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Gastronomia soteropolitana investe em opções para vegetarianos

- 02/08/2017

Hamburguerias e restaurantes para vegetarianos e veganos tentam atrair público com pratos exclusivos. Distribuição dos estabelecimentos na cidade ainda é restrita

Marina Fraga Maia e Paloma Rigaud

Hambúrguer vegetariano do B-Vegan, restaurante localizado na Barra (Foto: Marina Fraga Maia)

É normal que, de tempos em tempos, haja um “boom” de algum tipo de restaurante em Salvador. Há uma década, foi a vez das temakerias. Hoje, a comida do momento são os hambúrgueres. A maneira mais fácil de perceber isso é dando uma volta na Pituba: Bravo, Red Burger N Bar, Muu Hamburgueria, Cozinha dos Fundos e Cazolla Gastrô.Burguer.Beer. são apenas algumas das opções disponíveis. Com o aumento da concorrência, a variedade no cardápio é uma obrigação destes estabelecimentos. Esse é o caso de uma das mais novas hamburguerias artesanais de Salvador, a à burguer, que antes mesmo de sair do papel já possuía uma opção vegetariana no cardápio.

De acordo com o fundador da hamburgueria, Rodrigo Dias, o espaço foi inspirado nos restaurantes dos Estados Unidos, onde cada cliente tinha uma experiência inesquecível, e os vegetarianos não poderiam ficar de fora. “Quando criamos a hamburgueria já queríamos ter um hambúrguer vegetariano, justamente para poder proporcionar essa experiência para todos. Porém, precisamos estudar para criar um hambúrguer que realmente se diferencie e traga a qualidade que esperamos. Por isso, o vegetariano só foi lançado esse mês [julho de 2017], no dia 12”, explica.

(Design: Marina Fraga Maia)

Segundo uma pesquisa do Ibope, realizada em 2012, 8% da população brasileira se declara vegetariana. Isto corresponde a 16 milhões de vegetarianos no país. Em setembro de 2015, o Burger King, rede de fast-food mundialmente conhecida, lançou no Brasil um hambúrguer vegetariano. O sanduíche se diferencia das outras opções da rede por ser feito com um empanado à base de batata, shimeji, shitake e recheio de queijo derretido. É montado em pão integral, e contém ainda maionese, queijo em fatia, alface, tomate e cebola. “O primeiro hambúrguer vegetariano que eu comi foi o do BK, e na época foi a coisa mais incrível para mim”, explica Priscilla Borges, vegetariana há quase 2 anos e criadora do perfil no Instagram O Que Eu Vou Comer, voltado para pessoas vegetarianas e veganas em fase de transição.

Mas, mesmo com a demanda por esse tipo de comida, nem todas as hamburguerias e restaurantes possuem opções vegetarianas. “Não é que você não ache o que comer, mas nunca é adequado. Às vezes é um acompanhamento (como batatas fritas) ou uma sobremesa (que não é vegetariana/vegana), mas dificilmente existe um prato decente”, afirma Caroline Maldonado, vegetariana há 2 anos. Por ser difícil encontrar locais que possuam essas opções, páginas e perfis voltados para a população vegetariana foram criados no Facebook, Instagram e Whatsapp.

Esse é o caso de grupos como “Veganos em Salvador”, “Ogros Veganos”, “Musculação Vegana”, entre outros. Nestes espaços, é possível encontrar indicações de restaurantes e novos lugares com opções para esse público. “Em relação a restaurante vegetariano eu só conheço um, o Rango Vegan no Pelourinho. Descobri ele através de um grupo no Facebook chamado “Veganos em Salvador”, relata Priscilla.

Só para eles

Assim como as hamburguerias, a quantidade de restaurantes e deliveries voltados para vegetarianos e veganos também tem crescido, mesmo que aos poucos. Alguns deles são o B-Vegan, a Divegana, o Brisa Restaurante Natural e a Mariana Verde. Esse último é um delivery criado em 2010, por Ana Maria Santos, arte culinarista. “Eu sou vegetariana há 43 anos e resolvi criar uma empresa que pudesse levar a alimentação vegetariana para as pessoas, oferecendo a comodidade de receber em suas casas ou em seu escritório com um preço acessível”, declara.

