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Entre a falta de apoio e o excesso de paixão

- 21/11/2011

Com altos e baixos, a dedicação dos membros leva as equipes de rugby e futebol americano da Bahia para a frente

Por José Marques


O rugby é o segundo esporte de equipes de maior popularidade no mundo. Criado a partir de uma variação do futebol de campo nas universidades inglesas, tem como maior competição a Copa do Mundo, realizada de quatro em quatro anos. Na Bahia, a profissionalização da modalidade ainda é uma realidade distante, embora não falte paixão entre os praticantes. Muitas vezes, a pouca estrutura leva os atletas a improvisarem com o material que dispõem. As traves em forma de “H”, por exemplo, nos jogos oficiais, são montadas com canos de PVC.

“Eu não ganho absolutamente nada para trabalhar aqui. Eu treino esses esportistas por amor”, diz o técnico da equipe masculina, Martin Ortega. Argentino, dono de um hotel em Salvador, Ortega afirma que falta patrocínio para bancar o clube. “Para viajar ao último Campeonato Nordestino, saímos daqui com cinco carros alugados, pagos por nós”, conta. O half scrum do time (jogador de centro), Vitor Brandão, o “Trator”, concorda. “Patrocínio é inexistente. Algumas pessoas dão uma ajuda de custo que é sempre bem-vinda, mas a maior parte vem dos nossos esforços mesmo. Do dinheiro que cada um dá e com o dinheiro da venda de camisas, venda de rifas, essas coisas que dão para tirar uma grana legal, de forma que a gente não precise tirar muito dinheiro do bolso”, explica.
As dificuldades, no entanto, não tiraram o título de tricampeão nordestino do Galícia (tetra, se contar a conquista de 2008, quando o time ainda se chamava Bahia Rugby Clube). A seletiva é disputada em uma variação do esporte chamada rugby seven, com sete titulares em cada time – o formato de jogo mais conhecido é o rugby union, praticado por 15 participantes em cada lado. O vencedor do Nordestão é classificado automaticamente para o Campeonato Brasileiro. Nos últimos anos, porém, o Galícia não participou da disputa. “Já jogamos a primeira divisão do brasileiro, mas por falta de apoio econômico não podemos continuar, porque estamos na Bahia e a primeira divisão é composta de times de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. E normalmente não conseguimos cumprir toda a tabela porque não conseguimos ir [aos jogos]”, lamenta Martin.

No outro lado da cidade, a equipe Salvador All Saints (cuja referência para o nome é a Baía de Todos os Santos), primeiro coletivo de futebol americano na capital baiana, se destaca por ser a única que joga em grama e com o equipamento completo. Os outros times amadores batem bola ao longo das praias da cidade.

Futebol americano – Variação do rugby criada nos Estados Unidos no século XIX, o futebol americano ainda engatinha em competições regionais. Até agora, não houve jogos oficiais do esporte no estado – por não haver dois competidores com a mesma estrutura – e o primeiro torneio disputado pelo All Saints foi a Taça Aracaju, em 2011. O time ficou em segundo lugar. “Atrás apenas do Recife Mariners, uma das equipes mais antigas e importantes do Nordeste”, exalta Aluísio Marques, o “Lui”, presidente do time. Ele conta que o grupo foi convidado a disputar a Liga do Nordeste de Futebol Americano (Linefa), mas não pôde ir “por falta de estrutura” que os apoiasse. Os jogadores se preparam, no entanto, para a primeira partida oficial do time na Bahia (que acontecerá logo que acharem um campo com as dimensões corretas disponível) e o torneio da Linefa de 2012.

Ao contrário do esporte que o originou, o futebol americano é praticado com ombreira e capacete. Deles, só a proteção da cabeça é fabricada no Brasil. O custo para ter todo o aparato sai em torno de R$ 600,00. “O novato recebe equipamentos emprestados para treinar no começo e, caso se identifique com o esporte, é orientado a comprar seu próprio equipamento”, explica Lui. O preço não impediu que 40 garotos, atualmente, treinem pelo All Saints.


Time em construção – O uso constante de força no rugby não foi motivo inibidor para a criação de uma equipe de mulheres. Treinam no time feminino do Galícia, no momento, 18 garotas, boa parte delas recém-ingressada no clube. “Cheguei aqui na semana passada. Tenho um amigo que é da África do Sul – lá o esporte é muito forte – que sempre dizia que eu tinha o físico de jogadora de rugby na defesa. Em fevereiro, eu estava em São Paulo com ele e fui assistir a uma partida de rugby do Corinthians. Aí eu gostei. Fui procurar na internet e vi que tinha um time aqui em Salvador”, relembra a comunicóloga Shade Andréia. Mas nem só de novatas é feito o quadro feminino do Galícia. Desde abril deste ano em sua segunda formação – composta por remanescentes do time anterior, desfeito em 2010, e de outros clubes extintos de Salvador –, a equipe já possui um grupo de seven formado. “Agora eu estou trabalhando para conseguir 20 meninas para tentar competir com 15 pessoas. Posteriormente, se der tudo certo, vamos pegar, das 20 meninas, as sete que estudam na UFBA para jogar o Campeonato de Sevens Universitário”, contou Jamile Achy, capitã da equipe.

Atualmente, existem ao menos quatro equipes masculinas de rugby (Galícia, FTC, UFBA e Fúria Titans Rugby) e três de futebol americano em Salvador (All Saints, Sotero Politans e Salvador Red Phoenix).

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