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Exercícios físicos em lugares impróprios podem trazer riscos à saúde

Larissa Silva e Sara Lima - 22/11/2017

A falta de acompanhamento profissional, aparelhos em condições precárias, espaços poluídos e sem manutenção adequada podem oferecer riscos para os praticantes de exercícios físicos na rua

Corrida, natação, caminhada, surf, ciclismo…Estar em movimento é fundamental para manter uma vida saudável. Em quatro anos e meio foram construídas, em Salvador, 225 praças que servem como espaço para realização de atividades físicas. Mas, é preciso estar atento aos possíveis riscos que essas práticas em locais públicos podem oferecer. As condições em que se encontram os ambientes, o estado dos aparelhos disponíveis para a população e o grau de poluição nos locais onde estão instalados são alguns dos pontos a serem considerados.

A inatividade física é o quarto principal fator de risco de morte no mundo, segundo dados de 2014 da Organização Mundial de Saúde (OMS). A organização recomenda a prática de atividade física para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis, que vão desde hipertensão e diabetes ao câncer. Para além disso, também traz outros benefícios, como a melhora do condicionamento muscular e cardiorrespiratório sendo também uma aliada no combate ao sedentarismo. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Ministério da Saúde em 2013, mostraram que a cada dois adultos, um não pratica o nível de atividade física recomendado pela OMS.

Fonte: Folha Informativa Nº 384 – OMS (Design: Larissa Silva)

Os espaços públicos de prática de atividades físicas podem ser uma alternativa para manter-se em movimento sem gastar dinheiro e ao ar livre. As mensalidades em academia custam, em média, R$ 100, o que acaba sendo um fator decisivo na hora de escolher onde se exercitar. Claudia Santana, 42 anos, faz caminhadas há dois meses no Dique do Tororó, um dos grandes cartões postais de Salvador. Desempregada, ela percebeu que poderia praticar atividades sem gastar nada, mas sente-se insegura no lugar. “Não trago nada justamente para evitar [assaltos]”, confidencia ela.

Não é o caso de Maria das Graças, 67, que há 5 anos frequenta o local e afirma nunca ter presenciado alguma situação de insegurança. A idosa, que anda com o auxílio de muletas por possuir problemas de locomoção, escolheu essa região para se exercitar porque é plana e espaçosa, apesar de apontar problemas na estrutura da calçada. Mas, uma situação incomum quase  impediu Cláudia e Maria das Graças de continuarem se exercitando no lugar. Há dois meses, o Dique começou a exalar mau cheiro, deixando todos que passavam por ali incomodados. “Estava insuportável. Se não melhorasse, eu não vinha mais”, queixa-se Maria.

O diretor de águas do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Eduardo Topázio, em entrevista ao G1, explica que o odor foi causado pela decomposição de microalgas por falta de oxigênio na água. No dia 19 de outubro, uma empresa terceirizada contratada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) iniciou a limpeza de algas do local. Sobre o andamento do reparo, o ID 126 não obteve resposta da Conder.  

Mau cheiro, poeira e gás carbônico

Mau cheiro ocasionado pela decomposição de microalgas afastava os praticantes de atividades físicas do Dique do Tororó  (Foto: Sara Lima)

Dulce Dantas, 61, que já perdeu as contas de quando começou a praticar caminhadas ao redor do Dique, procurou alternativas para continuar se exercitando no lugar. “Eu costumava colocar perfume em uma toalhinha para ficar cheirando”, relembra do período de mau cheiro intenso. Já Nilda Vieira, que preferiu não revelar a idade, reclama que o odor, apesar de ter diminuído, ainda a incomoda. “Por causa disso, estou até evitando vir”, desabafa.

Exercitar-se em ambientes mau cheirosos pode ser desagradável, mas não acarreta riscos à saúde, diferente de estar exposto diretamente a gases poluentes. O profissional de educação física, Francisco Pitanga, recomenda que sejam evitadas áreas onde a concentração de poluição do ar é grande. “Durante o exercício você aumenta a frequência de respiração e captar mais gases poluentes pode trazer infecções respiratórias”, explica o especialista.

Em parceria com a Fiocruz, Pitanga fez medições que mostraram que o grau de poluição do ar no Dique pode variar. Por exemplo, no mesmo passeio, o ar pode apresentar níveis diferentes. Na região próxima ao asfalto, o nível é altíssimo, diminuindo a medida em que se aproxima dos locais arborizados. Assim, ele destaca que correr mais perto das árvores é mais saudável.

“Não temos instalações esportivas a altura do que significa atender uma população de aproximadamente 3 milhões de habitantes, na terceira maior capital do Brasil”, diz a educadora física Celi Taffarel

Em meio ao movimentado trânsito do Ogunjá, não é incomum ver pessoas caminhando e utilizando os aparelhos disponíveis para exercícios no canteiro central. Se no Dique a melhor solução é caminhar perto das árvores, no Ogunjá a situação fica mais trabalhosa. Isso porque a praça é rodeada por asfalto e o fluxo de carros é intenso em ambos os lados. O alto teor de fumaça proveniente dos veículos que trafegam na região deixa os frequentadores expostos diretamente à poluição. “Ainda tem a poeira”, acrescenta a dona de casa, Hosana Santos.

Segundo a pneumologista Rosana Franco, a prática de atividades aumenta a quantidade de vezes em que o praticante respira fazendo os poluentes atingirem em maior quantidade e mais rapidamente o pulmão. Isso pode ser ainda mais perigoso para os fumantes, alérgicos e pessoas com enfisema porque estão propensas a maior absorção de dióxido de carbono graças a sensibilidade nas vias respiratórias.