Para ela, a única dificuldade em manter uma empresa vegetariana é a mesma de todas as outras empresas brasileiras atualmente, a crise econômica no país. “A nossa dificuldade vem quando as vendas caem por causa da crise econômica. Amamos o que fazemos e a cada dificuldade procuramos uma solução criativa para inovarmos e continuarmos resilientes. É um negócio que exige amor, que por sinal, é o tempero que escolhemos colocar em nossos pratos”, conclui. O Mariana Verde se mantém aberto, e funcionando regularmente em Brotas, de segunda à sexta-feira.

(Design: Marina Fraga Maia)

A quantidade de opções também é um fator importante e mal explorado em Salvador. “Deveriam existir mais opções de restaurantes vegetarianos em Salvador, pois existe  um público e uma demanda crescente e pouco mercado. Precisamos ter opções mais saudáveis e conscientes”, aponta Érica Kolbe, ovolactovegetariana há 3 anos. Ela também ressaltou como a falta de variedade faz as pessoas terem vontade de desistir.

Esse foi o caso de Rodrigo Leal, que foi vegetariano por 5 anos, até 2015. “Estava cansado de sair de casa e não comer nada. Aí eu ia fazer uma viagem de sete dias com a faculdade e analisei as possibilidades: levar comida de casa e voltar para casa 3 quilos mais magro ou voltar a comer carne. A última opção ganhou”, explica.

Priscilla também passou por situações complicadas depois que se tornou vegetariana. “Sair com a família para comer se tornou um problema enorme, justamente pela dificuldade de encontrar em restaurantes comuns opções vegetarianas. Salvador ainda é muito carente de opções. Fui para o Rio de Janeiro ano passado, e em todos os lugares eu tinha várias opções super diferentes.”, lembra.

Para Amanda Ferreira, vegetariana há 3 anos, o problema não é só a falta de variedade, mas o preço dessas opções. Além de poucas, elas não são sempre acessíveis. “Os restaurantes que oferecem alguma opção vegetariana,  colocam o preço delas, na maioria das vezes, mais caro. Queria poder encontrar uma barraquinha de comida vegetariana em cada esquina, como a gente já encontra de outros tipos de comida”, conta.

A localização acaba sendo outro fator importante, “Apesar de terem aumentado bastante as opções nos últimos 4 anos, ainda há bairros sem opções vegetariana, o que faz com que tenhamos que nos deslocar muito para comer bem ou que acabemos não comendo como deveríamos”, diz Tainá Sampaio, vegetariana há 4 anos.

Para ajudar outros vegetarianos e veganos, Érica começou a atualizar uma lista de restaurantes com opções vegetarianas em Salvador, criada pela nutricionista Laís Martins. Para ter acesso à lista, clique aqui.

As dificuldades do dia-a-dia

Não é só na hora de comer fora de casa que a dificuldade aparece. Mesmo ao escolher alimentos no mercado, como congelados e semiprontos, não é fácil encontrar uma opção adequada. “Um dos meus grandes problemas é esse. Meus pais costumam comprar em mercados comuns, que não tem muita opção pra mim”, revela Tainá.

Cardápio do restaurante B-Vegan, na Barra (Foto: Marina Fraga Maia)

Para Gabriela Carvalho, vegetariana há 2 anos, o preço desses alimentos acaba atrapalhando também. “Não existe tanta variedade de alimentos de preparo rápido, como congelados. E quando há opções, os preços costumam ser altos”, afirma. E não é só ela que nota essa variação. “Se você precisa de algo pronto (como congelados), é quase impossível. Quando existe, é caro e normalmente sem graça”, explica Carolina.

Para resolver esse problema, é necessário ir em outros bairros, ou procurar mercados menores e mais específicos. “Para encontrar realmente o que eu quero, gosto e preciso, é necessário ir para bairros um pouco mais distantes do meu”, relata Amanda. É o mesmo que acontece com Priscilla, “Em mercados tradicionais você só vai encontrar o básico (quinoa, lentilha, grão de bico), mas para encontrar produtos mais específicos, (tofu, queijos veganos, iogurtes, leites vegetais, comida pronta) é importante procurar mercados menores”, informa.

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