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Grafite no Solar do Unhão
- 14/08/2013Museu de street art de Salvador completa um ano em comunidade do Solar do Unhão
Fernanda Sobral
Quem frequenta o Museu de Arte Moderna (MAM), na Av. Contorno, provavelmente já reparou nas casinhas à beira-mar que compõem a paisagem do local. São aquelas casas que formam a comunidade do Solar do Unhão. Lá, está instalado um museu a céu aberto que reúne esculturas, fotografias e grafites. Idealizado pelos grafiteiros Marcos Prisk, Júlio Costa e Jocivaldo “Bigod” Silva, criadores e integrantes do coletivo de grafite Nova 10 Ordem, e pela designer de moda Thais Muniz, o Museu de Street Artde Salvador (MUSAS) completou um ano neste mês.
A ideia inicial do projeto surgiu em janeiro de 2012, quando o coletivo Nova 10 Ordem resolveu fazer uma pintura na comunidade em homenagem à “Revolta dos Malês”. “Quando chegamos lá ficamos encantados. A arquitetura era muito bonita, mas estava tudo meio estragado”, conta Júlio Costa. Com as idas constantes à comunidade, os artistas pediram autorização aos moradores para pintar algumas vielas e muros. Estava feita a primeira ação de integração criativa do coletivo. Uma coisa levou a outra e então acabaram alugando uma casa na região. No início, o local servia como apenas como espaço para fazer refeições e guardar materiais, mas logo se transformou em um espaço para exposições. “A gente queria criar um espaço que pudesse servir para artistas que não têm a chance de levar seu trabalho a uma galeria paga”, afirma Marcos Prisk.
O grafite e a comunidade – Quando o MUSAS foi inaugurado, não estava entre os objetivos ajudar a comunidade. “A gente veio pela vista maravilhosa da Baía de Todos os Santos e pelo preço do aluguel. Em momento algum a ideia foi dizer que estamos fazendo o bem através do grafite”, garante Julio. Porém o grafiteiro reconhece que mesmo “sem querer”, através de visitas, interesse da mídia e divulgação via redes sociais, o MUSAS acabou gerando benefícios para a comunidade. “Acho que acabamos contribuindo na quebra do paradigma de que a comunidade Solar do Unhão não é um lugar para socializar. Queremos que aqui seja um lugar que as pessoas queiram visitar e possam expressar sua criatividade com liberdade”.
Se quando surgiu não era objetivo do MUSAS ser um projeto de assistência social, hoje a história é diferente. Além de servir como espaço para exposições, o museu também promove oficinas gratuitas de serigrafia, fotografia e grafite, além de sessões gratuitas de cinema para a comunidade toda quarta-feira. “O MUSAS é um projeto de integração e é importante estimular o interesse da população local pela arte”, explica Marcos Prisk. Além das oficinas, o coletivo também promove projetos como o “Cegonha DEZordeira” e o “Papai Noel DEZordeiro”, que arrecadam dinheiro através da venda de obras de arte para contribuir com presentes de chás de bebê e festas de natal, respectivamente, em bairros da periferia.
Moqueca que alimenta a autoestima – A realização constante de eventos no museu e o vai-e-vem de artistas provocou o crescimento da economia local. Um dos exemplos é o famoso restaurante de Suzana Sapucaia, que ficou inativo durante algum tempo. “Eu fechei o restaurante porque não tinha movimento, aí não valia a pena. Depois que os meninos chegaram, toda semana vem 15, 20 pessoas para almoçar”. Hoje o restaurante é point aos sábados, quando serve moqueca de peixe. Além da moqueca tradicional, o restaurante também oferece soja com dendê, opção vegan para aqueles que não comem carne. Dona Suzana espera que daqui pra frente seu restaurante cresça ainda mais. “O aumento do movimento melhorou minha renda e eu espero, se Deus quiser, poder abrir aqui meu restaurante de comida baiana”.
Maurício Galvão, idealizador do Salvador Meu Amor, campanha que reúne diversos grupos e coletivos, entre eles o MUSAS, acredita que o museu está transformando a comunidade do Solar do Unhão na primeira “favela visitável” de Salvador. “Um projeto como o MUSAS resgata a autoestima de um local da cidade que antes não recebia tanta atenção e mostra que a comunidade pode oferecer muito mais que violência ou problema com drogas”, afirma Maurício. Dona Maria da Costa, moradora do Solar do Unhão há 20 anos, aprova o projeto. “Antes era tudo feio. Nossas casas estavam com os muros largados e sem pintura. Os meninos estão deixando nossa comunidade muito mais bonita e agora todo tipo de gente aparece aqui para nos visitar”, conta.
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