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Dossiê comprova alto nível de alfabetização do Programa Alfa e Beto

- 06/04/2013

O número de crianças alfabetizadas, até os 6 anos de idade, chegou a 98% em algumas cidades brasileiras, segundo Instituto Alfa e Beto (IAB)

Ana Paula Lima e Raquel Santana

 

Instituto Alfa e Beto, livro do professor

O método de ensino proposto pelo Instituto Alfa e Beto (IAB) já alfabetizou mais de um milhão de crianças e está presente em 700 municípios brasileiros, segundo um dossiê desenvolvido pelo próprio instituto. No entanto, em Salvador, docentes se recusam a utilizar o método em sala de aula. O impasse com a prefeitura começou a partir da análise de textos, os quais, segundo os educadores, contêm conteúdo racista. O texto “As bonecas de Fernanda”, por exemplo, tem gerado a maioria das polêmicas. Nele, o perfil de beleza diz respeito a características como cabelo loiro e olhos azuis. O texto vem acompanhado da imagem de uma boneca loira e uma negra. Segundo o Sindicato do Professores, ao interpretar o material fica explícita a valorização do belo como algo ligado à população branca.

Visões diferentes – Em Alagoas, a professora Maria Dinalva Lima leciona na Escola Municipal José Buarque da Silva, em Coruripe. Ela destaca a formação dos educadores para aplicar o programa, o material e o nível de alfabetização alcançados. São os diferenciais do Alfa e Beto. Segundo a educadora, as crianças aprendem a ler mais rápido. Na escola em que ensina, cerca de 90% dos alunos foram alfabetizados, aprenderam a ler e a escrever ainda no primeiro ano letivo.

Já a professora Rivone Hortência trabalha com o Alfa e Beto em Petrolina, Pernambuco, e participou do curso de capacitação com os professores da Rede Municipal de Salvador. Rivone diz que a turma pela qual é responsável acolheu muito bem o programa. Quando questionada sobre o conteúdo racista do material, a educadora disse não ter percebido esse teor. “O conteúdo do programa atende muito bem crianças que moram na periferia”, complementa.

Programa Alfa e Beto é destaque na educação de Petrolina. Crédito: Gilson Pereira

No Maranhão, os municípios que usaram o Programa Alfa e Beto tiveram bons resultados na Prova Brasil – avaliação que mede o nível de alfabetização das crianças matriculadas no segundo ano de escolarização das escolas públicas brasileiras. Nas cidades de Olinda Nova, Miranda do Norte, Vargem Grande e Balsas, o índice de alunos alfabetizados, no primeiro ano de ensino, varia entre 80% e 90%. Andrize Hentz,  professora da Escola Santo Estanislau, no Rio Grande do Sul, trabalhou com o método Alfa e Beto em 2012. “O programa é um pouco difícil para trabalhar em sala de aula no primeiro ano, porque é necessária maior imersão do professor ao estudo do método, mas é bom, pois oferece uma linha pedagógica certa, um caminho seguro”, explica Andrize. A docente relativizou a situação quando questionada sobre o teor racista. “Tudo depende de como você olha para o método”, sublinha.

Contraponto – Em contraposição, a educadora e uma das fundadoras do Instituto Steven Biko, Maria Durvalina Santos, afirma o comprometimento da autonomia do professor e da escola. “Uma coisa grave que o material propõe é essa história de achar que tem uma fórmula para alfabetizar todas as crianças. Embora os alunos tenham características muito semelhantes, sabemos que eles têm particularidades que devem ser respeitadas”, argumenta. Outro ponto questionado pela docente é o alto nível de alfabetização do programa. Segundo Maria Durvalina, esse sucesso pode ser questionável. Para ela, é necessário saber se as crianças alfabetizadas, além de lerem o texto, interpretam o que há por trás dele. “Há de se pensar qual o conceito que essas pessoas têm de uma criança alfabetizada. Eu partilho dos ideais de Paulo Freire, para o qual alfabetizar é, antes de mais nada, saber fazer leitura de mundo”, explica Durvalina.

 

Leia mais:

O bê-a-bá do Alfa e Beto

Direito de resposta do autor de “As bonecas de Fernanda”

Mas afinal, que tipo de alfabetização é essa?

 

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