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Fé, proteção e cura a distância

- 20/02/2014

Histórias de quem não tem preconceito com a tecnologia quando o assunto é rezar

Texto: Alles Alves, Júlia Belas e Luana Amaral
Imagens: Taylla de Paula

A rezadeira Judite Veloso Gama já é bastante conhecida por conta do seu ofício. Moradora do bairro do Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, dona Judite alterna suas rezas entre vizinhos, turistas e antigos conhecidos que moram longe. “Aprendi com sete anos de idade, tive uma vó parteira que me ensinou tudo o que eu sei”, conta a rezadeira após atender uma das suas mais fiéis clientes, Rafaela da Silva Magalhães, 23, que visita dona Judite praticamente todos os dias, em busca de “esperança e positividade”.

No entanto, existe uma coisa um tanto peculiar neste trabalho. Por ter muitos clientes que moram em outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Macapá, e até em outros países, como a Suíça, dona Judite estabeleceu um novo método para cuidar deles: ela reza por telefone. E garante que, se a pessoa tem fé, funciona. O propósito da reza a distância – testada pela reportagem – é o mesmo de quem está presente no local: tira principalmente maus-olhados e “joga na encruzilhada e no fundo do mar, onde não canta galo nem galinha”, diz a prece. Segundo ela, é bom ter a pessoa por perto, mas, quando não é possível, a reza por telefone – pedido que ela recebe entre 10 e 15 vezes por dia – também é válida.

Católica, a rezadeira pede ajuda a Deus, aos santos e também aos orixás – Rafaela diz que a fé em Deus é o principal foco, mas todo auxílio é válido na hora da proteção. “Fé primeiramente em Deus, mas, se o que está abaixo existe, também pode ajudar”, explica. Dona Judite, claro, também tem que se proteger – por isso, ela é sempre rezada pela sua mãe de santo. Ela garante que a reza é procurada independente da religião de cada um, “até os crentes, que quando vêm, pedem para fechar a janela porque têm vergonha de ser vistos”. “Tem que ter fé que funciona”, afirma.

O Padre Manoel Filho se mantém conectado com os fiéis pelo WhatsApp

Ave Maria no Whatsapp – O padre Manoel Filho, da Pastoral de Comunicação da Arquidiocese, segue essa linha de pensamento. “As pessoas podem rezar das mais variadas formas, não é que a Igreja queira ter um domínio sobre a forma de manifestação da fé das pessoas. Para a Igreja, a fé se manifesta sobretudo no encontro dos irmãos e no encontro com Deus”, comentou. O padre defende que, independente do meio que se use, o que realmente importa é o objetivo de cada indivíduo. “A gente tem uma compreensão de que existe um novo locus, que é o mundo digital, mas na verdade, mais do que a forma, a gente tem que compreender a intenção.”

Telas do celular do padre capturadas durante uma oração em grupo, pelo aplicativo Whatsapp

Para o padre, qualquer forma de oração é válida. “Eu mesmo faço parte de um grupo no Whatsapp [aplicativo de mensagens para celulares] que, todo dia às 18h, alguém puxa ‘Ave Maria, cheia de graça’ e a gente reza. Cada um escreve uma parte da Ave Maria, porque 18h é a hora do Angelus e nós rezamos juntos. É uma forma de rezar. As formas são as mais variadas possíveis, mas lógico que isso não exclui a necessidade de se encontrar num templo, numa igreja, num grupo de oração para rezar junto. Muito pelo contrário, nunca o virtual vai substituir, em intensidade, o real”, conclui.

A professora Ariane Alves e seu marido Jair Bianchi compartilham a ideia do padre de que qualquer forma de oração é válida. Católicos, eles não se apegam apenas a orações dessa religião quando a intenção é se proteger espiritualmente. “Não importa se a oração é feita com todos no mesmo local, ou em locais diferentes, o que importa é ter fé para que funcione”, diz Ariane, que herdou o costume da mãe de colocar água para benzer ouvindo as orações do rádio ou da televisão e que às vezes acende uma vela virtual no site do Pe. Marcelo Rossi em busca de proteção espiritual, iluminação e sabedoria.

Passe Virtual – Pensando em pessoas que não têm acesso aos centros espíritas, mas compartilham da crença na doutrina, o instituto André Luiz criou o passe virtual em 2011. Segundo Lori Santos, uma das fundadoras e coordenadora geral do centro, a ideia surgiu a partir de uma pressão do plano espiritual. “Os espíritos, se comunicando em clarividência, rogaram que colocássemos o passe online”, explica. A prática à distância consiste basicamente na transmissão de fluidos magnéticos positivos por meio dos espíritos.

Muitos estudiosos da doutrina não concordaram com o passe virtual, por acreditar na descaracterização da prática, que nos centros ocorre através da presença física do passista. Mas a aceitação dos internautas foi imediata. No primeiro mês a após a implantação, o site recebeu 200 mil novos visitantes. A frequência diária era de aproximadamente 800 acessos por dia, hoje são mais de oito mil.

Segundo Lori, utilizar a internet proporcionou um maior alcance do poder benéfico do passe a espíritas, não espíritas e pessoas que nunca pisaram em um centro – e, por isso, o objetivo de confortar, levar paz e otimismo foi alcançado. “Precisamos caminhar de acordo com a nossa época, trabalhar a favor da modernidade. Se a pessoa não pode ir a um centro espírita, por que não levar o centro a ela?”

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