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Cresce 17% a safra de algodão na Bahia; oeste do estado é o 2º maior exportador mundial
Ellen Chaves, Fernando Franco, Welldon Peixoto - 18/11/2019Região é explorada desde os anos 1980, marcada pela presença de “baiúchos”
Ellen Chaves, Fernando Franco, Welldon Peixoto e Pedro Oliveira
O ano de 2019 já aponta 17% de aumento na safra de algodão no cenário baiano, segunda maior cultura da região. O oeste é responsável pela maior parte da produção do Estado, onde destacam-se cidades como São Desidério, a segunda maior produtora do Brasil.
Dos mais de um milhão e quatrocentas toneladas da produção estimada até setembro, mais de 75% já havia sido comercializada. Cerca de 40% do algodão baiano é exportado para países asiáticos, como China, Indonésia, Bangladesh, Vietnã, e 60% é comercializado para as indústrias têxteis no Brasil, segundo site da Aiba, Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia.
A cotonicultura transformou as condições socioeconômicas da região, gerou empregos e exerce papel importante na economia do estado e do país. São cerca de 30 mil empregos gerados na região oriundos da cultura do algodão. A produção fortalece a geração do PIB brasileiro com cerca de R$ 4,5 bilhões, segundo dados da ABAP. Em dólar, o estado gera em torno de $375 milhões (média R$ 1,5 bi). O oeste baiano é responsável por 97% da produção de algodão, em 2015, conforme relatória do Senado de 2018.
Diversos fatores levaram ao sucesso da cultura do algodão no oeste baiano, como o clima e o relevo, o padrão tecnológico da produção e a organização do setor produtivo. Esses fatores colocaram a região no posto de segundo maior exportador de algodão não irrigado do mundo e disputa no quesito qualidade com a Austrália.
A cultura de algodão no oeste é recente. Há cerca de 30 anos não havia esse tipo de produção no local. A soja era a monocultura dominante. O que difere a produção são os custos e o retorno obtido com a venda. Em 2018, a soja gerava retornos de R$ 500,00 enquanto o do algodão gera R$ 2,900 por hectare, e segundo o BRASILAGRO, “engordou as receitas dos produtores”.
O modelo produtivista é dominante na região. A principal característica dessa modalidade de produção é a busca incessante pelo aumento da produção, uso intenso de máquinas e insumos químicos, além da monocultura em grande escala. A concentração fundiária, associada à dispensa de mão-de-obra, também são elementos que marcam o sistema produtivo – cerca de 150 proprietários concentram a produção.
Apesar das afirmações em torno da geração de emprego na região, os dados de custos com a produção de algodão por hectare no Oeste baiano mostram a concentração de despesas nas operações mecanizadas e no uso de defensivos agrícolas. Os gastos com mão-de-obra ficam em terceiro lugar.
Apesar do posto de vice liderança na produção, isso não garante à Bahia melhor valorização dos produtos.
A atividade na região é caracterizada por um perfil primário-exportador para outras regiões do Brasil e para o mercado externo. Como a matéria-prima é exportada em seu estado bruto, o valor agregado é reduzido e pode se tornar refém das sazonalidades de demanda do mercado.
História
Nas décadas de 1980 e 1990 a região vivenciou transformações significativas na sua estrutura produtiva e urbana decorrentes do processo de migração interestadual de famílias sulistas, predominantemente gaúchas e paranaenses, associadas à difusão da agricultura moderna.
Quando nós compramos aqui, a gente pagou uma carteira de cigarro por hectare. Eu lembro porque foi nosso parâmetro para falar do preço na época. Era de graça e ainda tinha prazo para pagar.
Essa história quem conta é o agricultor Jaime Capellesso, na reportagem do Globo Rural. As terras hoje altamente rentáveis , há cerca de três décadas, eram uma extensa área de mata autóctone que recobria o cerrado, com poucas propriedades e quase nenhum valor comercial.
A trajetória de vida do produtor agrícola Fábio Ricardi, da Fazenda Savana, confunde-se com a de outros produtores do local, que saíram de suas cidades em busca de novos horizontes e se encontraram na região.
Júlio Busato, presidente da ABAPA, também é um dos migrantes produtores de algodão. Ele conta que nasceu no Rio Grande do Sul e veio para o oeste da Bahia juntamente com a sua família, em busca de outros horizontes, crescimento e novas oportunidades – são os apelidados “baíuchos”. Ricardi conta que a região oeste apresenta a mesma conjuntura de histórias de produtores migrantes “famílias que sonharam”, lembra.
Até os anos 1970, o oeste baiano tinha pouca expressão econômica e sustentava-se na pecuária extensiva, na agricultura de subsistência e em atividades extrativistas, conforme registra o trabalho de pesquisa de Patrícia Barreto, graduada em Ciências Econômicas. Foram as políticas de integração do território nacional implementadas desde os anos 1950 que incluíram na década 1970 o oeste baiano no processo de expansão das fronteiras agrícolas ao introduzir a cultura de grãos, tendo a soja como principal lavoura.
Ao fazer parte do conjunto de áreas receptoras de investimentos públicos federais, o cerrado baiano iniciou a montagem de uma infraestrutura capaz de viabilizar a realização de atividades econômicas de grande porte. Os investimentos públicos, aliados às condições ideais do solo e clima e outras vantagens econômicas (o baixo preço da terra, por exemplo), atraíram um grande número de imigrantes de outras regiões da Bahia, do Sul do Brasil e do exterior.
Esses imigrantes foram os principais responsáveis pela implantação do modelo produtivista de grãos iniciado com a soja. A implantação e solidificação da cultura da soja nos anos 1980 ajudaram a região oeste a aumentar progressivamente sua posição de destaque na estrutura produtiva da Bahia e do Brasil. O desenvolvimento da cultura do algodão no oeste da Bahia ocorre no movimento de diversificação produtiva da própria região e faz parte da reação da cotonicultura brasileira a uma profunda crise nos anos 1990. Como consequência dessa migração, atualmente, o oeste da Bahia conta com 150 grandes fazendas, o que deu origem a um império agrícola.
Conforme ressalta Barreto, a cotonicultura do oeste Baiano se deu num contexto de mudanças alicerçadas sobre os parâmetros de inovação tecnológica, fomentada por incentivos governamentais e adoção do modelo produtivista.
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