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Do Coliseu ao Octógono: Entenda a evolução do MMA

- 21/11/2011
Ao contrário do que se pensa, dentro do octógono não “vale tudo”. Existem regras, proteções, respeito aos lutadores e muita concentração, preceitos seguidos à risca por uma longa dinastia de guerreiros.
Octógono MMA, Foto: Josh Hedges
Por Bruno Brasil e Paula da Paz
Apesar de encontrar sua maior audiência nos Estados Unidos, as Artes Marciais Mistas (MMA, Mixed Marcial Arts) têm parte de sua origem no Brasil. Foi Mitsuyo Maeda (Conde Koma), discípulo de Jigoro Kano – fundador do judô – que, ao vir para o Brasil, ensinou as artes marciais para a família Gracie. Hélio Gracie e Carlos Gracie, grandes nomes do jiu jitsu brasileiro, adaptaram a arte marcial e fundaram o Vale Tudo. Com a única regra de que não haveria regras. No Vale Tudo era permitido, inclusive, colocar o dedo nos olhos dos oponentes ou dar socos e chutes nos testículos. Por ser considerada violenta, a modalidade teve que  criar regras para entrar no mercado esportivo. Em 1993, o primeiro Ultimate Fight Championship (UFC) promovido pelo americano Art Davie e por Rorion Gracie, filho mais velho de Hélio, teve como vencedor o irmão de Rorion, Royce Gracie, que levaria por mais três vezes o título de melhor lutador da nova modalidade, o MMA.
MMA X Vale Tudo – O MMA possui regras próprias e bastante rígidas, apesar de derivar do vale tudo. Existem golpes proibidos e a agressão ao adversário é punida com pontos ou desclassificação, como na maioria das artes marciais. Mas a inexistência de uma confederação unificada dificulta a consolidação e a uniformidade dessas regras.
REGRAS UNIFICADAS DO UFC
ROUND Rounds de 5 minutos, com intervalos de 1 minutoLutas por títulos: 5 rounds 

Lutas Comuns: 3 rounds
TRAJES Shorts próprios, sem nenhum tipo de calçado. Calças e quimonos são proibidos
PROTEÇÃO Uso de pequenas luvas que deixem os dedos livres. Protetor bucal. Para homens: protetor genital (coquilha). Para as mulheres, as coquilhas são proibidas, entretanto deve-se usar protetor nos seios.
PONTUAÇÃO Três juizes marcam o placar em cada round que vale no máximo 10 pontos.Uma falta resulta em redução de um ponto na contagem oficial dos juízes. Em caso de contusão, se a luta prosseguir, (e se não prosseguir?)descontados dois pontos do infrator.
ADVERTÊNCIAS – Segurar ou se pendurar nas cordas ou grades- Segurar as luvas ou shorts do oponente- Presença de mais de um cornermen (treinador) no perímetro da área de luta
FALTAS – Dar cabeçada no adversário- Colocar o dedo no olho do adversário- Morder ou cuspir no adversário 

