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Jovens são recrutadas como ‘isca’ em casas de show
- 29/03/2017Texto: João Bertonie, Hilza Cordeiro e Mallu Silva | Fotos: Internet livre
A beleza costuma atrair atenção e gerar vantagens para quem a possui. Sabendo disso e aproveitando-se do charme feminino, algumas boates soteropolitanas criaram clubes de benefícios para suas associadas. É um sistema de troca em que as garotas divulgam as festas promovidas nesses espaços e, com isso, têm direito não só a entrar gratuitamente nos eventos, como também descontos em rede de parceiros, como salões, casas de estética, academias, restaurantes e lojas. “O que você precisa fazer é somente divulgação”, informa uma recrutadora.
Selecionadas para “agregar valor” a esta rede de parceiros, as belas podem ser recrutadas a convite de olheiras, por indicação de amigas ou de forma espontânea, quando se oferecem para passar pela seleção. “Fui a uma festa e gostaram de mim. Pediram meu WhatsApp e meu Instagram, olharam as fotos e me colocaram no grupo”, revela a estudante Stephanie Brunet*, 22.
Um dos maiores clubes de benefícios da cidade possui cerca de 800 associadas, cuja única obrigação formal é divulgar as festas em suas contas no Instagram, rede social voltada ao compartilhamento de imagens. “Nenhuma das minhas colegas tem menos de mil seguidores”, conta Arlete Queiroz, 24, integrante do clube há quase dois anos. Veterana, ela coleciona 2,5 mil seguidores no Instagram e frequenta as festas da casa noturna a qual o clube é vinculado desde os 18 anos.
Arlete aproveita que faz parte do grupo para entrar nos eventos e beber gratuitamente. “Só estou lá pela bebida”, brinca.
Por conta da concorrência do mercado, os administradores das baladas costumam pedir exclusividade. Ao entrar no grupo, as meninas assinam um contrato cedendo todo o direito sobre suas imagens, e precisam cumprir certas obrigações. Se uma jovem faz parte de um clube, não pode fazer divulgação de festas realizadas por outro grupo. Em casos assim, a associada é expulsa.
O mesmo acontece se a garota deixar de divulgar as festas durante um certo tempo. “Vejo como uma troca”, afirma Larissa Massafera, 22. Ela faz questão de salientar que ser parte do clube não é um emprego, com remuneração. Em troca da divulgação e da presença nas festas, as meninas ganham descontos em estabelecimentos, “mimos” e entrada em um lounge exclusivo para as associadas.
Estratégia
O lounge fica em um lugar estratégico da casa noturna, bem em frente à picape do DJ. As jovens não são obrigadas a ficar por lá, mas é indicado pelas coordenadoras do clube que elas estejam no lounge por pelo menos alguns minutos durante a noite.
“Às vezes, os homens nos chamam de longe, e quando a gente chega perto porque se interessou, eles perguntam quanto é o programa”, relata Arlete. Ela explica que a presença das garotas no lounge é muitas vezes associada à prostituição. Larissa conta que realmente existem meninas que se prostituem através dos clubes, mas acredita que elas não façam parte da maioria.
“Para os empresários, mulher atrai homens. É como um objeto”, opina Giovanna Moreira, 22, ex-participante deste mesmo clube. A estudante de jornalismo foi membro do grupo em 2015, mas não chegou a permanecer nele por mais de dois meses. Segundo ela, uma das orientações recebidas era que as garotas deveriam fazer com que os homens consumissem o máximo possível, principalmente com a compra de combos de bebidas.
Em uma ocasião, conta, um homem que sabia da sua associação perguntou se ela fazia o serviço completo. Queria saber se ela era acompanhante de luxo. Giovanna lembra que a proposta era que ganhasse até R$ 2 mil por encontro com clientes. “Soube de meninas que compraram apartamentos e carros com isso”, relata, justificando a razão de sua saída.
Durante o período em que fez parte outras coisas incomodavam Giovanna. Na época, ela era responsável por oferecer a inclusão de pessoas numa lista que barateava o acesso de um certo perfil de mulheres nas festas. “Eram mulheres bonitas, de cabelão longo, com cara de classe alta, de preferência loiras”, define. A estudante explica que enquanto estas meninas entravam pagando um valor de R$ 10, ou até mesmo de graça, os homens tinham que desembolsar cerca de R$ 70. “Não achava certo fazer essa discriminação”, defende.
Ao ser convidada para fazer parte do clube, Arlete relembra exatamente o que sua mãe falou. “Não existe nada de graça”, conta, com um sorriso. Preocupada com a imagem que poderia passar da boate a qual o clube é associado, ela pede para não ser fotografada. Lembra que assinou um contrato sobre sua imagem e não quer correr nenhum risco. Apesar disso, defende seu interesse nos benefícios do clube e lança uma pergunta retórica: “Que mulher não gosta de receber um agrado?”.
A reportagem tentou entrar em contato com uma das casas noturnas que fornecem o serviço de clubes de benefícios, mas não obteve retorno.
*Os nomes reais foram substituídos a pedido das meninas entrevistadas