Tags:carnaval, comportamento, igrejas evangélicas, religião
Domingo de Carnaval o culto é na Avenida
- 11/03/2013Igrejas Protestantes reafirmam identidade, adentram ao mundo do carnaval e colocam blocos para desfilar na avenida
Darlan Caires e Hilla Santana
“Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”. A canção de Caetano Veloso consagrada hino dos carnavais baianos já não faz tanto sentido. Dogmas da religião evangélica conferem ao indivíduo convertido uma morte para o mundo. Uma metáfora para o desligamento de práticas imorais da sociedade. Mas, mesmo assim, o que tem acontecido há algum tempo é que, mesmo mortos, eles correm para um estilo de vida atípico, nem sempre fora da avenida.
“O evangélico consome feijão, arroz e cultura também”, defende o líder da Igreja Batista do Garcia, pastor Elson de Souza. Criador do Bloco Espiritual, uma das propostas lançadas por ele é trazer alternativa musical para a folia. “Você não vai ouvir no Espiritual uma letra que venha fazer da mulher um simples objeto”, garante.
A participação de evangélicos no Carnaval tornou-se comum e é analisada por Claudio Pereira, antropólogo da Universidade Federal da Bahia, como uma adaptação. “É um fenômeno recente, provavelmente relacionado a um novo contexto da cultura urbana brasileira. Há uma disposição que não vê grave problema em adaptar comportamentos corriqueiros e universais da cultura”, pontua. A pedagoga Rejane Oliveira presenciou isso. Tornou-se evangélica depois de encontrar o Bloco Sal da Terra no circuito Batatinha, Pelourinho. “Como estavam todos de abadá, havia percussão, música animada e alegria, naquele dia não percebi nenhuma diferença”, lembra.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=SvrJXQS7eF4&feature=share&list=UUuyRovcn9c7BtLdBB5AhRTg][/youtube]
Contrapontos – O entendimento sobre o tema não é igual para todos, sejam líderes religiosos ou seguidores. Para Thaís Mascarenhas, evangélica e estudante de Jornalismo, a participação da igreja no Carnaval é uma contradição. “Lembro como se fosse hoje de quando vi algumas mulheres e alguns caras rebolando, descendo até o chão. Só que aquilo não era um show do É o Tchan”, desabafa. “Não acho que vamos testemunhar de como somos diferentes se estamos construindo o mesmo cenário que encontraríamos em qualquer bacanal da vida”, enfatiza.
O estudante de Música, Menahen Hein, e a professora de Português, Isabel Lima, concordam com Thais. Para Hein, o ritmo do axé não contribui para uma conexão com Deus. “Vejo mais como um veículo de mexer o corpo e uma desculpa de continuar a mesma coisa de quando a pessoa não era cristã”, expõe. Isabel atenta ao comportamento. “Hoje em dia não iria mais porque existem algumas pessoas que dançam de forma sensual. Precisamos nos atentar para a forma que dançamos”, alerta.
Rita de Cássia, estudante universitária, pondera. “É uma faca de dois gumes. Há pessoas que são atraídas pela música, pelo ritmo, e não pelo evangelho. Mas também há pessoas que, além de serem atraídas pela diversidade musical, entende que ser cristão é tentar viver de acordo com o que Cristo ensinou”, diz.
Adaptações – O motivo de Rejane frequentar a festa mudou. “Hoje em dia, o propósito de eu estar dentro do carnaval é para levar a mensagem de Jesus de forma contextualizada”, sinaliza. A forma de conduzir a festa não é como nos outros blocos. Pr. Elson diferencia quando se trata de bebida alcoólica ou infidelidade conjugal. “Os evangélicos não partilham de alguns elementos que subjazem ao carnaval”, explica.
A apropriação de elementos da cultura local por parte dos evangélicos é feita com limitações, segundo o antropólogo Pereira. “Tem relação com uma nova dinâmica que esses grupos passaram a ganhar a partir dos anos 80, na medida em que eles flexibilizaram alguns comportamentos. Se os próprios evangélicos se dispõem a fazer isso (participar do Carnaval), lógico que vão fazer dentro de certas medidas”, conclui.
Leia mais:
Opiniões divergentes expõem visões sobre blocos cristãos em Salvador