou retenção do pagamento. Direitos como aposentadoria especial também seriam garantidos.

O Projeto de Lei se encontra em tramitação no Congresso Nacional e ainda deve ser sujeito à apreciação do Plenário.

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