Tags:Copa de 2014, mobilidade urbana, planejamento urbano, Sistema Cicloviário de Salvador
Especialistas em trânsito discutem eficácia da Lev
- 13/07/2011Opiniões se dividem quanto a contribuição das bicicletas elétricas para a mobilidade urbana
Por Bruna Rocha e Josiane Guimarães
A chegada de uma loja de bicicletas elétricas em Salvador desperta o interesse de estudiosos em muitas áreas, principalmente de trânsito e meio ambiente. As opiniões se dividem entre os que acreditam que o projeto é uma alternativa promissora para a conservação do meio ambiente e para desafogar o trânsito na cidade, e os que acham que a novidade não vai alterar muita coisa, visto que o veículo motorizado não se encaixa na proposta de uma cultura cicloviária em grandes cidades.
O professor da Faculdade de Arquitetura da UFBA, Marcos Rodrigues, também pesquisador do Núcleo de Estudos em Mobilidade Urbana – NMob, manifesta um tom de desconfiança ao afirmar que “uma cultura voltada para a bicicleta não deve começar com o uso de motores, ainda que de baixa cilindrada”.
Para ele, o conforto e o formato de locomoção oferecido pela Lev tem pouco a ver com a proposta dos estudos sobre mobilidade urbana, que pretendem incentivar a mudança de hábitos de trânsito.
“Usar a bicicleta como transporte exige mudança de paradigma”, completa.
Já o arquiteto Thomas Kraack, também especialista em mobilidade urbana, apresenta uma visão mais animada com a novidade.
“Qualquer meio alternativo de transporte deve ser bem-vindo nas cidades e metrópoles modernas. A bicicleta elétrica de propriedade coletiva é um meio de transporte que deve ser integrado no sistema de transporte público das cidades grandes”, comenta.
Em contrapartida, Thomas problematiza o uso destes veículos alternativos em cidades como Salvador, onde não existe estrutura adequada para que circulem com segurança.
“A malha viária de Salvador não está prevendo um sistema efetivo de pistas para bicicletas e o uso nas ruas da cidade será difícil e perigoso com a falta de consciência dos motoristas baianos”, pondera.
As posturas imprudentes, recorrente nos motoristas de Salvador, são apontadas pelos dois especialistas como um forte agravante para a situação caótica do tráfego soteropolitano.
O pesquisador Marcos Rodrigues atribui os problemas de trânsito em Salvador e nas grandes cidades à “falta de planejamento urbano integrado, falta de transporte coletivo de massa que tenha qualidade, além da falta de civilidade e educação cidadã.”
A Copa das Confederações, em 2013 e a Copa do Mundo, em 2014, podem contribuir, segundo Thomas Kraack, para “a visão de uma cidade futura mais ecológica e moderna”.
Sistema Cicloviário
A Câmara de Salvador aprovou, em maio deste ano, projeto de lei, de autoria do vereador Gilmar Santiago (PT), que estabelece diretrizes para a criação do Sistema Cicloviário do Município de Salvador para incentivar e viabilizar o uso de bicicletas na cidade.
O sistema deverá ser constituído por ciclovias, ciclofaixas, faixas compartilhadas e rotas operacionais de ciclismo, além de locais específicos para estacionamentos como bicicletários e paraciclos.
Sobre essa questão, Thomas Kraack ressalva que, ainda que haja um projeto de implantação de ciclovias para o uso recreativo de bicicletas, é importante que seja disponibilizada uma malha efetiva para o ciclismo, que atenda também aos bairros mais distantes, promovendo a “integração social de jovens dos bairros populares”.
A preocupação em desenvolver projetos e ações que contribuam para a mobilidade urbana em Salvador é uma questão fundamental tratada pelo poder público também com vistas à realização da Copa do Mundo de 2014.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) está desenvolvendo o projeto “Cidade Bicicleta” para implantação de ciclovias entre Salvador e Lauro de Freitas, que venham a atender ponto importante da Copa de 2014, o ‘Green Goal’ FIFA, o objetivo verde da Copa do Mundo e das Olimpíadas 2016 no Brasil.
Com a implementação do projeto, Salvador pode ser a segunda da América Latina em extensão de faixa exclusiva a ciclovia. A proposta é estender de 15 Km para 217 Km. A ciclovia segue pontos da orla da capital, Avenida Paralela, Mussurunga/Lauro de Freitas, Cidade Baixa/ Calçada, Centro e entorno da Arena Fonte Nova.
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