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Cultura de lá para cá: soteropolitanos incorporam aspectos do pop nipônico

- 11/09/2013

Em festivais que celebram a cultura e tradição japonesa, jovens e adultos incorporam personagens de produtos pop, quebrando padrões de gênero na hora de se fantasiar

Joana Oliveira e Paula Morais

Pessoas fantasiadas, muitas vezes com roupas do sexo oposto, danças e músicas alegres regendo os festejos, além do clima de jovialidade. Tudo isso em Salvador. Não, não é carnaval. Entre os dias que deram adeus ao mês de agosto e os que brindaram a chegada de setembro, a baianidade nagô cedeu espaço para a comemoração do VII Festival da Cultura Japonesa, em que o maior destaque é a festa Bon Odori.

Enquanto celebridades e estrelas da axé music invadem as ruas soteropolitanas normalmente no mês de fevereiro para levar alegria de sete dias aos foliões, no Japão, o Bon Odori acontece entre os meses de julho e agosto e celebra a passagem dos mortos para um novo estágio de vida. Apesar de representar um ritual fúnebre, sobriedade e tristeza não caracterizam o evento.  “É um dia de alegria, pois acreditamos que nossos antepassados vêm visitar nossas famílias”, explica Roberto Mizushima, presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Salvador (Anisa) e coordenador do evento. Filho de imigrantes japoneses e residente na Bahia há 30 anos, ele é um dos responsáveis por manter vivas algumas tradições orientais no estado.

E, apesar de a culinária, os desenhos animados e histórias em quadrinhos serem os principais embaixadores dessa cultura na terra do dendê, a relação entre Japão e Bahia tem raízes históricas mais fundas. “Essa ponte surgiu no governo de Juscelino Kubitschek, que lançou um programa de incentivo para que trabalhadores imigrantes viessem para o interior do Nordeste, já que o Centro-Oeste e o Sudeste estavam quase superlotados. Com isso, muitos japoneses vieram para o interior da Bahia”, conta Ricardo Silva, que organiza os festivais de cultura pop oriental Anipólitan e Gamepólitan.

Nesses festivais, referências presentes na infância de grande parte dos jovens – como as histórias dos Cavaleiros dos Zodíacos, Shurato e Sakura Card Captors, por exemplo – são resgatadas da memória afetiva e se tornam protagonistas dos eventos. Para muitos fãs, o interesse nos personagens vem de uma identificação pessoal que não encontram em produtos ocidentais. É o caso de Natália Matos, de 27 anos. “Falta material de ficção para mulheres no Brasil e eu não conseguia me enxergar nos produtos existentes, como novelas, que são sempre voltados para a questão do amor e romance. Nos animes, mangás e dorama [novela japonesa] encontra-se uma variedade maior de personagens femininas, que têm profissões, problemas na faculdade, inseguranças sobre o futuro… questões enfrentadas na vida real mesmo”, conta.

Crossplay É também essa identificação que leva alguns fãs a se fantasiarem de seus personagens favoritos, na prática do costume play, ou  cosplay, apenas por diversão ou até mesmo para se apresentar e competir em concursos que elegem a melhor caracterização. Nesses eventos, é comum encontrar meninos e meninas, homens e mulheres vestidos de personagens que tenham sexo oposto ao seu. Isso caracteriza o crossplay, que nada tem a ver com a sexualidade dos cosplayers, mas com criatividade.

“Os maiores e mais famosos cosplayers da atualidade são aqueles que têm a habilidade de se transformar em qualquer personagem, principalmente naqueles de outro sexo. Em eventos, é mágico não saber ao certo o sexo da pessoa”, explica a estudante de Direito Giovana Augusta, 20, que prefere os personagens masculinos de personalidade forte e aventureira para se fantasiar em competições.

A artista plástica e estudante de Jornalismo, Ana Luiza Bélico, de 23 anos,  faz cosplay desde 2006, mas só no ano passado resolveu se caracterizar de um personagem masculino, o Inu-Yasha, um yokai (demônio do folclore japonês), que é metade cachorro e metade humano. “Foi uma experiência bem legal. Muitas pessoas acharam que eu era um menino ou ficavam na dúvida e se surpreendiam quando descobriam que eu era menina. Lembro que até comentaram sobre meu crossplay em um podcast sobre o Anime Friends e me trataram como ‘o cara de Inu-Yasha’. Fiquei muito feliz porque o objetivo do crossplay, assim como do cosplay é justamente ficar o mais parecido possível com o personagem”.

Outra vertente dentro do cosplay é o genderbender, que significa, por exemplo, incorporar um personagem masculino, mas caracterizando-o com elementos femininos. Diferente do que acontece nos festejos carnavalescos, em que foliões vestem trajes do sexo oposto para criar um efeito cômico, o crossplay e o genderbender na  cultura oriental são encarados com naturalidade.

 

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