– Puxar os cabelos do adversário
– Agarrar o adversário pela boca
– Atacar a região genital do oponente
– Intencionalmente colocar um dedo em qualquer orifício do oponente
– Golpear com o cotovelo de cima para baixo
– Manipular juntas pequenas
– Golpear a espinha ou parte de trás da cabeça do oponente
– Golpear os rins com os calcanhares
– Qualquer golpe à garganta
– Agarrar, beliscar, torcer a pele ou carne.
– Agarrar a clavícula
– Chutar a cabeça de um adversário caído
– Aplicar joelhadas na cabeça de um adversário caído
– Pisar em um adversário caído
– Utilizar linguagem abusiva no ringue ou octógono
– Utilizar conduta anti-desportiva que possa machucar o adversário
– Atacar um oponente no intervalo
– Atacar um oponente quando este esta sob cuidados do árbitro
– Evitar contato
– Intencionalmente derrubar o protetor bucal
– Simular contusão
– Interferência de um cornermen
– Arremessar um oponente para fora da área de luta
– Desrespeitar as instruções dadas pelo árbitro
– Arremessar o adversário contra a lona sobre a cabeça ou coluna dele (bate-estaca)
PENALIDADES Um competidor que sofreu uma falta tem até cinco minutos para se recuperar. Um competidor é desclassificado ao cometer três das faltas acima ou se o árbitro julgar que pelo menos uma delas foi feita intencionalmente.
Uma das artes marciais básicas do MMA, o jiu jitsu, possui larga prática no Brasil. A Gracie Barra (que ganhou o nome pela sede fundada na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro), com mais de 400 filiais em todo mundo, é a maior academia de jiu jitsu. Leonidas Gondin, professor de jiu jitsu e representante de MMA na Gracie Barra/Bahia, explica que cada lutador traz um esporte base, uma arte marcial na qual o atleta é especialista para nela inserir elementos de outras modalidades.“Na realidade, tanto faz. Apesar da maioria vir do jiu jitsu, o lutador pode ser campeão em boxe, muay thai ou karatê. O Toquinho (Rousimar Palhares) mesmo usa a capoeira como base do MMA”. Toquinho venceu o americano Dan Miller na categoria peso médio no UFC 134 – Rio.
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A hora do showPara Gondim, a hora da luta é o momento da diversão, o showtime. “O treino é muito mais pesado, mais sacrificado, mais difícil. Um lutador de MMA é um profissional e encara o esporte como forma de vida. Toda sua rotina é voltada para a luta. É um treinamento que exige muito, é preciso dedicar o dia inteiro para formarmos superatletas. O MMA é um esporte agressivo, mas não é violento. Violentas são, por exemplo, as brigas dentro das torcidas de futebol.” afirma Gondim.
Luiz Dórea, treinador exclusivo de campeões do MMA, como Júnior Cigano e Rodrigo Minotauro, garante que o MMA é fundamental na formação do caráter do lutador. “É diferente do futebol, onde jovens e crianças entram cada vez mais cedo no mundo da fama. No MMA, o atleta já teve um treinamento de alguma arte marcial, tem uma disciplina. Você não vê a notícia de um lutador de MMA profissional envolvido em briga de rua.”

Anderson Silva e Vitor Belfort. Foto: Esther Lin, MMA Fighting

Em torno das grandes lutas, observa-se a espetacularização do esporte. Os confrontos entre os grandes lutadores começam fora do octógono, com as provocações e rixas criadas pela mídia e alimentadas pelas rivalidades e pelos patrocinadores, interessados em atrair visibilidade. “Mas é tudo apenas um grande show”, segundo Dórea.
Luiz conta ainda que, dentro do ringue, é lutador contra lutador e tudo isso fica de fora. Vale quem for melhor, de acordo com as regras, mas o burburinho anterior faz parte do show e da expectativa que é criada em torno da luta. A rivalidade acaba se tornando muito mais séria fora do que dentro do ringue, e quando soa o gongo é o respeito e a disciplina que impera no octógono entre todos os profissionais.
Em entrevista para Ary Cunha, do jornal O Globo, o maior vencedor da história do UFC, Anderson Silva, defende a categoria do MMA como esporte oficial “O que a gente tem de diferente de outros atletas, como jogadores de futebol, é aquele coisa da filosofia da arte marcial, da disciplina, do respeito mútuo entre aluno e mestre. Tem também aquela coisa de ter que dormir cedo, de se alimentar para suportar o treinamento. Porque é assim: depois que entra no octógono, é só o lutador contra seu adversário. Não tem ninguém para correr por você, para tocar a bola para o lado. Se foi à noite e não está bem preparado, apanha mesmo. Noites, mulheres, gente querendo arrumar confusão para aparecer, sempre vai ter. Mas temos que dar o bom exemplo”.
Os lutadores“Um superatleta.” Assim é que Luiz Dórea define um lutador de MMA. O atleta, que necessita ter habilidades do jiu jitsu, muay thai, wrestling, boxe, além de sofrer a influência de uma série de outras lutas, tem como características determinação, disciplina, concentração e, claro, muita força e preparo físico. O MMA, assim como outras lutas, é dividido por categorias, cada um com peso mínimo e máximo do atleta. Cada categoria possui seu campeão.
PESAGEM E CATEGORIAS
Peso mosca
abaixo de 57kg
Peso galo
entre 57,1kg até 61,1kg
Peso pena
entre 61,2kg até 65,7kg
Peso leve
entre 65,8kg até 70,2kg
Peso meio-médio
entre 70,3kg até 77kg
Peso médio
entre 77,1kg até 83,7kg
Peso meio-pesado
entre 84kg até 92,9kg
Peso pesado
entre 93kg até 120,1kg
Peso superpesado
acima de 120,2kg
Luiz Dórea ganhou destaque em sua carreira quando foi treinador do lutador de boxe Acelino Popó Freitas. Depois de ter sido treinador da equipe olímpica brasileira de boxe, Dórea foi convidado por Rodrigo Minotauro, em 2003, para acompanhá-lo no MMA.

