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Desigualdade na Câmara: mulheres representam apenas 16% dos vereadores de Salvador

Anna Luiza Santos e Luiza Gonçalves - 04/10/2023

Com apenas sete vereadoras, o cenário legislativo ainda é demarcado pela dificuldade das mulheres em ascender à política

A Câmara de Vereadores de Salvador conta com 43 integrantes, porém apenas 7 destes são mulheres. Embora a lei 9.504/1997 estabeleça que 30% das candidaturas dos partidos políticos sejam femininas, ainda há uma baixa representação das mulheres entre os vereadores. As dificuldades de acesso ao campo político se apresentam desde o lançamento dessas candidaturas até a desigualdade de gênero enfrentada cotidianamente na atuação dessas parlamentares.

Atualmente Salvador possui 7 vereadoras: Cátia Rodrigues (UNIÃO), Cris Correia (PSDB), Débora Santana (AVANTE), Ireuda Silva (REPUBLICANOS), Laina Pretas por Salvador (PSOL), Marta Rodrigues (PT) e Roberta Caires (PP). Com uma diversidade de linhas políticas, racial e de propostas de gestão, elas têm um ponto em comum: defender a participação das mulheres na política baiana. Atuando ativamente em comissões e a maioria com boa frequência nas sessões da Câmara, elas disputam espaço nesse ambiente ainda majoritariamente masculino.

Conheça os vereadores e vereadoras da 19ª Legislatura (2021-2024)

Obstáculos para ingressar na câmara

Para Maíra Kubik, cientista social e pesquisadora de gênero e política da Universidade Federal da Bahia (UFBA), os principais obstáculos que impedem o aumento desses números estão presentes desde a divisão sexual do trabalho doméstico até a forma que as militâncias estão estruturadas. “Os mandatos das vereadoras têm baixo impacto porque a política institucional segue sendo um lugar prioritariamente masculino e as mulheres têm dificuldades em construir alianças, em aprovar suas proposições e vê-las cumpridas”, explica.

Seção especial na Câmara Municipal de Salvador sobre a descriminalização do aborto. Na bancada da seção há nove mulheres em pé. Ao centro se encontra a vereadora Laina Pretas por Salvador que preside a seção. No topo da bancada há um painel escrito "Dia Latino-americano e caribenho de luta pela descriminalização do aborto". Abaixo da bancada há um pano verde triangular escrito "nem presa nem morta".
Sessão Especial pela Descriminalização do Aborto presidida pela Vereadora Laina Pretas por Salvador (no centro)/ Reprodução: Câmara Municipal de Salvador

Mesmo o eleitorado baiano sendo composto majoritariamente por mulheres, representando 52% dos votantes, poucas candidatas femininas são eleitas. “Quando conseguem participar ativamente e se candidatarem, as mulheres têm menos apoio dos partidos políticos, que não priorizam suas candidaturas. Assim, elas têm menor financiamento de campanha e menor tempo de propaganda em rádio e televisão”, debate Maíra.

A baixa representatividade na Câmara de Salvador impacta na proposição de projetos de lei que sejam, de fato, favoráveis às vidas das mulheres em pluralidade. A pesquisadora salienta que a presença das mulheres, combinadas com ideias progressistas, feministas, de transformação da realidade social, são necessárias e fundamentais para a transformação da vida das mulheres na capital baiana.

Panorama feminino na política municipal

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das eleições municipais no ano de 2020 apontam que a média das candidaturas de mulheres no legislativo no Brasil tem sido em torno de 35%, pouco mais do exigido por lei. Porém, a quantidade de vereadoras eleitas no país neste ano não ultrapassou a média de 16%, apresentando um crescimento de somente 2% em relação às eleições de 2016. A Bahia, com 13,3% de suas candidatas eleitas, está entre os estados com menor representação feminina na Câmara, ficando na 23ª posição.

Mapa do Brasil em roxo com tabela a direita contendo os estados do brasil e a as porcentagem de candidatas mulheres eleitas nas eleições de 2020.
Percentual de candidatas vereadoras eleitas em cada estado nas eleições de 2020 / Reprodução: TSE Mulher

Em relação aos números, a pesquisadora Maíra Kubik reafirma a necessidade de pensar em outras alternativas de ações afirmativas para as mulheres no campo político. “Há uma diferença entre cotas para se eleger e reserva de vagas. Reserva de vagas seria a proposta de ocupação de cargos. A cota, como pode-se ver, não é eficaz porque não conseguimos ultrapassar o patamar médio de 20% de eleitas. Nos países em que o fizeram, o que mais se verifica é um sistema político onde há lista fechada com alternância de gênero” defende.

Apesar do cenário negativo, Salvador apresentou crescimento no número de vereadoras nos últimos anos e está entre as poucas cidades do Brasil que totalizam mais de 20% de candidaturas de mulheres eleitas. Além disso, a capital conta com algumas iniciativas de fomento à atividade das mulheres no legislativo. Uma delas é a Comissão Permanente de Defesa dos Direitos da Mulher, fundada em 1991 na Câmara Municipal de Salvador. A instância tem como principal objetivo combater o sexismo, o racismo e a pobreza que afetam a inserção de figuras femininas nesse espaço de poder. Ativa desde 1991, atualmente é presidida pela vereadora Ireuda Silva (REPUBLICANOS).

Foto durante a cerimonia do Premio Maria Felipa em 2020. Nela encontram-se da esquerda para a direita: o musico Carlinhos Brown, a vereadora Ireuda Silva e uma da premiadas que faz uma fala.
Vereadora Ireuda Silva (ao centro) no Prêmio Maria Felipa, horária uma concedida a mulheres negras que se destacam na luta por direitos e contra o racismo/Reprodução: Câmara de Vereadores de Salvador

Vale a pena conferir: portal Mulher TSE, site destinado a detalhar a história, estatísticas e a participação feminina nas ultimas eleições no Brasil.

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