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“Está faltando alface”, diz a geladeira
- 16/07/2013Dirigir, comer e até beber água são alguns hábitos que já são controlados pelos aplicativos. Especialistas dizem que a tendência é que os apps se espalhem ainda mais pela nossa vida
Renato Alban e Thais Borges
Você está no supermercado e recebe uma mensagem de sua geladeira com a lista de produtos que precisa comprar. Depois, vai para casa e, quando estaciona o carro na garagem, sua casa liga o aparelho de ar condicionado para lhe poupar do calor de Salvador. Mas, cerca de uma hora depois começa a chover e o próprio termostato trata de aumentar a temperatura.
A geladeira, a casa e o termostato não são objetos que ganham vida no mundo dos Jetsons ou nos planetas de Star Wars, mas criações de estudiosos e especialistas da Internet das Coisas. O conceito que teve origem no MIT Auto-ID Laboratory é visto como o futuro da computação e da comunicação. “Todo elemento eletrônico vai estar conectado na rede”, projeta o professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal da Bahia (DCC/UFBA) e especialista em computação social, Frederico Durão.
No grupo de pesquisa do qual Durão faz parte, professores da UFBA já desenvolveram um sistema para controlar o aparelho de ar-condicionado com o smartphone. “Hoje temos tudo na palma da mão, mas os aplicativos vão se proliferar por todas as coisas. A geladeira, a televisão e o carro vão trocar mensagens em rede”. Outros objetos que já saíram diretamente de desenhos animados da Hanna-Barbera ou da cabeça de George Lucas para o nosso mundo foram listados pelo blog The Next Web. “São objetos que leem as informações como nós”, explica Durão.
E se parece estranho imaginar um mundo onde objetos inanimados se comunicam e pautam nossas tarefas é só olhar para a palma da mão. Enquanto os “aplicativos das coisas” não tomam conta do mercado, os aplicativos móveis – ou apps – já fazem parte do dia-a-dia de quem tem um smartphone ou tablet. “As pessoas querem fazer a maior quantidade de tarefas ao mesmo tempo e, se conseguirem aplicativos que ajudem, vão usá-los”.
Hoje temos tudo na palma da mão, mas os aplicativos vão se proliferar por todas as coisas. A geladeira, a televisão e o carro vão trocar mensagens em rede, diz o professor da UFBA Frederico Durão
Hábitos controlados – Dirigir, comer e até beber água são alguns dos hábitos que já sofrem interferência dos softwares desenvolvidos para smartphones e tablets. “Estamos verificando atualmente no Brasil o poder do uso de tais aplicativos em rede. Milhares de pessoas têm se organizado em protestos por causa de tais aplicativos. Estamos de fato vendo a criação de novos hábitos sociais e individuais”, diz o professor do DCC/UFBA e membro pesquisador do Laboratório de Sistemas Distribuídos (LaSiD), George Lima.
Para o editor-chefe do site MacMagazine.com.br, Rafael Fischmann, os aplicativos desse futuro devem ser mais interconectados, além de automaticamente adaptados à localização dos usuários, bem como às suas atividades rotineiras. “Não citaria apps específicos que farão sucesso, mas grupos de apps que tornarão a vida das pessoas mais otimizada e descomplicada. Sempre há um app para qualquer coisa que a pessoa imaginar, mas também há o lado negativo: como encontrar exatamente o que você procura e como decidir entre as várias opções disponíveis?”, comenta.
E, de fato, são muitas opções. De acordo com pesquisa da Asymco, consultoria americana especializada em analisar o mercado e a indústria de celulares (incluindo smartphones), até maio, foram instalados 100 bilhões de aplicativos em sistemas iOS e Android, desde julho de 2008, quando a Apple Store foi lançada. Apenas entre maio de 2012 e o mesmo mês deste ano, o número de aplicativos baixados no mundo dobrou.
Ainda segundo a consultoria, a média de softwares instalados em cada gadget com o sistema da Apple é de 83. Enquanto isso, cada usuário de Android faz, em média, 53 downloads de aplicativos para cada dispositivo eletrônico. É claro que, como uma média, esses números não refletem a realidade dos viciados em apps. A assistente social Sandra Matos, 45 anos, por exemplo, coleciona mais de 250 aplicativos. “Quase sempre os aplicativos organizam minha vida. Além de alguns jogos e outros como Instagram, Tempo e Google Latitude, uso também no trânsito e para ter dicas de como ter uma alimentação saudável”.
É pensando em pessoas como Sandra que programadores têm investido no mercado dos apps, que é disputado por desenvolvedores individuais até grandes empresas que chegam a cobrar R$ 1 milhão pela produção de um software. “Este mercado, sob o ponto de vista do programador, é o mais democrático para a área de TI (Tecnologia da Informação). Qualquer um pode criar seu aplicativo e colocá-lo no mercado com muito pouco esforço”, diz o professor George Lima.
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