Luiz Dórea, Foto: Marcelo Alonso

Depois de várias vitórias com Minotauro, Dórea decidiu investir no treinamento de lutadores do MMA. Sua academia, Champion, agora se divide entre o ringue de boxe e o octógono do MMA, bem como se divide entre as duas modalidades os campeões hoje treinados por ele. São cerca de vinte atletas lutando profissionalmente, entre iniciantes e mais experientes. Pelo card de Dórea já passou inclusive um dos maiores lutadores de MMA da atualidade, Anderson Silva.
Além dos grandes campeões, Dórea investe também no treino de lutadores que ele considera promissores. A Academia Champion surgiu como uma forma de investir nessas promessas do futuro. “Na Champion, só treinamos campeões”, afirma Luiz Dórea. E essa filosofia pode ser compreendida após acompanhar um dos sparrings (treinos para as lutas) realizados na academia. O encorajamento e as diretrizes de estratégia não param do lado de fora enquanto os lutadores dão o melhor de si dentro do ringue.
Mas, sem dúvida, um dos atletas de projeção internacional no UFC que recebe maior apoio da Champion e de Dórea é Júnior Cigano. Depois do recente destaque obtido nas sucessivas vitórias no UFC, Cigano passa por um treinamento intenso com lutadores de wrestling, boxe, jiu jitsu e do próprio MMA, que se intercalam em rounds contra apenas ele, visando fortalecer todas as suas artes marciais no combate. Agora Júnior Cigano treina para um dos maiores desafios da sua carreira: no dia 13 de novembro disputará o cinturão dos pesos pesados com Cain Velasquez, atual detentor do título. Além do adversário, a luta tem uma pressão ainda maior. Será a primeira vez que a UFC, na 137ª edição, será exibida em TV aberta nos Estados Unidos. A rede de TV FOX comprou o direito de transmissão das lutas por sete anos, assinando um contrato estimado em cerca de U$90 milhões por ano.
Mas não é só Cigano quem treina pesado na Champion. Nomes em ascensão como Crocotá, Lula, Velame e Neilson também são alvos da dedicação de Dórea e apostas dele para o futuro. Neilson Gomes, por exemplo, acaba de conquistar sua décima-primeira vitória consecutiva no JungleFight 33 (campeonato menor de MMA) no último dia 22 de outubro, por nocaute ainda no 1º round. “Dentre os melhores do mundo no MMA, estão os brasileiros. E, entre eles, os baianos. Aqui você treina entre os melhores, por isso que saem campeões”, diz Dórea, sobre o sucesso de seus “guerreiros”.
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