Rosana orienta as pessoas a se exercitarem antes ou depois dos horários de pico, evitando os momentos com maior tráfego de veículos nos quais há maiores emissões de gases. “A absorção desses poluentes pode exacerbar doenças alérgicas e doenças respiratórias como bronquite e enfisema, além de causar inflamação das vias respiratórias, aumentando a predisposição a infecções respiratórias”, alerta a profissional.

Porém, a grande preocupação dos praticantes é a insegurança em relação aos carros. Anatalícia Santos, 48,  reclama da falta de proteção ao redor do canteiro. “Eu sei que não vai adiantar muita coisa, mas poderia diminuir o impacto em caso de acidente”, sugere. Nesse dia, quatro carros se envolveram em um acidente próximo ao local onde ela se exercita.

Aparelhos degradados

Aparelhos da praça da Bíblia, na região do Ogunjá, já apresentam problemas de manutenção, mesmo após reforma em 2016 (Foto: Sara Lima)

A situação dos aparelhos disponíveis nesses espaços públicos é outro aspecto que exige atenção para que as atividades não ofereçam risco aos praticantes. A professora de Educação Física Celi Taffarel aconselha observar as condições dos aparelhos e seguir as orientações de uso dos equipamentos, garantindo assim a segurança dos usuários. Além disso, ela defende o investimento na educação física e conhecimento do corpo para práticas seguras. “Pessoas que passaram por boas aulas de educação física na escola e que tem noções básicas sobre treino corporal podem se exercitar sem acompanhamento de um profissional”, garante.

Para Pitanga, as atividades realizadas nos aparelhos disponíveis em praças públicas não precisam do acompanhamento de um educador. “É polêmico, mas, para aquele tipo de equipamento específico, não vejo necessidade de ter um profissional porque os exercícios que você faz dificilmente provocarão lesões”, assegura o educador.  

Esses equipamentos permitem a realização de atividades físicas, consideradas qualquer movimento corporal que resulte em gasto energético maior que os níveis de repouso. Quando realizadas de forma sistematizada, estruturada e repetitiva, elas passam a ser consideradas exercícios físicos. Nestes casos mais complexos, como na musculação, o especialista ressalta a importância de um profissional durante a prática.

Praias impróprias

Cassiane Pacheco, 35, exercita-se em vários locais da cidade. Segundo ela, a academia pesa muito no orçamento e por isso ela prefere os ambientes públicos. “Um dia eu vou para o Dique, outro para o Ogunjá, mas prefiro a praia. Eu gosto do ambiente, do ar livre, a gente sempre conhece pessoas diferentes”, descreve a administradora.

Ouvir o mar enquanto se exercita, ou mergulhar nas águas da Baía de Todos os Santos pode ser um prazer, além de servir como atividade física. A vista atraente e o vento refrescante podem servir como atrativos para os praticantes mas também possui riscos. É preciso levar em conta se as praias da cidade estão próprias para o banho.

O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) é responsável por avaliar a qualidade das águas destinadas à recreação. O balanço dos locais impróprios para banho é feito com base na análise da densidade de bactérias presentes em amostras coletadas semanalmente, sempre pela manhã, nos lugares onde há maior concentração de banhistas. São acompanhados 121 pontos distribuídos em toda a costa baiana. Os resultados são atualizados e divulgados toda semana por meio do Boletim de Balneabilidade.

O médico Heitor Medeiros alerta que entrar em contato com a água poluída pode ser um meio de contrair doenças. “Rotavírus, hepatite A, verminoses e doenças de pele são alguns exemplos”, enumera.

Fonte: Balanço de Balneabilidade do Inema  (Design: Sara Lima)

Vinícius Barbosa, 20, pratica surf há cerca de quatro anos. Ele conta nunca ter se preocupado em verificar se a praia escolhida para o esporte estava na lista das contaminadas. “Vejo muita gente indo e nenhuma notícia sobre algo sério que aconteceu à essas pessoas”, comenta.  

No entanto, ano passado, o estudante, após ter saído da praia, apresentou coceira e precisou ir à emergência. Vinicius tomou remédios durante 3 meses para tratar o problema, ainda assim, não deixou de frequentar as praias. Ele surfa nas praias do Farol da Barra e Armação, que desde julho aparecem nos balanços do Inema.

Escute aqui o relato completo

 

Políticas públicas

Segundo nota da Secretaria de Manutenção, só neste ano, uma média de R$27 mil por mês foram gastos na reforma de locais abertos para a prática de exercícios. Pitanga, que além de educador físico é doutor em Saúde Coletiva, chama atenção para a fragilidade das iniciativas. “O simples fato de ter equipamentos disponíveis não é política pública”, critica.   

Celi também não acredita que Salvador possui políticas públicas de promoção de atividade física porque essa não é a prioridade do governo municipal. “Não temos instalações esportivas a altura do que significa atender uma população de aproximadamente 3 milhões de habitantes, na terceira maior capital do Brasil”, recrimina.

Pitanga aponta que o poder público deve apostar em ações de incentivo duradouras. “É muito mais barato você investir numa política pública de promoção de atividade física e evitar que as pessoas fiquem doentes, do que deixar para investir quando elas já têm o problema e os custos com medicamentos, internamentos, cirurgias e hospitais serão muito mais significativos”, analisa.

 

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