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Domésticas se profissionalizam e procuram outras áreas de atuação
- 06/04/2013Diminui número de empregadas domésticas no Brasil: hoje, são 133 mil a menos em relação ao mesmo período do ano passado. A principal causa é o acesso à educação
Hilla Santana
A Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada no final de março dá sinais do futuro da profissão de empregada doméstica no Brasil. Segundo o relatório, hoje, são 133 mil empregadas a menos nos lares brasileiros, comparado ao mesmo período do ano passado. O número se aproxima bastante da quantidade de empregadas domésticas existentes em Salvador e região metropolitana. Atualmente, são cerca de 150 mil trabalhadores registradas.
Historicamente, a relação entre patroa e empregada doméstica foi marcada pelos resquícios da escravidão. “Sempre houve uma espécie de acentuação negativa do que é ser empregada doméstica, associada à ideia de servidão. Muita gente foi oprimida”, menciona a socióloga Alda Mattos. Nesse atual contexto, a pesquisadora acredita que a atividade vai se tornar uma profissão em extinção.
Um dos motivos para o acontecimento dessa nova realidade é o maior acesso aos estudos e à informação que essa categoria alcançou. “Gradativamente elas começaram a ter direito de estudar e trabalhar com outras ocupações”, evidencia a socióloga Alda Mattos. Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim/UFBA), o desejo de a empregada doméstica deixar de atuar nessa área sempre existiu e, com essa nova realidade econômica, elas estão podendo realizar outros sonhos.
Em Salvador, a Escola Kate White, localizada no Largo Dois de Julho, tem tradição na formação de mulheres com habilidades domésticas desde 1930. Antigamente, as estudantes eram, em sua maioria, futuras donas de casas que tinham a obrigação de aprender etiqueta, culinária, corte e costura. Com a mudança no perfil de suas alunas, a coordenação do local avalia que muitas empregadas domésticas buscam especialização em outras áreas.
“Muitas domésticas trabalham até conseguir pagar um curso. Cada vez mais elas estão indo para a sala de aula”, constata Cleusa Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia. Antes, isso não era comum. Milka Martins trabalha como doméstica desde os 7 anos de idade. Na infância, não podia brincar, nem estudar. Trabalhou em outras casas sem ser remunerada e só aprendeu a ler aos 20 anos.
Hoje, profissionais do serviço doméstico já atuam na área com a intenção de que seja passageiro. Agora, elas estudam, fazem faculdade e pretendem migrar para outras áreas que nem sempre tem a ver com a de doméstica. É o caso de Sandra Nascimento, doméstica há cinco anos, que quer ser técnica de enfermagem. “Não pretendo ficar aqui por muito tempo”, diz. A referência de Sandra é uma antiga amiga de profissão, que foi empregada doméstica e hoje trabalha como representante comercial de uma empresa de comunicação. “Não importa da onde a gente veio, pra gente ser alguém tem que começar a estudar e ralar mesmo”, enfatiza.
Telma Jones, coordenadora do Programa de Apoio ao Trabalhador Autônomo na Bahia (Patra), dá destaque ao cumprimento do horário dos cadastrados nesse serviço do governo. A carga deve ser cumprida à risca pelo contratante, porque muitos autônomos estudam em escolas ou universidades no horário noturno. O diarista entra às 8h da manhã, tem uma hora para o almoço e deixa o serviço exatamente às 17h. “Eles procuram o serviço autônomo porque dá condições de trabalhar e estudar também, tendo mais flexibilidade”, sinaliza.
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